Militantes falam em "perseguição judicial" que não vai abalar confiança dos portugueses

por Lusa

Focados nas eleições e com um novo secretário-geral, os militantes do PS que se deslocaram a Lisboa para assistir ao congresso socialista falam numa "perseguição da Justiça" ao partido, mas confiam que não vai abalar a confiança dos portugueses.

Na Feira Internacional de Lisboa (FIL), onde decorre o 24.º Congresso Nacional do PS entre sexta-feira e domingo, uma estátua do histórico dirigente socialista Mário Soares, sentado de perna cruzada, recebe os militantes à entrada, com algumas palavras que têm particular ressonância para os socialistas atualmente: lutar e vencer.

Com "sangue novo" na liderança do PS, representado por Pedro Nuno Santos, a experiência e história do partido - consagrada no `slogan` "um futuro com história", que serve de pano de fundo às intervenções no palco principal do congresso - têm sido recorrentemente abordadas por dirigentes socialistas e militantes de base para apelar à mobilização do partido perante os casos judiciais que levaram à demissão do primeiro-ministro.

De bengala na mão e acabada de chegar à FIL, vinda de Palmela, Maria de Lurdes Pereira, com 85 anos, assiste ao congresso das bancadas laterais reservadas aos convidados e não tem dúvidas de que a Operação Influencer, que levou à demissão do primeiro-ministro, é uma "perseguição da Justiça".

"Sabe que, depois do [ex-primeiro-ministro do PS José] Sócrates ter mexido nas férias da Justiça e nos seus ordenados, nunca mais o PS teve sossego com a Justiça", concorda Rosa Duarte, de 82 anos, que veio à reunião magna socialista como delegada de Espinho, e considera que os casos judiciais "são `bluffs`" que não vão "a lado nenhum".

A ideia de que a reforma da Justiça implementada por José Sócrates em 2007 possa estar na origem dos atuais casos judiciais é também partilhada por Samuel, de 44 anos e delegado de Marco de Canaveses, que considera que o Ministério Público deveria ter gerido a situação "de outra forma" e só deveria ter divulgado as suspeitas que tinha "depois de devidamente fundamentadas".

"Desde os tempos de José Sócrates que os partidos de esquerda e direita são tratados a nível jurídico de forma diferente", critica, acrescentando que o perfil do novo secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, é precisamente o que o que o partido precisa neste momento, por não ter "medo de ir à luta".

Apesar disso, a maioria dos militantes socialistas que falaram à Lusa recusam que os casos judiciais possam afetar a confiança que os portugueses têm no PS.

"Eles bem tentam, mas não conseguem", diz José Góis, militante de 38 anos que veio da Madeira exclusivamente para assistir ao congresso do PS.

O militante, que se filiou no partido há quatro anos por se rever "em tudo o que António Costa diz e faz", está confiante de que Pedro Nuno Santos "vai dar continuidade ao que António Costa estava a fazer, se bem que mais à esquerda", e elogia a sua "descontração, bom profissionalismo e perspicácia".

O "sangue novo e irreverência" de Pedro Nuno Santos são também duas características destacadas por Sofia Pereira, delegada de 24 anos de Lamego, que elogia a capacidade de o partido se estar a mostrar "agregador, independentemente das ideias eventualmente diferentes".

Saído de uma disputa pela liderança que opôs Pedro Nuno Santos a José Luís Carneiro e Daniel Adrião em dezembro, o partido quer mostrar-se unido neste congresso, ainda que, entre as apoiantes de longa data dos candidatos, as `picardias` se mantenham.

Rosa Duarte, que vem de Aveiro, distrito do novo secretário-geral do PS, assume "ser Pedro Nuno desde que ele entrou na política" e a única crítica que tem ao congresso são "as moções enfadonhas" de José Luís Carneiro e Daniel Adrião. Em sentido contrário, Maria de Lurdes Pereira diz ser amiga de José Luís Carneiro, que qualifica como "100% honrado" e "mais ponderado" do que Pedro Nuno Santos, que "às vezes fala de mais".

Com ou sem divergências, ambas mantêm a confiança na vitória do PS nas próximas eleições, criticando os adversários dos socialistas.

"Nós vamos ganhar. Eu sei como é que o povo reage, ele não é estúpido, o povo. (...) O Montenegro é mau demais", diz Rosa Duarte.

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