Europeias. Sobreviventes do Holocausto exortam os jovens a travar a extrema-direita

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Sobreviventes do Holocausto apresentam a carta aberta dirigida aos jovens Reuters

Um grupo de sobreviventes do Holocausto assinou uma carta aberta que exorta os jovens europeus a votarem nas eleições europeias deste fim de semana para impedirem a ascensão da extrema-direita.

“Quando os extremistas de direita chegaram ao poder pela última vez, ainda éramos adolescentes, alguns de nós até crianças. Eles prometeram tornar este país grande novamente. Eles prometeram que os alemães viriam em primeiro lugar”, escrevem os oito homens e mulheres sobreviventes do Holocausto, com idades entre os 81 e 102 anos.

“Não conseguimos evitar isto na altura. Mas hoje vocês podem”, apelam os sobreviventes na carta aberta
, dirigida “a todos os nossos netos e netas, eleitores de primeira viagem, a todos os democratas”.

“Para milhões de vós, as eleições europeias são as primeiras eleições das vossas vidas. Para muitos de nós, podem ser as últimas”, acrescentam. Cerca de 373 milhões de cidadãos dos 27 Estados-membros da União Europeia são chamados às urnas, de 6 a 9 de junho, para votarem nas eleições europeias.

Tudo aponta para que estas eleições sejam marcadas por uma ascensão vertiginosa da direita radical em vários países, à medida que os partidos populistas radicais de direita estão a ganhar votos e terreno em vários países da UE, de acordo com as sondagens.

Na Alemanha, por exemplo, uma sondagem de abril revelava que o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) era o preferido dos jovens entre os 14 e 29 anos, com 22% de intenções de voto – o dobro das últimas eleições.

“Se olharmos para o programa da AfD, como eles são contra as mulheres, os estrangeiros, os judeus, e como participaram numa conferência para a deportação em massa de estrangeiros da Alemanha, como os seus apoiantes apregoam o slogan nazi: ‘Alemanha para os alemães' - existem paralelos claros com o passado”, disse Eva Umlauf, sobrevivente do Auschwitz, citada pelo jornal The Guardian.
“A democracia deve ser defendida incessantemente”
Walter Frankenstein, de 99 anos, também traça um paralelo entre o quadro político atual e o da década de 1930, com “um governo democrático fraco e um partido que reuniu os descontentes”.

“As semelhanças entre aqueles tempos e os atuais estão presentes, à medida que vemos os partidos políticos a reunir os insatisfeitos e a alimentar a insatisfação, tal como fez Hitler”, disse o sobrevivente do Holocausto numa mensagem de vídeo.

“Não adianta que os jovens digam: 'Não sei em quem votar, prefiro não votar.' Por melhor ou pior que seja uma democracia, ela é sempre melhor que uma ditadura”, acrescentou. Não votar “é a pior coisa a fazer. A nossa democracia deve ser defendida incessantemente”, insistiu.

Frankenstein, que espera celebrar o seu 100.º aniversário no dia 30 de junho, disse que o melhor presente seria “que todos votassem num partido democrático para garantir a nossa democracia, que é uma coisa preciosa”.

Eva Umlauf, que foi libertada de Auschwitz juntamente com a mãe quando tinha apenas dois anos, também deixou um apelo aos mais jovens: “O número que marcaram no meu braço é um lembrete constante, um aviso de outro tempo, que nunca deve voltar. Mas para isso precisamos da participação ativa dos jovens no processo de tomada de decisão para garantir que o ódio e a propaganda de que fomos vítimas naquela época não se repitam”.
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