Manifesto dos 50 responsabiliza Ministério Público pela queda de dois governos
Nos 50 anos da democracia, 50 personalidades da sociedade e política portuguesa - entre as quais Augusto Santos Silva, Eduardo Ferro Rodrigues, Rui Rio, David Justino, Vítor Constâncio e José Pacheco Pereira - subscrevem um manifesto que denuncia a atuação "perversa" da justiça e exige uma "reforma" em "defesa do Estado de Direito democrático". Os 50 signatários apontam "falhas" no setor e responsabilizam o Ministério Público pela "queda de duas maiorias parlamentares resultantes de eleições recentes", relativas ao Governo de António Costa e ao Governo Regional da Madeira.
“Os signatários instam o presidente da República, a Assembleia da República e o Governo, bem como todos os partidos políticos nacionais a tomarem as iniciativas necessárias para a concretização de uma reforma no setor da Justiça”, pode ler-se no documento.
"Indevida interferência no poder político"
Mas também a “prolongada passividade” dos responsáveis políticos perante esta “iníqua realidade” que “permitiu que tivéssemos atingido o penoso limite de ver a ação do Ministério Público produzir a queda de duas maiorias parlamentares resultantes de eleições recentes”. Os 50 subscritores do manifesto consideram “inconcebível” que, mesmo tendo decorrido “longos cincos meses” entre o ex-primeiro-ministro, António Costa, se ter demitido na sequência do comunicado da Procuradoria-Geral da República e a sua cessação de funções. "O Ministério Público nem sequer se dignou informá-lo sobre o objeto do inquérito nem o convocou para qualquer diligência processual", acusam.
Nos 50 anos de democracia portuguesa, os signatários salientam que é necessário “reconhecer de forma digna e leal o que a está a fragilizar” e “ter a coragem e a vontade de mudar”.
Sublinhando a necessidade de respeito integral pela independência dos tribunais e a autonomia do Ministério Público, os subscritores defendem a implementação de mecanismos de "escrutínio externo" das magistraturas, que envolva a Assembleia da República, e a responsabilização de cada nível hierárquico do Ministério Público.