"Menos ofegante". Conselho de Redação da RTP pede a Montenegro que se retrate por declarações sobre jornalistas

por RTP
Foto: João Marques - RTP

Em comunicado, o Conselho de Redação da RTP apelou esta quarta-feira ao primeiro-ministro para que “se retrate pelas suas declarações” e “reconheça a importância de um jornalismo livre e independente”.

Em causa estão as declarações de Luís Montenegro na terça-feira, que considerou que os jornalistas “não estão a valorizar” a profissão e devem fazer o seu trabalho de forma “mais tranquila” e menos “ofegante”.

O chefe de Governo fez também uma observação sobre o uso de auriculares para receber perguntas “sopradas” ou a leitura de questões através de telemóveis.

“O Conselho de Redação da RTP repudia as declarações do primeiro-ministro sobre o uso de auriculares por jornalistas”, lê-se no comunicado.

Esta afirmação “demonstra um profundo desconhecimento sobre o funcionamento técnico dos meios televisivos e um desrespeito pela integridade profissional dos jornalistas”, acrescenta o CR.

O Conselho de Redação explica ainda que o uso de auriculares é “essencial” por parte dos jornalistas em reportagem. É através desse dispositivo que escutam “a emissão e as indicações da redação” para se adaptarem as às necessidades de transmissão “em tempo real” e receber “informações essenciais para o desenvolvimento da reportagem”.

É também essencial para “comunicar com a régie”, facilitando a coordenação e o trabalho colaborativo. E ainda para “receber informações relevantes que podem ser cruciais para a contextualização da notícia”.

“É lamentável que o primeiro-ministro, tendo na sua equipa assessores com experiência em televisão, não se tenha informado sobre a função dos auriculares antes de fazer afirmações levianas e desrespeitosas”, nota o Conselho de Redação da RTP.

Acrescenta que o Conselho de Redação que defende “um jornalismo independente, rigoroso e crítico, que questione o poder e cumpra o seu papel de serviço público”.

“Acreditamos que é preferível um jornalismo ‘ofegante’, que busca a verdade e a prestação de contas numa sociedade democrática e informada do que jornalistas amansados pelo poder político para o tentar transformar em mera voz de quem tem o poder institucional”, aponta o CR.

Por isso, o Conselho de Redação “apela ao primeiro-ministro que se retrate pelas suas declarações e reconheça a importância de um jornalismo livre e independente”.A situação da RTP
Por outro lado, o Conselho de Redação da RTP aborda também as medidas para os media anunciadas pelo Governo na terça-feira que abrangem diretamente o serviço público. Manifesta “profunda preocupação face ao corte financeiro anunciado”, que “desafia a sustentabilidade do serviço público e a produção jornalística”.

“A ausência de alternativas às verbas cortadas gera um clima de incerteza e dificulta a prossecução da missão fundamental da RTP de garantir um jornalismo livre de quaisquer ingerências, financeiramente sustentável e capaz de cumprir o seu papel essencial numa sociedade democrática, tal como defendido pelo primeiro-ministro”, vincam os membros do Conselho de Redação.

Acrescenta por fim que uma situação com “falta de clareza” quanto ao futuro e a “ausência de um plano que assegure a viabilidade do serviço público de televisão” vão aprofundar “dúvidas e dificuldades” num momento em que “a defesa da verdade e o escrutínio do poder são mais cruciais do que nunca”.

Na terça-feira, o Governo apresentou o Plano de Ação para a Comunicação Social, no qual prevê a eliminação gradual da publicidade comercial na RTP até 2027. Por outro lado, o executivo adiantou que não se prevê uma atualização da Contribuição Audiovisual (CAV) no próximo ano.

Irá ser implementado um “plano de saídas voluntárias” na RTP que pode abranger até 250 trabalhadores, substituídos por um máximo de 125 contratações.
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