Cerca de cinco mil trabalhadores da PT de todo o país, segundo dados dos sindicatos, realizaram esta sexta-feira uma marcha de protesto entre a sede da empresa, em Picoas, até à residência oficial do primeiro-ministro, em São Bento. Cumpriram também uma greve contra a transferência de funcionários entre empresas do grupo.
Em causa está a mudança de mais de 150 trabalhadores para empresas do grupo da multinacional de comunicações e conteúdos de origem francesa Altice, como a Tnord, a Studel ou a Winprovit, e ainda para a parceira Visabeira, recorrendo à figura de transmissão de estabelecimento, prevendo-se a conclusão do processo até final do mês.
A marcha lenta, que durante a tarde desta sexta-feira percorreu as ruas de Lisboa de Picoas a São Bento, foi promovida pelos sindicatos e pela Comissão de Trabalhadores.
Alguns dos trabalhadores queixam-se de estar há vários anos numa sala sem funções atribuídas.
No final do protesto, quatro dirigentes sindicais e um elemento da Comissão de Trabalhadores foram recebidos em São Bento por um representante de António Costa.
PCP, BE, UGT e CGTP presentes
Os dirigentes da UGT e da CGTP e os elementos bloquistas e comunistas estiveram entre as muitas centenas de manifestantes, que envergaram camisolas pretas com o logótipo do grupo Altice, designação alterada para "Aldrabice".
Marisa Matias, eurodeputada do Bloco de Esquerda, considerou inaceitável a política laborar do grupo. Já Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, realçou que é importante defender o interesse nacional.
"Despedimento encapotado"
Por sua vez, o secretário-geral da CGTP não descartou uma eventual renacionalização da PT, apontando o exemplo da intervenção estatal no sector bancário, para a qual todos os portugueses então contribuíram.
Para Arménio Carlos, estas transferências de trabalhadores da PT são uma situação inadmissível e um "despedimento encapotado".
"Modelo sanguinário"
Já o secretário-geral da UGT, Carlos Silva, afirmou que "têm de ser os trabalhadores a tomar as rédeas do seu próprio futuro contra este crime social", classificando a situação como "uma das maiores selvajarias" que "tem de ser travada, hoje e aqui", pois "não é só a PT que está em causa, mas este modelo sanguinário".
"Se tiver sucesso, este modelo empresarial pode abrir a porta a outras empresas para fazerem o mesmo e isso não pode vingar em Portugal e na Europa", afirmou, apelando para a intervenção de Governo e Presidência da República.
O grupo francês Altice, que comprou há dois anos a PT Portugal por cerca de sete mil milhões de euros, anunciou a 14 de julho um acordo com a Prisa para a compra, por 440 milhões de euros, da Media Capital SGPS, SA, que detém a TVI. Este negócio aguarda ainda pareceres da Entidade Reguladora para a Comunicação Social e da Autoridade da Concorrência.
Sindicato fala em adesão de 70 por cento
A greve nacional dos trabalhadores da PT teve uma "adesão nacional de 70 por cento” avançou à Lusa o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Portugal Telecom (STPT), Jorge Félix. Segundo a empresa a adesão foi de "19 por cento" .
"A adesão nacional foi de 70 por cento", disse Jorge Félix, adiantando que no continente foi de 65 por cento e de 80 por cento nas ilhas.
Já a operadora de telecomunicações, comprada há dois anos pela francesa Altice, adiantou que, "até às 18h00, a adesão à greve foi de 19 por cento", salientando que "durante o dia a PT assegurou todos os serviços que são prestados aos clientes".
c/ Lusa