Lacerda Sales defende "pacto de regime" no setor da saúde para resolver problemas do SNS

por João Alexandre - Antena 1
Carlos M. Almeida - Lusa (arquivo)

Perante as dificuldades nos serviços de urgência de vários hospitais do país - e depois de um fim de semana em que foi noticiado o encerramento de diversas urgências hospitalares -, António Lacerda Sales, médico e ex-secretário de Estado da Saúde durante o Governo de António Costa, defende um pacto de regime no setor da saúde.

"Talvez fosse [necessário] um tempo de reflexão, um tempo de ação, mas um tempo em que seria necessário, provavelmente, um pacto de regime entre as forças partidárias, entre as forças políticas, entre todos os portugueses. Um pouco à semelhança daquilo que aconteceu durante a pandemia, em que houve um consenso entre forças partidárias, com o Governo, entre os portugueses, e muitos dos problemas conseguiram até ultrapassar-se", diz, em declarações à Antena 1, o ex-deputado do PS.

Num momento em que se somam os anúncios de serviços de urgência encerrados em vários distritos, António Lacerda Sales antecipa ainda que as atuais dificuldades nas urgências do Serviço Nacional de Saúde - em particular nos serviços de ginecologia e obstetrícia - vão ser difíceis de solucionar no curto e médio prazo.

"Este é um problema que não se vai resolver tão rapidamente, e, sinceramente, eu não acredito que se resolva muito rapidamente nem com planos de emergências de 60 dias"
, afirma o ex-secretário de Estado, que deixa ainda críticas ao Executivo da AD pelas promessas feitas para o setor: "Penso que o Governo cometeu um erro ao dizer que resolvia e que iria ter um plano de emergência para 60 dias E, quando se trata de mulheres grávidas, de bebés e de crianças, penso que a sensibilidade do problema é ainda maior.

António Lacerda Sales considera que o problema está, sobretudo, na articulação entre o Governo e as unidades hospitalares: "Isto tem que ver com planeamento, tem que ver com recursos humanos e tem, fundamentalmente, que ver também com a colaboração entre profissionais de saúde e os governos. Neste caso, com o Governo que neste momento se encontra em funções"."Devem ser criadas condições em proximidade"
Ouvido pela Antena 1, António Lacerda Sales assinala que as urgências são a "última fronteira" do Serviço Nacional de Saúde e que, nesse sentido, têm de "ser dadas o mais em proximidade possível" para evitar que haja um aumento das "desigualdades".

"Eu entendo que devem ser criadas condições em proximidade, com maternidades abertas o mais proximamente possível e só atuar em rede quando, de facto, não é de todo possível essa proximidade"
, afirma o também presidente da Assembleia Municipal de Leiria, que insiste: "Imagine o que é o interior sem uma urgência, quando tem de se deslocalizar essa urgência para o Porto e para Lisboa, ou para uma cidade do litoral. Imagine uma cidade do meio do litoral, como é Leiria, que tem de deslocalizar cerca de 20 grávidas para o Porto".

De acordo com Lacerda Sales, o caso do Hospital de Leiria - onde existem constrangimentos na Urgência Ginecológica/Obstétrica até dia 19 de agosto - vai continuar a repetir-se noutros pontos do país.

"Neste momento, o distrito de Leiria tem uma dinâmica de saúde subdimensionada para aquilo que é a sua escala. São cerca de 450 mil habitantes. Mas, hoje é Leiria e amanhã será noutra cidade do interior ou, até, como se tem visto, em maternidades da zona da região de Lisboa. Portanto, eu penso que são dificuldades dispersas", diz.

António Lacerda Sales reitera ainda que não haverá menos dificuldades enquanto não houver um reforço de meios técnicos e humanos no SNS. "O que é importante é que haja recursos humanos e financeiros para que exista motivação nos recursos humanos para se fixarem no SNS, nomeadamente na área de ginecologia e obstetrícia. Esta é uma questão que está acima daquelas que são as questões partidárias e políticas", sublinha.

Quanto às críticas sobre a forma como o Governo de António Costa lidou com os problemas no setor, o ex-secretário de Estado responde que o PS sempre procurou encontrar soluções.

"[Essas críticas] Só servem para incendiar a partidarite e a discussão partidária. Podemos recuar também ao tempo da troika em que houve uma depreciação de mais de quase 5500 profissionais de saúde, em que houve uma depreciação do financiamento da saúde, em que as condições do SNS foram muito más. Durante oito anos o que fizemos foi recuperar e melhorar essas condições", defende Lacerda Sales.

E remata: "Não é bom fazer-se esse exercício, porque só serve para incendiar novamente estas questões partidárias. Os portugueses merecem melhor".
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