Esmeralda diz que "não estica" mas faz tudo por todos no bairro do Aldoar

por Lusa

 Esmeralda Mateus tem 73 anos e diz que "não estica" para chegar a toda a gente que precisa de ajuda no bairro do Aldoar, no Porto, mas todos contam com a sua generosidade infinita e atenção.

"É uma luta constante. Vivo os problemas desta gente, vivo, não queria que estivessem assim", desabafou hoje Esmeralda Mateus, em tom emocionado.

A presidente da associação de moradores do Bairro do Aldoar, construído na década de 60, faz um pouco de tudo: manda limpar o bairro, telefona de forma constante e persistente à Câmara Municipal para que seja fornecida água e luz a todos os habitantes, distribui alimentos e roupa para quem precisa e toma conta de vários idosos que estão sozinhos, certificando-se que estão bem e vão aparecendo.

No Aldoar, visitado hoje pela coordenadora do BE, Mariana Mortágua, no âmbito da campanha para as legislativas, vivem cerca de 1.400 habitantes, num total de 269 casas, 20% sem água e 40% sem luz.

"O salário é muito pouco, é o salário mínimo, não é? E não dá para nada, pagam a sua renda, pagam a luz, pagam o aluguer...", salientou a presidente da associação, que costuma dar "24 pães" a quem pede ajuda "mas hoje tem pouco e só consegue dar meia dúzia". Dá tudo o que pode, com a ajuda de algumas cadeias de supermercado que doam alimentos.

Orgulhosa, Esmeralda disse que leva o bairro às costas "com muito gosto" e aproveitou a presença da comunicação social para deixar um alerta para o poder político.

"Quando não tenho para encher e botar mais um bocado nas sacas eu fico muito triste, porque há gente que precisa e o nosso Governo esquece que as pessoas não são números, as pessoas são gente", salientou.

 A coordenadora do BE, Mariana Mortágua, fez questão de salientar que a comitiva bloquista quis começar o sexta dia de campanha oficial "num bairro pobre do Porto para falar sobre como a comunidade se organiza para poder chegar onde o Estado não chega, para poder chegar ao combate à pobreza que o Estado não é capaz de fazer".

Interrogada sobre se a gente do bairro do Aldoar tem um representante para contactar a junta de freguesia ou a câmara, Esmeralda devolveu de imediato, com a carinhosa pronúncia característica do Porto: "A representante sou eu".

"Não posso falar mais, e entra a 100% e sai logo para o outro lado a 120% que eles não querem saber, já estão cheios de ouvir falar na água. Nada se faz por esta gente, a não ser eu o pouco que o faço, eu vou fazendo. (...) Muitas das vezes, eu tenho que ir com a pessoa à câmara, eu tenho que ir com a pessoa à luz, reclamar - ainda bem que ainda falo muito, não é?", brincou.

Além de todo este apoio, Esmeralda está diariamente atenta a quem aparece no bairro ou não. Tem "um chaveiro" na associação, com chaves de várias casas do bairro onde habitam pessoas mais idosas, muitas vezes sozinhas.

"Já fui dar com uma pessoa morta, já fui dar com outra, coitada, também entrou no hospital e morreu também", lamentou.

Quem ainda reside no bairro do Aldoar, sabe que pode contar com Esmeralda Mateus, que tudo faz, e diz não ser "elástica", mas é.

 

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