Moção E critica "política cansada" do partido e proximidade ao PS

por Lusa

Contra uma política do BE que "está cansada" e para acabar com uma "excessiva proximidade ao PS", a moção E apresenta-se à Convenção Nacional, antecipando que a direção vai "deixar de ser monolítica" ao mudar a correlação de forças.

Em entrevista à agência Lusa, Ana Sofia Ligeiro e Bruno Candeias, ambos delegados pela moção E (promovida pelo movimento Convergência) à XII Convenção Nacional do BE, que se realiza este fim de semana em Matosinhos, traçam as críticas e marcam distâncias e diferenças em relação à atual liderança do partido, protagonizada por Catarina Martins.

"Se existe algum cansaço, de facto, é o cansaço da política. A política que tem sido levada a cabo pelo nosso partido é que está cansada e é para inverter esse cansaço, revitalizar a vida do nosso partido que nós nos candidatámos", enfatizou Bruno Candeias, dirigente do BE da concelhia de Santiago do Cacém e da Coordenadora Distrital de Setúbal.

Para o delegado pela moção E, entre as divergências com a atual direção -- que se volta a apresentar a eleições com a moção A -- está a necessidade de "puxar o BE para a esquerda, para o seu campo natural".

"O partido está numa inflexão ao centro de excessiva proximidade ao PS e, portanto, temos que nos recolocar à esquerda para colocar em cima da mesa aquelas que sempre foram as nossas grandes reivindicações", considerou Bruno Candeias.

Na perspetiva de Ana Sofia Ligeiro, é visível que "o arrojo da oposição se perdeu um bocadinho" dentro do grupo parlamentar bloquista, algo que consideram urgente ser retomado.

Deixando claro que não são nem querem ser uma tendência do BE, apresentam-se como "uma plataforma que converge em questões políticas e de reflexão interna".

"A primeira vez que esta moção concorre a umas eleições neste quadro atinge um valor de perto de 20% [18,6%, o que corresponde a 63 dos 339 delegados]. É bastante significativo por aquilo que é o historial da força interna das oposições e constituímo-nos, por isso, como a única alternativa com a força suficiente e com a representatividade suficiente para ser essa alternativa que irá polarizar a discussão nos próximos dois anos dentro da vida do BE", disse.

Para o delegado pela moção E, intitulada "Enfrentar o Empobrecimento, Polarizar à Esquerda", a direção nacional "vai deixar de ser monolítica" já que vai haver uma "correlação de forças nova" e "uma Mesa Nacional muito mais plural" resultante das eleições da reunião magna.

Estes críticos, que apontam à "excessiva parlamentarização e subjugação do que é o trabalho local em relação ao parlamento", sintetizam aquilo que os diferencia da atual liderança e que veem como o motor para o "bom resultado" na eleição de delegados: colocar o ecossocialismo como a bandeira, a autonomia face ao PS e o aprofundamento da democracia interna dentro do BE.

Numa coisa esta moção concorda com a atual direção, o voto contra no último Orçamento do Estado para 2021, defendendo que "o BE não pode ceder a chantagens" como aquela que o PS fez com toda a esquerda.

"A moção E nunca defendeu que não nos devemos sentar à mesa da negociação [para o próximo Orçamento do Estado]. Nós deveremos estar cá para todos os combates. Estamos disponíveis. A questão fundamental é que linhas vermelhas nós colocamos nessas negociações. Não podemos abandonar linhas vermelhas cedendo à chantagem", avisou Bruno Candeias.

Sobre a questão do deputado Luís Monteiro - que foi acusado de violência doméstica, acusações que negou e afirmou ter sido ele a vítima -- a moção E compreende a dificuldade em gerir este caso, mas deixou claro que apenas está em causa a questão política uma vez que é preciso fazer "uma separação muito objetiva" do que deve ser tratado pela justiça, sem o imiscuir por parte do partido.

"A próxima Mesa Nacional, a ser eleita no próximo fim de semana, deve-se pronunciar e deve fazer um debate sobre esta matéria com a nova direção eleita", considerou Bruno Candeias.

Para Ana Sofia Ligeiro, o grande receio "é este método de tratar os assuntos em lume brando" que a atual direção pratica, dando o exemplo do caso que envolveu Ricardo Robles.

Para a dirigente do BE na concelhia de Torres Novas e na Coordenadora distrital de Santarém, a redução de delegados para metade dos que estavam previstos devido à pandemia, "ao invés de ser uma ação sanitária e de saúde pública", foi "um golpe de manutenção de poder".

"A diversidade de moções e de plataformas denunciam a vontade de discutir, de voltar a diversificar os alinhamentos políticos dentro da organização", defendeu.

 

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