Ministra da Agricultura alega que desconhecia envolvimento de Carla Alves em processos

por RTP
"A Ministra da Agricultura e da Alimentação, Maria do Céu Antunes, não tinha conhecimento de qualquer envolvimento de Carla Alves em processos judiciais" António Pedro Santos - Lusa

O Ministério da Agricultura afiançou esta sexta-feira que a ministra Maria do Céu Antunes "não tinha conhecimento de qualquer envolvimento de Carla Alves em processos judiciais". Isto depois de o jornal Público ter noticiado que a titular da pasta da Agricultura e da Alimentação teria sido avisada, antes mesmo da recente tomada de posse dos novos membros do Governo, do caso das contas arrestadas que a secretária de Estado demissionária detinha com o marido, acusado num processo de corrupção.

"Considerando as recentes notícias, o Ministério da Agricultura e da Alimentação informa que a Ministra da Agricultura e da Alimentação, Maria do Céu Antunes, não tinha conhecimento de qualquer envolvimento de Carla Alves em processos judiciais", lia-se numa curta nota emitida durante a manhã pelo gabinete de Maria do Céu Antunes.
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Mais tarde, questionado pela RTP, o gabinete de Maria do Céu Antunes explicou que se referia também ao arresto de contas.

O Público noticiou esta sexta-feira que Carla Alves informou a ministra da Agricultura e da Alimentação acerca das contas arrestadas que partilha com o marido que está acusado de corrupção, antes de tomar posse como secretária de Estado na quarta-feira.

O Ministério da Agricultura respondeu, contudo, ao jornal não ter mais comentários a prestar sobre o assunto. Questionada na noite de quinta-feira pela SIC Notícias, a ministra dizia estar “tudo esclarecido”, acrescentando que “o que tinha a dizer já disse em sede própria”.
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Em reação a esta nova informação, a Iniciativa Liberal disse querer ouvir com urgência no Parlamento a ministra da Agricultura e Alimentação sobre a polémica com a secretária de Estado demissionária desta tutela.

"As explicações de que nós precisamos - e por isso vamos pedir com urgência que a senhora ministra da Agricultura venha ao Parlamento prestá-las - é qual era o grau de conhecimento da senhora ministra da Agricultura", defendeu Rui Rocha, deputado da Iniciativa Liberal, em declarações aos jornalistas na Assembleia da República.

"Parece-nos impossível de aceitar que, sabendo das circunstâncias em que a senhora secretária de Estado estava, não tivesse (...) feito uma avaliação política da impossibilidade de uma nomeação", continuou.

Para a IL, a ministra da Agricultura fica também "muitissímo fragilizada neste processo".
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Rui Rocha salientou ainda que na quinta-feira foi debatida no Parlamento a moção de censura ao Governo apresentada pela IL e, portanto, "não é só a senhora ministra da Agricultura, é todo o Governo que já não devia estar em funções".

Na opinião do deputado liberal, a ministra da Agricultura tem "um histórico que por si só justificaria que já não estivesse no Governo há muito tempo", lembrando "uma tentativa de coação de uma confederação do setor, devido ao sentido de voto que essa confederação possa ter sugerido em determinada altura" ou "o processo de transferência de competências das direções gerais da agricultura para outro tipo de entidades que não foi sequer comunicado aos agricultores, não foi discutido, não foi tratado com as confederações".

"A senhora ministra é já uma nulidade governativa há muito tempo", atirou.
PSD quer ouvir ministra, ex-secretária de Estado e Hugo Pires 

O PSD pediu a audição parlamentar da ministra da Agricultura, da secretária de Estado demissionária da Agricultura, Carla Alves, e do novo secretário de Estado do Ambiente, Hugo Pires.

"O Governo para governar bem tem de ter autoridade política e não pode ter membros, sejam ministros ou secretários de Estado, que tenham peso político negativo", afirmou o líder parlamentar do PSD, Joaquim Miranda Sarmento, em declarações aos jornalistas.

Para tal, defendeu, os membros do Governo têm de estar "sempre disponíveis e capazes de prestar os esclarecimentos que se impõem a cada momento".

"O PSD vai requerer a audição da ministra da Agricultura, mas também da ex-secretária de Estado da Agricultura que se demitiu em 24 horas, porque há uma contradição insanável entre as declarações das duas", justificou Miranda Sarmento.

