Grande Entrevista. Ministro da Educação considera que alunos "estão a ser prejudicados" por greves

por RTP
João Costa recusa a ideia de “desrespeito” para com os docentes Andreia Martins - RTP

Numa altura em que Portugal assiste a um conjunto de greves e protestos sem precedentes dos professores, o ministro da Educação sustenta que as negociações decorrem num ambiente "amigável" e "construtivo", mas admite que não será possível um entendimento em todas as matérias. João Costa assume-se ainda preocupado com o impacto destas ações de protesto na recuperação de aprendizagens dos alunos após dois anos marcados pela pandemia.

Na Grande Entrevista da RTP, o ministro da Educação João Costa destacou que será preciso “estabelecer prioridades” no processo negocial em curso entre os sindicatos e o Ministério.

Há mais de sete anos no poder, primeiro como secretário de Estado e depois como ministro, João Costa sublinhou, na noite de quarta-feira, que esteve sempre “próximo das escolas” e que conhece as “preocupações e angústias” e os “mal-estares de longa duração” dos professores.

Nesta entrevista a Vítor Gonçalves, João Costa recusou a ideia de “desrespeito” para com os docentes e sublinhou o papel da escola pública como uma das principais conquistas da democracia. No entanto, perante os vários problemas apresentados pelos sindicatos, disse que há problemas prioritários a resolver, nomeadamente a precariedade e a questão do “eterno casa às costas”.

Questionado sobre as primeiras rondas negociais esta quarta-feira, João Costa garantiu que o Governo está “de boa-fé” e destacou que as duas reuniões com conjuntos de sindicatos decorreram num ambiente “absolutamente amigável, construtivo” e que já houve “reconhecimento de algumas medidas que apresentámos hoje como medidas positivas”.
Sobre as palavras do presidente da República, que se mostrou preocupado pelo impacto das greves na aprendizagem dos alunos, o ministro da Educação lembrou que os alunos em causa “estiveram dois anos com uma pandemia” e que estas ações de protesto acabam por perturbar aquele que seria “o ano da recuperação”.

“Os alunos estão a ser prejudicados”, reconheceu. Para o ministro, existe “inevitavelmente” um prejuízo nesta recuperação, que em alguns casos já decorria “a bom ritmo”.

Quanto às mudanças na vinculação de professores, o governante diz dar prioridade ao combate à precariedade. De acordo com o ministro, a vinculação passa a acontecer ao fim de três anos, mesmo sem horários sucessivos ou completos. Ainda que possa demorar mais de três anos em alguns casos, a vinculação irá acontecer ao fim de um período que, quando combinado, “será sempre equivalente a três anos”.

“Vamos apanhar professores que têm anos de serviço e que acumularam tempo de serviço de forma interrompida, parcelar”, destacou o ministro, acrescentando que a medida vai permitir vincular mais de dez mil professores.

Veja ou reveja aqui, na íntegra, a Grande Entrevista com o ministro da Educação.
João Costa ressalva que todas as medidas do Ministério da Educação são tomadas com “responsabilidade orçamental possível” e que o descongelamento de carreiras em 2018 com a recuperação parcial do tempo de serviço permitiu uma progressão “significativa” de muitos professores nos últimos anos.

Em relação à reconfiguração dos quadros de zona pedagógica, o executivo prevê que passem de dez para 63 zonas, com o objetivo de aproximar e fixar professores. Neste ponto, o ministro destacou que “todos os sindicatos reconheceram que o Governo ate tinha ido mais longe do que estavam à espera”.

Na resposta às críticas dos sindicatos, que vieram considerar as propostas do Governo como “poucochinho”, João Costa reconheceu que não será possível chegar a várias matérias, nomeadamente na questão do tempo não contabilizado (nove anos, quatro meses e dois dias). “Não está em causa voltar atrás, é um assunto encerrado”, completou.

“Os sindicatos têm um caderno reivindicativo extenso, têm reivindicações antigas. Há matérias em que já fizemos muito trabalho, há matérias novas em que estamos a trabalhar. Há outras matérias a que provavelmente não vamos conseguir chegar”, reconheceu.
Lembrou, no entanto, que a carreira dos professores “nunca esteve descongelada durante tanto tempo”.

Ainda em relação à questão dos quinto e sétimo escalões, o ministro adiantou que está a ser trabalhada uma proposta que prevê maior abertura de vagas: do quarto para o quinto escalão, é esperado que 75 por cento dos professores progridam todos os anos. Do sexto para o sétimo, a percentagem de progressão será de 58 por cento.

Por fim, sobre o parecer requerido à Procuradoria-Geral da República acerca da legalidade das greves atuais, João Costa reforçou que a forma de desenvolvimento de algumas das paralisações “suscitou dúvidas legais”, com greves que se “aproximam do formato self-service”. Sobre este ponto, o ministro diz que o Governo continua à espera de uma resposta.

Se por uma lado, as greves da Fenprof “também causam dano”, há outras greves em curso que, segundo o ministro, suscitam dúvidas pelo formato, ao terem “impacto mínimo para quem faz greve e impacto máximo” para escola e alunos.
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