O primeiro-ministro reiterou esta segunda-feira que a informação que tem sobre o número de vítimas no incêndio de Pedrógão Grande "é a mesma que a opinião pública tem" e corresponde aos "dados fornecidos pelos organismos oficiais". António Costa sublinhou que, se alguém tem conhecimento de um número maior de vítimas, deve comunicá-lo à Polícia Judiciária e ao Ministério Público. A PGR admite mais investigações.
“Naturalmente há um inquérito aberto pelo Ministério Público e pela Polícia Judiciária. Portanto, se alguém tem conhecimento de um maior número de vítimas deve comunicar imediatamente esses factos à Polícia Judiciária e ao Ministério Público”.
António Costa garantiu aos jornalistas que "todas as aldeias foram vistas casa a casa, quer pela Segurança Social quer pelas autoridades", sublinhando que ninguém "reportou mais nenhuma vítima para além daquelas que foram reportadas".
"Inquérito crime está a decorrer"
"A estatística não altera a realidade. As pessoas ou estão vivas ou infelizmente faleceram. Essa é que é a realidade. Não é o Governo que contabiliza. Quem define são as autoridades oficiais. É o Instituto Nacional de Medicina Legal, mas como já disse há um inquérito crime que está a decorrer", explicou o primeiro-ministro.
António Costa referiu ainda que a lista de desaparecidos "foi exaustivamente verificada e todas as pessoas dadas como desaparecidas foram, entretanto, identificadas".
E finaliza: "Os números de que eu disponho são os números que têm sido públicos por parte das autoridades. Se as autoridades vierem a identificar que há mais, elas serão mais".
A RTP contactou o Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses para obter esclarecimentos, mas o assunto foi encaminhado para o Ministério da Justiça. Até ao momento ainda não obtivemos resposta.
"Não existe lista secreta"
Também a ministra da Administração Interna garantiu esta segunda-feira que "não existe uma lista secreta" das vítimas mortais do incêndio de Pedrógão Grande, sublinhando que os nomes constam de um processo judicial que está em segredo de justiça.
"Não existe nenhuma lista secreta. Todas as pessoas foram identificadas pelo Instituto de Medicina Legal" como tendo morrido "na consequência direta desse incêndio", disse aos jornalistas Constança Urbano de Sousa.
O jornal i divulgou esta segunda-feira uma lista de vítimas mortais em constante atualização. Foi Isabel Monteiro, empresária de 57 anos, natural de Lisboa, queem decidiu ir para o terreno contar as vítimas e reuniu uma base de dados.
Ministro da Saúde critica empresária
A intenção desta empresária era criar uma lista de vítimas para a criação de um memorial na Estrada Nacional 236, conhecida como estrada da morte, mas foi ao recolher a informação junto das famílias, funerárias, bombeiros e dados da comunicação social que Isabel Monteiro constatou que o número de vítimas mortais seria superior ao número oficial divulgado pelas instituições do Estado.
O ministro da Saúde lamenta que se faça aproveitamento sobre o caso dos incêndios de Pedrógão Grande e não poupa críticas à empresária que divulgou novos dados.
"Em vez de andar a fazer notícias nos jornais, que se dirija às autoridades policiais e cumpra o dever de, em silêncio, respeitar a memória dos que partiram", concluiu Adalberto Campos Fernandes.
A Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) também já tinha reiterado esta segunda-feira que desconhece a existência de mais vítimas além das 64 confirmadas pelas autoridades no incêndio de Pedrógão Grande.
“O número final de vítimas mortais do incêndio de Pedrógão está contabilizado em 64 vítimas. Estamos a falar, sobretudo, das vítimas com queimaduras e inalação de fumos. Estes foram os critérios que foram definidos e estes são os números apurados: 64 vítimas mortais”, disse Patrícia Gaspar, da ANPC, aos jornalistas. E sublinhou que o registo teve por base critérios definidos pelas autoridades competentes.
“Todas as situações posteriores que possam surgir terão que ser obviamente avaliadas por aquelas que são as autoridades com competência nesta matéria. Volto a repetir: saúde e medicina legal”, concluiu a responsável da ANPC.
PGR admite mais investigações
A Procuradoria Geral da República (PGR) admitiu esta segunda-feira que todos os elementos que têm vindo a público, nomeadamente através da imprensa, "serão objeto de análise e investigação". E apela a todos os que tenham conhecimento de "quaisquer factos relacionados com os incêndios de Pedrógão Grande o envio dos mesmos ao Ministério Público".
Face às notícias sobre o número de vítimas, a PGR esclareceu ainda que o Ministério Público, no momento em que teve conhecimento do incêndio de Pedrógão Grande e suas consequências, “instaurou inquérito nos termos legais, sendo as investigações desde logo iniciadas em estreita colaboração com a Polícia Judiciária, a Guarda Nacional Republicana e o apoio do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses e das demais instituições envolvidas”.
Em nota enviada à comunicação social, o Ministério Público acrescenta que “no âmbito deste inquérito foram identificadas, até ao momento, 64 vítimas mortais. Foi ainda instaurado um outro inquérito com vista à investigação das circunstâncias que rodearam a morte de mais uma vítima no âmbito de um acidente de viação”.
O incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande no dia 17 de junho provocou - oficialmente - 64 mortos e mais de 200 feridos. Só foi dado como extinto uma semana depois.