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Eleições EUA. António Costa pode ter "papel de mediação" entre UE e Trump

por João Alexandre - Antena 1

Antena 1

O novo presidente do Conselho Europeu pode servir de mediador na relação entre a União Europeia e os Estados Unidos durante a liderança de Donald Trump ao longo dos próximos quatro anos. A opinião é de Liliana Reis, deputada do PSD e especialista em Relações Internacionais, que, em declarações no programa Entre Políticos, na Antena 1, sublinhou a visão atlântica do ex-primeiro-ministro português.

"Considero que, neste momento, António Costa pode ter - até porque é isso que lhe é exigido enquanto presidente do Conselho Europeu - o papel de mediação. E, o facto de ele ser de um país tradicionalmente atlântico, pode colocar a política da União Europeia - ou, pelo menos a harmonização da política externa europeia - no sítio certo", afirma a professora universitária.

Liliana Reis entende, no entanto, que há motivos de "preocupação" com a eleição da figura que liderou os EUA entre 2016 e 2020, e dá como exemplo a reação por parte dos mercados.

"O que as bolsas europeias sinalizaram hoje é que há motivo de preocupação. Do ponto de vista económico, o que foi prometido por Donald Trump é que ia agravar as taxas alfandegárias. Por isso, é expectável que as taxas alfandegárias de produtos exportados para os Estados Unidos venham a ser condicionadas. Entre 10 a 20 por cento", assinala.
Há uma Europa "cercada" pelos Estados Unidos
Já Paulo Pisco, deputado eleito pelo círculo da Europa e coordenador dos deputados do PS na comissão parlamentar de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas, aponta para um território europeu cada vez mais "cercado" pela economia norte-americana.

"A Europa está cercada. A Europa já estava cercada há alguns anos, mas, agora, este sentimento de cerco da Europa julgo que ainda se vai acentuar mais. Com uma administração democrata nós tínhamos cooperação e havia um diálogo. Eu não sei se esse diálogo se vai manter nos mesmos termos agora com Donald Trump", sublinha o socialista, que acrescenta, no entanto, a visão "protecionista" que tem marcado a política dos EUA ao longo de décadas.

O deputado do PS salienta ainda que o mandato republicano na Casa Branca terá de levar Bruxelas a andar mais depressa e a encontrar novos caminhos: "Terá de ter um impulso maior. E, é claro que todos os cargos de liderança europeia são fundamentais para a Europa se poder afirmar", diz Paulo Pisco, que refere as "reconhecidas capacidades negociais" de António Costa e a "cultura específica" de Portugal que, ao longo dos últimos anos, tem conseguido colocar figuras como António Guterres ou António Vitorino em posições de destaque.
União Europeia precisa de "dar corda aos sapatos"
Para Rodrigo Saraiva, ex-líder parlamentar da Iniciativa Liberal e vice-presidente da Assembleia da República, o momento de viragem na administração norte-americana obriga os europeus a serem menos dependentes das restantes economias e a estarem mais preparados em matérias como a defesa.

"É bom que a Europa comece a dar corda aos sapatos, como costuma dizer o povo, é mesmo isto. E esta questão não é de hoje. Em duas perspetivas: em termos políticos e geopolíticos. E, isto leva-nos para a questão da defesa e do investimento que é preciso fazer em defesa", sublinha o deputado.

E vinca: "Até há poucos anos não era consensual que os países deviam todos contribuir dois por cento [do Produto Interno Bruto] para a NATO. Hoje em dia isso é consensual. E começamos a ver que essa questão começa a ser 'too little, too late', já deveríamos estar todos a falar mais".

Rodrigo Saraiva lembra ainda que houve um "desinvestimento" dos EUA em relação à Europa - pelo menos desde a liderança de Barack Obama - e uma maior intensidade nas relações com o Pacífico e conclui: "A Europa devia ter percebido este movimento".

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