Isaltino lança jornais a arder pela janela da prisão para festejar a vitória

por RTP
Foto de arquivo da Lusa

Ao tomar conhecimento da vitória eleitoral do seu herdeiro político Paulo Vistas, novo presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais lançou jornais a arder pela janela da sua cela. O ex-presidente daquela autarquia juntava-se assim às largas dezenas de carros dos apoiantes da lista Isaltino Oeiras Mais À Frente (IOMAF) que se haviam deslocado à Carregueira para festejarem ruidosamente com o verdadeiro mentor do movimento.

Isaltino Morais assumiu pela primeira vez a presidência da Câmara de Oeiras em 1986. Foi candidato pelo PSD pela última vez em 2001 - venceu com 55% dos votos. Já independente, foi eleito presidente da CM Oeiras com 34,2% em 2005 - era arguido na altura - e com 41,52% em 2009 - então condenado.

Em cúmulo jurídico foi condenado em 2009 a sete anos de prisão e à perda de mandato autárquico, por fraude fiscal, abuso de poder e corrupção passiva para ato ilícito e branqueamento de capitais. Em julho de 2010, a Relação de Lisboa anulou as penas de perda de mandato e abuso de poder. A pena de prisão ficou-se pelos dois anos por fraude fiscal e branqueamento de capitais.

Num processo que arrastou por largos anos, com manobras dilatórias por parte da defesa do ex-autarca, Isaltino acabaria por entrar na Carregueira a 24 de Abril passado para cumprir pena efetiva. Nessa altura foi o seu número dois e vice-presidente Paulo Vistas que assumiu a Presidência da Câmara de Oeiras.
Não fora a decisão do Tribunal Constitucional, no passado 13 de Setembro, de chumbar a candidatura de Isaltino Morais, e poderia ser um presidiário a liderar os destinos da Assembleia Municipal de Oeiras, já que o movimento independente que apadrinhou conseguiu 12 mandatos para a AM, face aos 7 quer de PS quer de PSD.

Mas o facto de ser Isaltino Morais o verdadeiro mentor do movimento Isaltino Oeiras Mais À Frente, formalmente liderado por Paulo Vistas, gerou no coração dos eleitores que apoiaram o IOMAF a necessidade de compartilharem os louros da vitória com o ex-autarca detido na prisão da Carregueira.

A Agência Lusa assinalava esta madrugada que duas dezenas de viaturas rumaram cerca da uma da manhã ao estabelecimento prisional, em Sintra, para fazerem a festa com Isaltino Morais.

O presidente do Sindicato Independente do Corpo da Guarda Prisional, Júlio Rebelo, assegurou ao online da RTP que eram “muito mais de vinte, dezenas largas de carros [que buzinavam junto à prisão] e que só pararam quando foi chamada a PSP”, uma vez que é proibido este tipo de manifestações.

“Mas a estrada está ali e [o desfile] durou mais de meia hora”, acrescentou este dirigente sindical.

A forma então encontrada pelo ex-autarca de Oeiras para fazer fé da sua presença foi deitar mão de jornais e incendiá-los para os atirar logo após da janela da sua cela.
Isaltino coloca segurança da Carregueira em causa
A posse de isqueiro e de jornais está contemplada no regulamento prisional, tanto mais que Isaltino Morais é um fumador de charutos [neste caso presume-se que sejam fósforos]. De acordo com Júlio Rebelo, desde a entrada em vigor da lei do tabaco, a direção foi obrigada a dividir a prisão “em celas para fumadores e celas para não-fumadores”. Colocar jornais a arder dentro de uma cela “constitui alteração e perigo à segurança do estabelecimento prisional”.

Júlio Rebelo


O coordenador sindical faz no entanto questão de assinalar que, “num mundo perfeito, não haveria estes artigos nas mãos dos presos. O corpo de guardas [da Carregueira] não concorda com este tipo de situações”.

Em declarações ao online da RTP, Júlio Rebelo não tem dúvidas de que este é um episódio “que deveria ter consequências”, já que é a própria segurança do estabelecimento prisional que é colocada em causa.

O presidente do sindicato que representa o corpo dos guardas prisionais da Carregueira sugere porém que o estatuto dos presidiários pode originar reações diferenciadas por parte da direcção do estabelecimento.

O procedimento correto, assinala, deveria começar pela “abertura de um processo de averiguações com vista a eventual abertura de um processo disciplinar”.

Após várias tentativas não foi possível questionar a direção do estabelecimento prisional da Carregueira sobre este episódio.
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