Miguel Portas homenageado no São Luiz

por RTP
Miguel Portas (1958-2012) DR

O velório do eurodeputado Miguel Portas decorreu ontem no Palácio Galveias, Campo Pequeno, em Lisboa, seguindo-se este domingo uma sessão evocativa no São Luiz e uma missa na Igreja do Sagrado Coração de Jesus. Miguel Portas encontrava-se hospitalizado em Antuérpia desde há duas semanas e morreu na última terça-feira, 24 de abril, véspera do 38º aniversário da revolução que lhe marcou a juventude.

Miguel Portas, economista, político e jornalista, foi um dos fundadores do Bloco de Esquerda. Morreu na terça-feira à tarde, aos 53 anos, no Hospital ZNA Middelheim, em Antuérpia, vítima de cancro.

Para este domingo, está programada uma sessão pública evocativa no Teatro S. Luiz, iniciativa do Bloco de Esquerda. Também hoje, realiza-se pelas 17.30 uma missa mandada celebrar pela sua mãe, Helena Sacadura Cabral, na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, templo que foi projetado no início da década de 1970 pelos arquitetos Nuno Teotónio Pereira e Nuno Portas, pai do deputado europeu.

A cremação vai decorrer de forma privada, apenas na presença da família.
Homenagens em Lisboa e Bruxelas
Em Bruxelas, o Parlamento Europeu realiza a 10 de maio uma cerimónia em memória de Miguel Portas. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, seu irmão, assistiu à leitura do voto de pesar em representação da família


Em Lisboa, a Assembleia da República aprovou sexta-feira por unanimidade um voto de pesar pelo falecimento de Miguel Portas. No Parlamento foi lembrada a "combatividade", o "respeito pelos outros" e a "inteligência" do eurodeputado do Bloco de Esquerda.

O MNE Paulo Portas, seu irmão, assistiu a esta homenagem a partir das galerias de São Bento. Assunção Esteves, presidente da Assembleia da República, assinalou o facto e endereçou os seus cumprimentos ao ministro dos Negócios Estrangeiros e à bancada do Bloco de Esquerda: "Quem dedicou ao mundo uma vida inteira e no mundo teve consequência, ganha sempre uma espécie de imortalidade".

Pela parte do BE, o voto de pesar foi lido pelo líder da bancada, Luís Fazenda, que lembrou o "ativista pela democracia desde jovem" que "foi preso pela polícia política da ditadura quando tinha apenas 15 anos", "esteve nas manifestações de estudantes e partilhou as esperanças de tanta gente".

"Queria acabar com a guerra, terminar a ditadura e mudar o mundo. Viveu o 25 de Abril e quis sempre continuar esses valores solidários", lembrou Luís Fazenda, para acrescentar que "o seu falecimento suscitou tomadas de posição do Presidente da República, do Governo, dos partidos políticos, da CCTP, de associações e de muitas personalidades, do Parlamento Europeu e de múltiplos partidos europeus e outros. De todos os quadrantes políticos, estas mensagens realçaram o lado humano e a importância dos contributos de Miguel Portas para uma democracia mais intensa. São, assim, desmonstrações tanto da sua combatividade como do seu respeito pelos outros, que era uma das marcas distintivas do seu compromisso consigo próprio".
Uma vida de luta
Miguel Portas começara precocemente a sua atividade em organizações associativas, ainda sob a ditadura, sendo detido aos 15 anos como ativista do MAEESL (Movimento Associativo dos Estudantes do Ensino Secundário de Lisboa). Politicamente, começou por empenhar-se na UEC (União dos Estudantes Comunistas), de que foi dirigente. Militou mais tarde no PCP, até 1989, data em que saiu do partido.

Manteve nos anos seguintes uma militância política sem filiação partidária, exercendo funções de assessor para as questões culturais e urbanísticas do então presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Jorge Sampaio.

Na sua qualidade de jornalista, assinou alguns trabalhos de referência, tanto na imprensa escrita, como em televisão, neste caso para a RTP: as séries "Mar das Índias" (2000) e "Périplo" (2004). Foi diretor da revista Contraste (1986) e, mais tarde, dos semanários Já (1995) e Vida Mundial (1998-1999).

No interregno entre a militância comunista e a fundação do Bloco de Esquerda, Miguel Portas animou ainda a Plataforma de Esquerda e, a partir de 1994, o grupo Política XXI. Este coligou-se ainda com o PSR numa campanha para as eleições municipais em Lisboa.

Mas a convergência acabou por tornar-se mais ampla e por visar mais longe: as duas organizações e a UDP exploraram os acordos existentes entre elas com o objectivo de criarem uma nova força política. Surgiu esta em 1999, já com o nome que ficou até hoje: Bloco de Esquerda.

Miguel Portas encabeçou nesse ano a lista do BE nas primeiras eleições a que este concorria - precisamente ao Parlamento Europeu. O resultado foi modesto, bem distante ainda daquele que o faria eleger em 2004 e reeleger em 2009.

Dois anos após a fundação do BE, voltou a encabeçar uma lista do novo partido, desta vez para a Câmara Municipal de Lisboa - sem êxito.

Atualmente participava na Comissão de Orçamento e era vice-presidente da Comissão Especial do Parlamento Europeu para a Crise Financeira, Económica e Social.
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