“É preciso refletir sobre a dívida” e não deixar que a opinião pública fique “anestesiada”. A opinião é de Jaime Gama, presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos, entrevistado na Antena 1.
Ao longo da entrevista, sem nunca querer comentar a política portuguesa quotidiana, Jaime Gama interrogou-se sobre o facto de o Banco Central Europeu poder deixar de comprar dívida portuguesa e acrescentou “há uma ilusão geral muito grande em relação à economia portuguesa”.
Nesse sentido, considera Jaime Gama que “a opinião pública está anestesiada porque lhe é escamoteada a compreensão do problema [da dívida] e lhe é permanentemente afirmada a oferta ilusória que é impraticável”. E adverte: “A realidade far-se-á sentir na altura própria”.
Ainda sobre a dívida, Gama ironizou dizendo que há a ilusão “de que sozinhos podemos tudo contra o mundo e que temos capacidade de, como devedores, limpar o nosso passivo com o aplauso geral dos nossos credores, penso que há uma ingenuidade enorme”. E vai mais longe, ao afirmar que “esta é uma matéria onde é possível fazer toda a espécie de demagogia, mentindo”.
O também antigo ministro de pastas como a Administração Interna e os Negócios Estrangeiros de governos liderados por Mário Soares e António Guterres afirma que “todos [os atuais protagonistas da solução governativa] preferem esconder-se numa cortina de sombras para não tratar ou secundarizar as questões essenciais”, no que se refere aos problemas europeus.
Sobre Marcelo elogiou a “sua imensa paciência” para o cargo e recorreu à ironia para falar daqueles que hoje se revêm na sua candidatura.
Não se esperem, por outro lado, livros de memórias de Jaime Gama, que, para já, não lerá os livros de Cavaco Silva e de Jorge Sampaio. Fala de memórias de ressentimentos, de ajustes, de tomadores de notas de reuniões.
A concluir confessou que leu, na livraria, as quatro referências que Cavaco Silva lhe fez e ficou satisfeito: “Todas irrelevantes, anódinas”.