Para o líder parlamentar do PSD, "é importante que ambas esclareçam o que sabem" e que a ministra Maria do Céu Antunes explique, "caso tenha sido informada pela ex-secretária de Estado", se informou ou não o primeiro-ministro e se o fez antes do debate da moção de censura da IL ao Governo, que decorreu na quinta-feira no Parlamento.

"Vamos também pedir que venha ao Parlamento o novo secretário de Estado do Ambiente devido às notícias que hoje saíram e que podem indicar graves conflitos de interesses e incompatibilidades", disse.

Também o deputado social-democrata João Moura, que integra a Comissão Parlamentar de Agricultura, não hesita em apontar leviandade na forma como o Executivo de António Costa está a gerir as polémicas em torno da ex-secretária de Estado da Agricultura e da ministra que tutela a pasta. E refere não entender a atuação do Governo.

João Moura diz que tem de haver consequências e considera que António Costa deveria aproveitar a oportunidade para remodelar uma ministra há muito sob desgaste.
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Se a secretária de Estado tinha "dado conhecimento" à ministra, "obviamente da senhora ministra é dar conhecimento ao primeiro-ministro". Mas no debate de quinta-feira, António Costa "garantiu que estava tudo bem".

"As coisas têm que ter consequências", afirmou o deputado.

Já André Ventura considera que essa reflexão deve ser feita por todos os partidos e pelo presidente da República.

O líder do Chega acredita que não interessa a nenhum líder político, neste momento, eleições antecipadas. No entanto, questiona se haverá condições para não ter eleições antecipadas.

"Se a maioria não resolve o problema, vamos ter de ter eleições", advoga.
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O Chega quer que a ministra da Agricultura vá ao parlamento para se escrutinar a informação de que tinha informação sobre as contas arrestadas à secretária de Estado da Agricultura.
Primeiro-ministro "é que tem de responder"
Por seu turno, o Bloco de Esquerda sustentou que cabe agora ao primeiro-ministro avaliar as condições para a ministra da Agricultura continuar no cargo, pedindo mesmo que não se coloque o partido a defender a governante.

"O senhor primeiro-ministro é que tem que perceber se, para além das questões políticas de condução do ministério, que para nós já são graves, se esta relação interna no Conselho de Ministros não é um ponto adicional, eventualmente a gota que faz transbordar o copo", afirmou aos jornalistas o líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, questionado sobre se a ministra da Agricultura teria condições para continuar no cargo.

"Peço é que não coloquem o Bloco de Esquerda a defender a ministra da Agricultura que nós tanto temos atacado", acentuou.

"Aqui trata-se de um Governo, em quem é que um primeiro-ministro confiou para avaliar quer a idoneidade quer as condições políticas para a secretária de Estado entrar no Governo", prosseguiu o dirigente bloquista.
"Organize-se o Governo e responda ao país. Isso é necessário nos casos consecutivos, é necessário também na TAP. Assistimos ontem a uma situação absolutamente inaudita. Um primeiro-ministro que contra todo o bom senso, contra aquilo que era visível aos olhos de todos, defendeu durante toda a tarde que a senhora secretária de Estado tinha condições para continuar. É a própria que reconhece, com um bom senso simples que chegou a todo o país menos ao senhor primeiro-ministro, que afinal não tinha condições para continuar", completou.

Também o PAN veio exigir esclarecimentos por parte da ministra da Agricultura sobre a escolha de Carla Alves para secretária de Estado. E sugeriu ao primeiro-ministro que deite abaixo o atual Executivo e forme um novo.

"Queremos saber se, tendo conhecimento, qual a razão que a levou a não informar o primeiro-ministro", instou a deputada única do partido Pessoas-Animais-Natureza, Inês Sousa Real, referindo-se à titular da pasta da Agricultura.

A polémica de Carla Alves foi conhecida na quinta-feira: foram indentificadas discrepâncias entre os rendimentos declarados pela agora ex-secretária de Estado da Agricultura e Américo Pereira (socialista, antigo presidente da Câmara de Vinhais e marido da agora ex-governante) e os balanços das respetivas contas bancárias entre os anos de 2013 e 2020.

Soube-se então que as contas foram arrestadas no âmbito de um processo em que há suspeitas da prática de crimes de corrupção ativa e prevaricação num negócio de aquisição de terrenos em Vinhais e que decorre de uma investigação levada a cabo pela Polícia Judiciária.

c/ Lusa
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