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Executivo de Rajoy põe nacionalização do Bankia em marcha

por RTP
A passagem de testemunho no Bankia selada com o cumprimento de Jose Ignacio Goirigolzarri (dir.) a Rodrigo Rato EPA

Aguardada pelos mercados ainda para esta quarta-feira, sabe-se ao início da noite que é para avançar a nacionalização do Bankia. A operação, já largamente anunciada, envolve a conversão de um empréstimo de 4465 milhões de euros em ações ordinárias. A decisão foi confirmada pelo Ministério da Economia de Luis de Guindos.

Não é o primeiro banco espanhol a ser nacionalizado. Trata-se da oitava intervenção a partir do Palácio da Moncloa desde o início da crise, em 2008. No caso do Bankia, o Estado espanhol passará a controlar 45 por cento desta instituição financeira.

O Ministério de Luis de Guindos fez saber ao cair da noite que pretende converter em ações o empréstimo de 4465 milhões de euros que o Estado concedeu ao grupo em 2008, logo após o irromper da crise internacional.

Para avançar com a operação, o Executivo de Rajoy argumento ser "improvável, tendo em conta a situação da empresa e do grupo", que o banco possa devolver o dinheiro recebido em cinco anos. Ainda de acordo com o Governo, esta intervenção é "um primeiro passo necessário para garantir a solvência, a tranquilidade dos depositantes e para dissipar as dúvidas dos mercados sobre as necessidades de capital da entidade".

No início da semana, no dia em que o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, fazia fé de total disponibilidade para deitar mão das medidas necessárias - o que fosse necessário, nas suas palavras - para salvar o sistema financeiro do país, a possibilidade de uma nacionalização do Bankia era posta em cima da mesa. Nessa segunda-feira, o antigo ministro do PP Rodrigo Rato anunciava igualmente a sua saída, no que muitos viram como um desimpedimento para a intervenção do Governo tambérm PP de Rajoy no banco.

Mas hoje, à margem da Cimeira Luso-Espanhola, no Porto, Rajoy esquivou-se a uma resposta concreta sobre o Bankia: "Os novos responsáveis vão assumir a direção, avaliar a situação e adotar as medidas pertinentes", limitou-se a declarar o chefe do Governo. Confirma-se agora que na Moncloa apenas se aguardava o fecho da praça espanhola para oficializar a nacionalização.

Uma possibilidade que teve a sua hora foi a de que o Executivo de Rajoy estaria a dar tempo para que fosse operada a transição de poder dentro do próprio banco, cuja chefia deverá ser assumida por José Ignacio Goirigolzarri, ex-conselheiro delegado do BBVA.

A ideia já então avançada era a de que o Governo estaria a preparar a injeção de capital público na instituição. A operação – com os custos assumidos pelo Fundo de Reestruturação Bancária Ordenada - foi estimada entre 5 a 10 mil milhões de euros através de títulos contingentes convertíveis (a dívida transforma-se automaticamente em ações com pressupostos que afetam a solvência do emissor).

Na senda deste argumento, Mariano Rajoy acrescentava na conversa com os jornalistas que novas medidas para consolidar o saneamento do setor bancário vão sair da reunião de sexta-feira do Conselho de Ministros: "O Governo pode dar uma mensagem de tranquilidade aos depositantes da Bankia e garante que tomará e adotará todas as medidas que considere uteis para manter a estabilidade do sistema financeiro".
Nacionalização concretizada ao início da noite
A imprensa espanhola acreditava que o Governo anunciaria a nacionalização assim que encerrassem os mercados bolsistas de Madrid. O Expansión apontava para esse cenário no qual a equipa de Rajoy se preparava efetivamente para converter em capital 4,5 mil milhões de euros injetados através do Fundo de Reestruturação Bancária Ordenada, passando a deter parte do capital do Bankia, na prática uma nacionalização parcial.A banca espanhola enfrenta 184 mil milhões de euros de crédito malparado.

O Bankia detém a maior carteira de ativos imobiliários, tendo em sua posse 32 mil milhões de euros em ativos tóxicos.


Mas o anúncio da operação não teve efeitos benéficos no Bankia, que, desde segunda-feira, perdeu 15 por cento do seu valor de mercado. Só esta quarta-feira, os títulos do banco caíam 6 por cento.

O resgate foi dado como certo na segunda-feira, sendo garantido um plano de saneamento do Bankia antes de sexta-feira, com fortes alterações na estrutura do banco. A saída de Rodrigo Rato era então vista como um sinal claro de que a ajuda do Governo ia a caminho.

Rato justificava a saída como sendo o "mais conveniente para esta entidade", depois de ter atingido vários objetivos, mas a imprensa viu o abandono como um sinal de que o antigo ministro da Economia - durante a governação de José Maria Aznar - e membro do partido popular espanhol (PP) apenas ajeitava o terreno para que o Executivo PP de Mariano Rajoy pudesse entrar em cena livre de constrangimentos partidários.
Mariano Rajoy não regateará esforços
No início da semana, os jornais adiantavam que na Moncloa estava a ser preparado um plano através de títulos contingentes convertíveis e Mariano Rajoy deixava claro durante uma entrevista à Rádio Onda Cero que tudo fará “para salvar o sistema bancário”.

A disposição de Mariano Rajoy foi revelada durante o anúncio de um conjunto de reformas destinadas a conter os problemas de solvência dos bancos, um ponto polémico na sua governação, já que, desde que pôs o pé no Palácio, a agenda do Governo tem-se pautado por medidas de sentido único: austeridade e controle das finanças públicas.

Notícias do último fim-de-semana davam conta de perdas na ordem dos 23 mil milhões de euros da banca espanhola em bolsa apenas em quatro meses, desde o início do ano. Perdas agravadas a semana passada tanto pela decisão da agência de notação Standard & Poor’s de baixar o rating das entidades financeiras espanholas como por notícias a apontar para um novo período de recessão em Espanha.

Na senda da disposição do primeiro-ministro, o Governo deverá aprovar esta semana legislação destinada ao saneamento do sistema financeiro, um conjunto de medidas que garantirá no futuro a capitalização dos bancos espanhóis.

Um ponto mereceu entretanto reparo do próprio chefe do Governo: “Apenas será utilizado dinheiro público em situações limite”. O governante deixava em aberto as modalidades da intervenção, mas o Bankia era já o mais forte candidato à ajuda.
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