O segundo confronto na televisão pública colocou frente a frente o presidente do Chega, André Ventura, e o porta-voz do Livre, Rui Tavares. Saúde, economia e a situação internacional foram alguns dos temas num debate aceso entre os dois candidatos.
André Ventura e Rui Tavares. Do "bar aberto" no SNS ao "imposto" de Trump
Foto: Pedro A. Pina - RTP
André Ventura acusa Rui Tavares de querer um SNS com "bar aberto". O porta-voz do Livre responde que seria uma "enorme injustiça" vedar o acesso dos imigrantes à saúde. Distantes em praticamente tudo, foi a visão do mundo que mais os afastou.
Rui Tavares acusa André Ventura de delirar no debate
No final do debate, Rui Tavares acusou Ventura de falta de honestidade e seriedade. Sobre a acusação do líder do Chega de não responder às suas questões durante o debate, o líder do Livre considerou que "André Ventura delirou completamente" durante o debate.
“Tal como a água e o azeite não se misturam é muito natural que a verdade e a mentira não se misturem. A honestidade e a falta dela não se misturam, a seriedade e a honestidade (de quem tem) e de quem não tem não se misturam”, afirmou.
Nas declarações finais, o líder do Chega acusou Rui Tavares de não responder às suas questões feitas durante o debate. André Ventura afirmou que existe um "fosso enorme" entre o Chega e o Livre e considerou que o partido de Rui Tavares ser um "partido de nicho".
Sobre o tema da corrupção, André Ventura diz que o Chega “foi o partido que mais apresentou propostas para a corrupção e o Livre, em 75% delas, votou contra”.
Rui Tavares, por sua vez, recordou a polémica de Luís Montenegro e da empresa familiar para reiterar que o país vai a eleições “por causa de má governação”.
O porta-voz do Livre propõe que Portugal siga o exemplo de países como a Dinamarca ou Nova Zelândia e imponha “medidas simples que impedem que o delito chegue a acontecer, porque não dão a oportunidade para que a ocasião faça o ladrão”.
“Temos que nos preservar contra os vigaristas na política. As vigarices pagam-se caro”, rematou.
André Ventura criticou a "irresponsabilidade" de Rui Tavares ao assumir um cenário em que Portugal prescinde dos Estados Unidos como garante de segurança, considerando que partidos como o Livre pretendem a saída da NATO.
Rui Tavares responde com a necessidade do reforço da posição europeia. "É nesta situação que os amigos de Ventura nos colocam", aponta.
O porta-voz do Livre receia ainda o que poderá acontecer "quanto Trump se lembrar que os Açores existem", apontando ao comportamento do líder norte-americano a respeito da Gronelândia.
Rui Tavares argumentou, no plano internacional, que a Europa deve conseguir reforçar-se perante as ameaças mundiais à democracia. Criticou ainda a proximidade do líder do Chega a Viktor Órban, Bolsonaro, Marine Le Pen e Donald Trump.
"A tarifa é na verdade um imposto como o IVA" que vai prejudicar os mais pobres, argumenta o porta-voz do Livre a respeito das tarifas impostas pelos Estados Unidos. "É preciso ir dizer a estas pessoas quem esteve ao lado de Trump", acrescentou Rui Tavares a respeito da "bomba atómica de guerra comercial".
Questionado sobre se continua a apoiar Donald Trump, André Ventura considera que "temos de proteger o nosso mercado" e "temos de aprender".
"Quero mesmo fazer Portugal grande novamente", afirmou o líder do Chega, repetindo o lema do presidente norte-americano nos Estados Unidos e afirmando que o país deve colocar as tarifas que forem necessárias.
"Eu sou candidato a primeiro-ministro". Ventura desvaloriza adversário
André Ventura considerou que há uma grande diferença no debate entre o Chega e o Livre, considerando que "é candidato a primeiro-ministro" enquanto Rui Tavares só luta "por três ou quatro deputados". Questionado sobre governabilidade, Ventura disse que os seus 50 deputados permitiram acabar com portagens, alterar o IRS Jovem proposto Governo da AD e ainda mudar políticas de imigração.
Rui Tavares defende "maiorias coerentes e estáveis" para "sair do buraco"
O líder do Livre afirmou que o país "tem de sair do buraco onde fomos metidos" e defende que se procurem "maiorias coerentes e estáveis" para governar que, considerou, não se encontrarem à direita.
André Ventura acusa Rui Tavares de querer dar cinco mil euros a bebés, mesmo aos que não são portugueses.
“Podem vir para cá de comboio, sacam 5000 aos portugueses”, atirou o líder do Chega, acrescentando que esta medida “teria um custo de cerca 500 milhões de euros”.
