Daniel Adrião dirige-se aos militantes livres sem dependência de lugares políticos

por Lusa

O candidato a secretário-geral do PS considera que a sua moção se dirige aos militantes socialistas sem dependência de lugares políticos e que é essencial a autocrítica face aos "erros do partido" em vez de "unanimismo".

"É verdade que o partido tem vencido eleições e continua a merecer a preferência dos portugueses, mas também é verdade que tem tido dificuldade em reconhecer que cometeu erros nalgumas das suas escolhas, que preferiu uma ação política mais reativa e conjuntural, e que tem negligenciado um debate alargado, aberto e mobilizador sobre o seu futuro e sobre uma visão integrada e estratégica para o país", lê-se na moção de estratégia deste dirigente socialista.

Daniel Adrião, que se candidata em alternativa ao ministro José Luís Carneiro e ao deputado Pedro Nuno Santos às eleições diretas internas de 15 e 16 de dezembro para o cargo de secretário-geral do PS, afirma que se dirige sobretudo aos "militantes livres".

"A nossa candidatura não tem o apoio de ilustres e notáveis do partido, de ministros, do grupo parlamentar ou de líderes de federações. Não o procurámos. Sabemos e até compreendemos que quem está no poder prefira o conforto e garantias do seu círculo de amizades, de influências e de privilégios", salienta o candidato no texto da sua moção, intitulada "Democracia plena".

Pelo contrário, Daniel Adrião, que se tem oposto internamente às direções formadas por António Costa desde 2016, sustenta que o seu alvo são os militantes que "não estão comprometidos nem dependem de lugares de nomeação política".

"Ao longo dos últimos sete anos, de forma continuada e sistemática, assumimos a defesa de uma democracia plena que envolvesse maior transparência, integridade, escrutínio, responsabilização e meritocracia na escolha dos titulares de cargos políticos e partidários, que assegure a centralidade e o primado do partido no seu compromisso com os interesses estratégicos do país, e que reforçasse os valores fundacionais da História do PS", lê-se.

Ao longo dos últimos sete anos, de acordo com Daniel Adrião, os membros da sua sensibilidade interna no PS não se deixaram "condicionar por uma mensagem de fácil, por um cómodo e conveniente unanimismo em torno do líder do partido".

Neste contexto, faz uma alusão indireta aos episódios que motivaram a queda do Governo: "Alertámos para os perigos que poderiam advir das más práticas e de escolhas erradas, e apelámos a que se operassem mudanças urgentes. Fomos sempre ignorados. E infelizmente, em vários pontos, o tempo veio dar-nos razão".

Ainda no que respeita ao funcionamento interno do PS, este dirigente reclama "uma separação clara entre quem exerce cargos dirigentes executivos no partido e quem exerce cargos governamentais, separando o aparelho do partido do aparelho do Estado".

Já no plano programático, a moção de estratégia de Daniel Adrião apresenta três pilares, o primeiro dos quais visa dar aos militantes "poder de decisão na escolha dos candidatos a titulares cargos políticos, quer a nível autárquico, quer a nível nacional, designadamente para a escolha dos candidatos a deputados à Assembleia da República".

"Queremos regenerar do modelo de funcionamento e organização do partido, tornando-o mais mobilizador e participado pelos militantes", designadamente "através da introdução de mecanismos de democracia participativa, como as eleições primárias e os referendos internos", refere-se.

Daniel Adrião insiste, ainda, numa reforma do sistema eleitoral, "eliminado o sistema de listas fechadas e bloqueadas, de forma a criar uma relação direta entre eleitos e eleitores". Um ponto em que defende a introdução do voto preferencial e nominal, "crucial para estimular a participação cívica, a prestação de contas e o incremento da meritocracia nas instituições democráticas".

O candidato à liderança dos socialistas propõe um "pacto de regime" para a habitação, a definição ao nível económico de prioridades estratégicas de longo prazo, visando estimular exportações de alto valor acrescentado e aumentar por essa via a distribuição de riqueza "de forma justa e equitativa", e quer mudanças ao nível do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

"Queremos colocar a saúde como uma prioridade estratégica nacional e não apenas como uma resposta social", adverte Daniel Adrião, realçando, igualmente, a importância de o Estado proporcionar "condições de trabalho atrativas para todos os profissionais de saúde".

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