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Mário Soares. Um dos fundadores do PS e figura maior do partido

por Sandra Machado Soares, Pedro Zambujo, Pedro de Góis, Miguel Teixeira - RTP

O Partido Socialista faz 50 anos. Em 1973, na Alemanha, vinte sete pessoas - onde estavam Mário Soares, Maria Barroso e Tito de Morais - assinaram a ata que da fundação do Partido Socialista. Mário Soares foi o primeiro secretário-geral, primeiro-ministro por três vezes e Presidente da República. A sua história, entre 1973 e 1986.

Chegaram do exílio e de Portugal. Os 27 delegados da Ação Socialista reúnem-se em Bad Münstereifel, uma pequena localidade nos arredores de Bona, na Alemanha. Mas nem todos sabiam que se tratava de uma reunião para fazer nascer um partido.

Mário Soares tinha percebido que o regime estava a cair e que era preciso um partido para quando chegasse a democracia.

As discussões foram duras. O núcleo de Lisboa achava que não era o momento certo. Maria Barroso não se impressionou com o discurso do marido que defendia a transformação da Ação Socialista em partido político.

Houve 20 votos a favor e 7 contra.

A ata da reunião garante que, finda a votação, todos aplaudiram de pé.

A história deu razão a Mário Soares. Um ano depois do momento fundador do PS, o país renascia para Abril e Soares regressava a Portugal no comboio da liberdade.

No 1º de maio o país vive a maior manifestação de sempre, com Mário Soares ao lado de Álvaro Cunhal. Foi a última vez que discursaram juntos.

Em dezembro de 1974, o Partido Socialista faz o primeiro congresso na legalidade.

Mário Soares enfrenta a oposição de Manuel Serra, histórico lutador antifascista que queria puxar o PS à esquerda, pelos caminhos da revolução. O confronto determinou o rumo do partido.

Manuel Alegre, histórico socialista, relembra agora que se Soares tivesse perdido o congresso, o PS perdia a autonomia. Alegre fez um discurso que foi considerado decisivo para o rumo do partido.
Foto: Pedro de Góis - RTP

“Camarada, eu sei que há 100 maneiras de cozinhar bacalhau. Não sei se há aqui vários cozinheiros de marxismo, o que sei é que o marxismo não é um cozinhado e é uma só coisa (…) não me interessa uma revolução imaginária num país inventado. Interessa uma revolução concreta num país concreto” [Manuel Alegre, dezembro 1974]

O país vive o verão quente 1975 entre o medo, a esperança e o radicalismo. Temeu-se uma guerra civil.

Numa das eleições mais concorridas de sempre, o PS é o partido mais votado com cerca de 35 por cento dos votos. É governo, pela primeira vez, em 1976. O I Governo Constitucional está em funções entre 23 julho 1976 a 23 janeiro 1978, em tempo de crise e com a inflação a chegar aos 30 por cento.

Mário Soares desdobra-se em contactos internacionais para conseguir crédito. A bancarrota estava iminente.

Nestas circunstâncias, o primeiro-ministro apresenta uma moção de confiança. Mário Soares faz um discurso na Assembleia da República.

“Se o governo cair, não caio com alegria porque a situação do país não é suscetível de alegria mesmo que isso signifique um retirar de um pesadíssimo fardo sobre os ombros” [Mário Soares, 1977 ]

Mas o fardo não lhe sai dos ombros.
Foto: Pedro de Góis - RTP

Mário Soares assina a viragem à direita do PS, no II Governo Constitucional. Foi a inédita e irrepetível coligação com o CDS, num governo de vida curta. A situação era de emergência. Tinha chegado a hora do FMI.

A aliança não agradou aos socialistas nem ao próprio Mário Soares, conta agora Manuel Alegre. Mas foi “uma aliança útil” para, diz Alegre, tomar medidas que país precisava.

A coligação desfez-se com Freitas do Amaral a anunciar que não podia continuar “a apoiar o governo”

Foi o início dos governos de iniciativa presidencial e do PS na oposição.

Em 1980 os socialistas dividem-se. A comissão nacional decide apoiar a recandidatura de Ramalho Eanes. Mário Soares não concorda e suspende funções de secretário-geral.

Eanes, candidato presidencial, quis distanciar-se da Frente Republicana e Socialista (FRS – coligação formada em 1980 pelo PS, UEDS, ASDI) para acentuar o carácter suprapartidário da candidatura.

Soares não gostou de ouvir uma conferência de imprensa onde Ramalho Eanes disse que defendia um modelo de sociedade próximo da AD (PSD, CDS, PPM)

Ramalho Eanes é reeleito Presidente da República e, em plena campanha eleitoral, o país vê morrer o primeiro-ministro, Sá Carneiro, e o ministro da defesa, Adelino Amaro da Costa, em Camarate.

No sótão da casa de António Guterres há encontros conspirativos. A oposição ao pai do partido junta nomes como Jorge Sampaio, Vítor Constâncio, Salgado Zenha. Era o grupo do ex-secretariado, que teve de esperar até ser poder no PS. Mário Soares ainda foi mais uma vez primeiro-ministro em 1983 com o Bloco Central. A crise económica impulsiona o acordo PS-PSD e o FMI volta ao país.

Mas a dureza da crise rapidamente abre brechas na coligação. Mota Pinto enfrenta a oposição interna, demite-se de presidente do PSD e abre caminho a Cavaco Silva, que quer por fim ao Bloco Central e provocar eleições antecipadas. E assim foi.

Mário Soares, que defendeu desde sempre a integração europeia, concretizou a adesão à CEE.

No dia 12 de Junho de 1985, Portugal entra formalmente na Comunidade Económica Europeia. No dia seguinte, Cavaco Silva concretiza a saída do PSD do Governo e o primeiro-ministro, Mário Soares, anuncia a demissão.

Por esta altura, o objetivo do fundador do PS já é outro: as presidenciais de 1986. Para isso, renuncia ao cargo de secretário-geral do partido que fundou. Mário Soares já só pensa na candidatura à Presidência da República.
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