Questionado sobre a proposta do Livre relativamente à herança social que passa por dar 5000 a cada bebé, Rui Tavares explica que “aquilo que o Livre propõe é que haja uma nova geração de políticas sociais, uma medida que sairá mais barata do que, por exemplo, o IRS jovem, e que permite introduzir justiça no caminho da vida das pessoas quando entram na vida adulta”.
Fazendo um parêntesis no debate, Rui Tavares aproveitou para salientar que “a mentira não deve ter lugar na política em Portugal” e apelou a todos os portugueses a detetarem e a assinalarem uma mentira quando é dita por um político.
“Se eu for a identificar e a desmontar cada mentira de André Ventura em todos estes debates, não fazia outra coisa e não teria tempo para passar as minhas próprias ideias e soluções para o país”, disse.
Sobre a proposta do PS para o IVA zero no cabaz alimentar, André Ventura diz que esta é uma proposta original do Chega e acusa o PS de ser “um partido irresponsável e eleitoralista”.
“Em dezembro de 2023 o Chega é que propôs que o cabaz alimentar tivesse iva zero. Na altura o PS votou contra porque estava no governo e agora está na oposição”, afirmou.
Sobre o impacto da imigração, o porta-voz do Livre recusa que possa ser negada assistência a imigrantes, lembrando que há muitos trabalhadores estrangeiros no próprio SNS.
André Ventura responde que a saúde em Portugal se tornou num "bar aberto", lembrando em concreto o caso das Gémeas.
O porta-voz do Livre considerou que a Saúde é a principal preocupação dos portugueses e destaca as dificuldades criadas pela perda de profissionais para os privados e para o estrangeiro.
Rui Tavares argumenta ainda que a Saúde pública está a atuar com "uma venda nos olhos e uma mão atada atrás as costas", uma vez que os privados têm conhecimento de todos os dados do SNS e o contrário não acontece. Defende que haja a mesma informação "para toda a gente".
Questionado sobre o moderador do debate sobre a situação na Saúde, André Ventura preferiu destacar que foi hoje conhecido que há mais de 1,6 milhões de imigrantes em Portugal. O líder do Chega destaca que este é um dos elementos que deixa a Saúde sob pressão em Portugal.
Considerou que o Livre é um dos partidos responsáveis por esta situação e que os imigrantes "não podem vir para cá tratar-se".
Queixa do Livre sobre debates. ERC não vê "qualquer impedimento legal" à escolha de Nuno Melo
“Não existe qualquer impedimento legal à indicação para participação nos debates, por parte da coligação PSD/CDS-PP, dos dois líderes partidários”
João Marques - RTP
A Entidade Reguladora para a Comunicação Social fez saber, na noite de segunda-feira, que não lhe cabe decidir sobre quem representa as candidaturas às eleições legislativas nos debates televisivos. Em deliberação sobre a queixa do Livre contra o PSD e as estações RTP, SIC e TVI, a propósito da indicação de Nuno Melo para os frente-a-frente com este partido, o BE e o PAN, a estrutura estima que “não existe qualquer impedimento legal” a tal opção.
A coligação entre social-democratas e democratas-cristãos apontou o líder do CDS-PP, Nuno Melo, em vez de Luís Montenegro, para os debates nas televisões com Bloco de Esquerda, Livre e Pessoas-Animais-Natureza.
O partido de Rui Tavares formalizou, no passado dia 1 de abril, queixas junto da ERC e da Comissão Nacional de Eleições, alegando uma “situação de desvantagem” relativamente aos demais candidatos às eleições de 18 de maio.
A Entidade Reguladora para a Comunicação Social deu agora a conhecer a deliberação ERC/2025/126: “Não se encontra na esfera de decisão da ERC a possibilidade de definir quem deve representar determinada candidatura, nem qual o representante que poderá ou não ser aceite por parte dos operadores de televisão”.
Isto desde que sejam “salvaguardados os preceitos da Lei n.º 72-A/2015, de 23 de julho, que estabelece o regime jurídico da cobertura jornalística em período eleitoral”, ainda segundo a deliberação.A ERC reconhece, todavia, como “legítima a expectativa do partido Livre de debater com o líder do PSD e cabeça de lista da coligação PSD/CDS-PP”.
