Moção de censura do PCP chumbada, Governo avança com moção de confiança
A moção de censura do PCP foi, esta quarta-feira, chumbada no Parlamento, com as abstenções do PS e do Chega. Logo no início do debate, o primeiro-ministro anunciou que vai avançar com uma moção de confiança, salientando que "não pode persistir dúvida" quanto às condições do Governo. O PS, por sua vez, anunciou o voto contra a moção de confiança e acusou o primeiro-ministro de “calar o Parlamento” e "atirar país para eleições".
A moção de censura dos comunistas, intitulada "travar a degradação da situação nacional, por uma política alternativa de progresso e desenvolvimento", foi rejeitada, com as abstenções do PS e do Chega. PCP, BE, Livre e PAN votaram a favor e o PSD, CDS-PP e IL contra.
O PCP levou a moção de censura a votos na Assembleia da República, assumindo que o objetivo era derrubar o Governo.
“O Governo não tem condições para se manter em funções", disse Paulo Raimundo, considerando que qualquer esclarecimento adicional que o primeiro-ministro possa dar não alterará esse desfecho "inevitável".
"Nada do que venha agora a dizer altera os factos até hoje conhecidos e que são, por si só, bastantes para concluir que o Governo não tem condições para se manter em funções", defendeu Raimundo, acusando o primeiro-ministro de “falta de coragem” para avançar com a moção de confiança.
Eleições antecipadas podem ser "um mal necessário"
Mas o debate ainda estava no início quando Montenegro anunciou que vai avançar com a moção de confiança, depois de ter acenado com a mesma no discurso ao país no sábado, afirmando que “o país precisa de clarificação política e este é o momento".
“Não ficando claro, como resulta das intervenções dos maiores partidos da oposição, que o Parlamento dá todas as condições ao Governo para executar o seu programa, avançaremos para a última oportunidade de o fazer, que é a aprovação de um voto de confiança", anunciou.
“Seria inaceitável - porque contrário ao interesse nacional, - que um partido político reiteradamente inviabilizasse moções de censura e depois continuasse a alimentar um clima de suspeição, e que o fizesse com a intenção declarada de contaminar o ambiente político com o último e único fito de desgastar o Governo e o primeiro-ministro”, acrescentou Luís Montenegro, numa crítica ao maior partido da oposição.
O primeiro-ministro garantiu que o seu Governo “não se furta ao escrutínio em todos os domínios” e admitiu a que novas eleições podem ser “um mal necessário”.
PCP diz que moção de censura “obrigou o Governo a vir a jogo”
Paulo Raimundo ironizou sobre o facto de alguns partidos terem dito que esta moção do PCP "era para salvar o Governo", afirmando que afinal "obrigou o Governo a vir a jogo" e a apresentar uma moção de confiança.
“Quem passou os últimos dias a afirmar que a moção do PCP era para salvar o Governo e para dispensar uma moção de confiança, deve estar agora ruído e a pensar que valeu a pena a moção de censura do PCP”, afirmou.
António Filipe, deputado do PCP, lançou mesmo um desafio ao PS: "Aprovem a moção de censura para pouparmos o Governo ao embaraço de ver a moção de confiança rejeitada".
“Será preciso uma CPI para perceber que não tem quaisquer condições para continuar em funções? Qual é a parte que os deputados do PS não perceberam?”, questionou.
PS acusa PM de “calar o Parlamento” e "atirar país para eleições"
Por sua vez, o secretário-geral do PS anunciou que vai votar contra a moção de confiança, considerando que a “responsabilidade da instabilidade política é do primeiro-ministro”.
Pedro Nuno Santos acusou o primeiro-ministro de preferir “atirar o país para eleições a dar explicações para fugir a uma comissão parlamentar de inquérito (CPI)”.
“Entre fechar a empresa e dar explicações ou calar o parlamento, o senhor primeiro-ministro optou por calar o Parlamento”, continuou, acusando Montenegro de “fugir das explicações como o diabo foge da cruz”.
O presidente do Chega, André Ventura, também anunciou que vai votar contra a moção de confiança, afirmando que o partido jamais lhe "dará qualquer voto de confiança".
Na opinião de André Ventura, o primeiro-ministro anunciou uma moção de confiança por ter “medo do escrutínio e da avaliação parlamentar”. “Escolheu uma fuga para a frente com medo de ser escrutinado pelo parlamento", acusou o líder do Chega.
"Senhor primeiro-ministro, em que circunstância for, cite Sá Carneiro ou não, quero dizer-lhe olhos nos olhos que esta abancada jamais de lhe dará qualquer voto de confiança para ser primeiro-ministro de Portugal", asseverou.
Governo desafia PS a abster-se na moção de confiança
Na sua intervenção no Parlamento, o ministro dos Negócios Estrangeiros desafiou o PS a abster-se na moção de confiança "se quer tanto" uma comissão parlamentar de inquérito sobre a situação do primeiro-ministro relativa à empresa Spinumviva.
Paulo Rangel acusou o PS de apenas ter proposto uma comissão parlamentar de inquérito quando percebeu que a moção de confiança do Governo iria mesmo avançar.
"Senhores deputados do PS, se querem tanto a Comissão Parlamentar de Inquérito, têm bom remédio, abstenham-se no voto de confiança e começa a inquirição daqui a 15 dias", desafios.