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"Governo da vitimização" e "chantagem". As críticas de Pedro Nuno Santos ao discurso de Montenegro

por Andreia Martins - RTP
Foto: José Sena Goulão - Lusa

Pedro Nuno Santos acusou esta quarta-feira o primeiro-ministro de "chantagem" sobre o PS e de procurar colocar-se numa posição de "vitimização". Foi esta a reação do secretário-geral do Partido Socialista ao discurso da tomada de posse de Luís Montenegro, que assinalou no entanto que o PS será "oposição responsável" e terá "disponibilidade total" para dialogar com o Governo.

Em conferência de imprensa menos de 24 horas após a tomada de posse de Luís Montenegro e dos ministros do novo Governo, Pedro Nuno Santos deixou várias críticas ao executivo, em particular ao discurso do primeiro-ministro. “Sem ambição, sem visão, sem um desígnio para Portugal”, afirmou.

O secretário-geral do PS criticou o que considera um discurso de um Governo de “vitimização, lamentação e queixume”, apontando ainda a “chantagem” sobre o Partido Socialista.

“Como se o PS estivesse obrigado a aprovar, sustentar e a viabilizar um Governo (…) que quer implementar um programa com que o PS discorda”, acrescentou.

Pedro Nuno Santos apontou que o PSD não pode ficar “fixado” e à espera que o PS “venha resolver ou dar a maioria que o povo português entendeu não dar à AD”, assinalou, recordando a diferença mínima de "cerca de 50 mil votos" entre os dois partidos nas eleições.

“Se o 'não é não' de Luís Montenegro é para levar a sério, aquilo que eu disse na noite eleitoral também é para levar a sério. O PS será oposição, será uma oposição responsável obviamente. Votaremos a favor com o que concordamos, votaremos contra o que discordamos”, vincou o líder do PS.
"Montenegro disponibilizou-se a governar nestas condições"

Pedro Nuno Santos, que não esteve presente na cerimónia de tomada de posse do Governo, garantiu que não houve qualquer sinal político nessa ausência. “Não pude estar presente. O PS esteve representado por Alexandra Leitão”, vincou.

“Não pude estar presente, ponto final”, afirmou o secretário-geral perante insistência dos jornalistas presentes. “Lamento profundamente que achem que essa a prioridade para a política em Portugal”, acrescentou minutos mais tarde após uma nova pergunta sobre o tema. Em relação à governabilidade, Pedro Nuno Santos considerou que, do ponto de vista programático, "há mais semelhanças" entre a AD e o programa do Chega do que com o programa do PS.

"Temos visões diferentes do Estado Social, temos visões diferentes da política fiscal. (...) É difícil compatibilizar a nossa visão do país e a visão da AD", assinalou.

Pedro Nuno Santos disse esperar que o Governo "não se coloque em becos sem saída", garantiu que o PS será "fiel" à sua visão de país. 

"A AD disponibilizou-se para governar e Luís Montenegro disponibilizou-se para governar nestas condições. Não tem maioria, tem de procurar construir soluções que permitam fazer avançar algumas das suas propostas", assinalou. O PS, que "fará o seu trabalho na oposição", não tem como função "suportar ou ser bengala ao PSD", completou.

Ainda assim, o líder do PS diz que há "disponibilidade total" para o diálogo com o Governo, esperando "iniciativa" por parte do primeiro-ministro. "Não pode, numa posição de arrogância, achar que o PS está obrigado a suportar o seu Governo", afirmou.
Governo "prometeu tudo a todos"

Nesse âmbito, Pedro Nuno Santos pediu que se "respeite" o PS, recorrendo ao episódio da eleição do presidente da Assembleia da República, que marcou o início da atual legislatura.

"O primeiro-ministro não tinha nenhuma proposta para apresentar. Fui eu que apresentei uma proposta para desbloquear", afirmou, referindo-se ao acordo entre PSD e PS para a divisão da presidência da AR entre Aguiar Branco e Francisco Assis.

O secretário-geral do PS voltou a demonstrar disponibilidade para viabilizar um Orçamento retificativo, mas notou o "discurso típico de governos de direita em Portugal" do novo Governo, ao afirmar que "não há dinheiro".

"Não é o excedente orçamental que coloca pressão sobre a governação. O que coloca pressão sobre esta governação é o programa económico do PSD, o programa económico da AD. (...) A teoria dos cofres cheios resultou de uma campanha eleitoral em que a AD prometeu tudo a todos", criticou.

Pedro Nuno Santos viu nas palavras de Luís Montenegro a "preparação do terreno político para a não concretização de tudo aquilo que foi sendo prometido", apontou.
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