O Conselho Regulador conclui que “não existe qualquer impedimento legal à indicação para participação nos debates, por parte da coligação PSD/CDS-PP, dos dois líderes partidários que a integram”, para acrescentar que “o modelo dos debates resultou de uma programação e calendarização previamente acordadas entre operadores de televisão, apresentadas às diversas candidaturas”. O calendário
Os debates televisivos que antecedem as eleições legislativas antecipadas começaram na segunda-feira com os frente-a-frente entre os líderes da AD, Luís Montenegro, e do PCP, Paulo Raimundo, na TVI. André Ventura, número um do Chega, e Inês Sousa Real, coordenadora do PAN, mediram forças na RTP3.
Terça-feira, 8 de abril
• 21h00: Pedro Nuno Santos (PS) x Mariana Mortágua (BE) - SIC
• 22h00: André Ventura (Chega) x Rui Tavares (Livre) - RTP3
Quarta-feira, 9 de abril
• 18h00: Paulo Raimundo (CDU) x Rui Tavares (Livre) - SIC Notícias
Quinta-feira, 10 de abril
• 21h00: Pedro Nuno Santos (PS) x Rui Rocha (IL) - RTP1
• 22h00: Mariana Mortágua (BE) x Inês Sousa Real (PAN) - CNN Portugal
Sexta-feira, 11 de abril
• 21h00: Nuno Melo (AD) x Rui Tavares (Livre) - TVI
• 22h00: Rui Rocha (IL) x Paulo Raimundo (CDU) - SIC Notícias
Sábado, 12 de abril
• 21h00: Pedro Nuno Santos (PS) x Inês Sousa Real (PAN) - TVI
• 22h00: Mariana Mortágua (BE) x Paulo Raimundo (CDU) - RTP3
Domingo, 13 de abril
• 21h00: Nuno Melo (AD) x Inês Sousa Real (PAN) - SIC
• 22h00: Rui Rocha (IL) x Rui Tavares (Livre) - CNN Portugal
Segunda-feira, 14 de abril
• 21h00: Luís Montenegro (AD) x Rui Rocha (IL) - RTP1
• 22h00: Mariana Mortágua (BE) x Rui Tavares (Livre) - SIC Notícias
Terça-feira, 15 de abril
• 21h00: Pedro Nuno Santos (PS) x André Ventura (Chega) - TVI
• 22h00: Rui Rocha (IL) x Inês Sousa Real (PAN) - SIC Notícias
Quarta-feira, 16 de abril
• 21h00: Nuno Melo (AD) x Mariana Mortágua (BE) - RTP1
• 22h00: André Ventura (Chega) x Paulo Raimundo (CDU) - CNN Portugal
Quinta-feira, 17 de abril
• 21h00: Pedro Nuno Santos (PS) x Rui Tavares (Livre) - SIC
• 22h00: André Ventura (Chega) x Rui Rocha (IL) - RTP3
Segunda-feira, 21 de abril
• 21h00: Pedro Nuno Santos (PS) x Paulo Raimundo (CDU) - RTP1
• 22h00: André Ventura (Chega) x Mariana Mortágua (BE) - SIC Notícias
Terça-feira, 22 de abril
• 18h00: Rui Tavares (Livre) x Inês Sousa Real (PAN) - RTP3
Quarta-feira, 23 de abril
• 18h00: Paulo Raimundo (CDU) x Inês Sousa Real (PAN) - CNN Portugal
Quinta-feira, 24 de abril
• 21h00: Luís Montenegro (AD) x André Ventura (Chega) - SIC
• 22h00: Rui Rocha (IL) x Mariana Mortágua (BE) - CNN Portugal
Segunda-feira, 28 de abril
• 21h00: Luís Montenegro (AD) x Pedro Nuno Santos (PS) - simultâneo SIC/RTP/TVI
Terça-feira , 30 de maio
• Debate entre líderes dos partidos com assento parlamentar - RTP
Segunda-feira, 5 de maio
• 09h30: Debate das rádios entre líderes dos partidos com assento parlamentar - simultâneo Antena 1/Observador/Renascença/TSF
Quinta-feira, 6 de maio
• Debate entre os partidos sem assento parlamentar – RTP
Diante da posição da AD - Coligação PSD/CDS, o BE informou as direções das televisões de que se fará representar no debate com o presidente do CDS-PP, a 16 de abril, na RTP1, por “um dos cabeças de lista”, reiterando a disponibilidade de Mariana Mortágua para debater com Luís Montenegro.
No último sábado, o partido Alternativa Democrática Nacional (ADN) interpôs uma providência cautelar junto do Tribunal Cível de Lisboa a reclamar a inclusão nos debates televisivos.
c/ Lusa
Nota: o artigo foi atualizado às 19h02 de 8 de abril com as novas datas do debate entre líderes dos partidos com assento parlamentar, na RTP, e entre os líderes dos partidos sem assento parlamentar, na RTP.
