Marcelo Rebelo de Sousa diz que o Governo de António Costa sacrificou o investimento público no ano passado para assegurar o cumprimento das metas do défice, à semelhança do que já tinha acontecido com Pedro Passos Coelho. Em entrevista a Maria Flor Pedroso, editora de política da Antena 1, o Presidente da República afirma que também a mudança de Executivo e a demora em ativar os fundos comunitários contribuíram para a quebra do investimento em 2016. Se há um ano o chefe de Estado olhava para a banca e para o sistema financeiro como os principais problemas do país, isso hoje já não acontece.
Veja aqui a entrevista na íntegra:
Agora, o que mais preocupa Marcelo Rebelo de Sousa é o crescimento da economia.
Na primeira entrevista que concede à Antena 1 como Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa diz ter sido inevitável a travagem no investimento público no ano passado, não só pela mudança de Governo e desconfiança sobre a solução política, mas também "para se chegar ao défice a que se chegou. O Governo optou, um pouco como o Governo anterior, por sacrificar investimentos públicos. Isso parece evidente".
O Presidente da República reconhece que antes de tomar posse não sabia como estava estava a Banca. "Vim depois a deparar-me com algumas questões que agora têm vindo a ser resolvidas paulatinamente". E acrescenta que se há um ano confessava que o maior problema de Portugal era a Banca e o sistema financeiro, "agora já não".
O Presidente da República coloca agora no topo das preocupações o crescimento do país. "É a resolução para vários problemas, entre os quais a dívida", disse.
Para Marcelo Rebelo de Sousa o crescimento é também a grande interrogação do ano de 2017. "Vai tornar sustentável o equilíbrio das finanças públicas". O Presidente da República espera que "esta tendência (de crescimento) se consolide de modo mais vigoroso". Realça, por isso "a importância do investimento" nesta fase.
E acrescenta que só há investimento com confiança. "Eu encontro hoje no contacto com empresários portugueses e estrangeiros uma confiança que não encontrava há um ano". "Eu encontro de facto uma mudança progressiva de clima", afirma. Diz o Presidente que as dúvidas que existiam tinham a ver com questões como a durabilidade do Governo, se os parceiros iriam criar obstáculos, se o défice era cumprido ou não.
Nesse campo, Marcelo Rebelo de Sousa diz que cumpriu a sua "missão".
Mas para esse "clima adicional favorável" à confiança contribuiu também, diz o PR, "o acordo de Concertação Social, a estabilidade das leis laborais, a estabilização no sistema fiscal".
"A Constituição permite duplo voto e 180 deputados"
Foi uma das ideias do discurso presidencial do 25 de Abril. O nosso "sistema político, mesmo que careça de reformas, é mais sustentável que outros". Se na entrevista à Antena 1 o Presidente da República começa por rejeitar uma alteração no sistema eleitoral, é enfático ao lembrar "a elasticidade da Constituição" que permite a redução para 180 deputados. "Na altura em que não era Presidente da República achava uma boa ideia", bem como o duplo voto em círculo nacional e local. Conclui agora a dizer que "não cabe na Constituição haver um corte radical relativamente ao sistema proporcional".
Passos pode ganhar Congresso do PSD em 2018
Passos pode ganhar Congresso do PSD em 2018
Sobre a liderança no PSD, Marcelo Rebelo de Sousa reconhece que ao ter dito que Pedro Passos Coelho podia liderar o segundo Governo do seu mandato está implicitamente a reconhecer que o líder do PSD pode sair vencedor da próxima disputa interna nos sociais democratas."Não há nada que impeça, é uma hipótese que existe, não tem que ser, mas existe".
"Eu sou sempre assim, sou como sou e ninguém muda aos 68 anos de idade"
Questionado sobre a forma como está exercer a sua presidência, Marcelo Rebelo de Sousa diz que "o país, a meu ver, tem exigido esta proximidade. A única maneira de acompanhar é estar lá!".
É desta forma que o Presidente justifica a ida a Lamego quando explodiu uma fábrica de pirotecnia, ou a Tires quando caiu a avioneta e em muitas outras situações. É assim e não vai mudar, diz, porque "os portugueses têm-me dado razão, nas sondagens, que não são decisivas, têm dito que eu não tenho intervindo demais".
As perguntas dos ouvintes da Antena 1
Pergunte ao Presidente, foi o desafio que a Antena 1 deixou aos ouvintes da rádio que quiseram saber, por exemplo, a opinião de Marcelo Rebelo de Sousa sobre os abstencionistas. O Presidente da República considerou que "todos os cidadãos são políticos" e que não se podem esquecer disso. E acrescenta: "quem não vota do que se pode queixar?".
Mas o combate à abstenção, diz o Presidente da República, passa também pelos protagonistas partidários.
Os portugueses têm "um leque partidário amplíssimo", constata Marcelo Rebelo de Sousa, recordando que ele próprio foi candidato independente e que só muito mais tarde recebeu o apoio do seu partido. "E é assim que deve ser", diz, porque "as candidaturas (presidenciais) não devem ser correias de transmissão dos partidos".
Questionado sobre se não tem pena de não ter sido primeiro-ministro, Marcelo diz que não, "não sinto pena porque a nossa Constituição é muito sábia".
E garante que nunca fez as vezes do primeiro-minsitro. "Não, nunca, nunca, nunca!"