Congresso PCP. Discurso de João Ferreira marcado por várias críticas a Marcelo

por RTP
António Cotrim - Lusa

Num discurso que se ouviu no segundo dia do XXI Congresso do PCP, que decorre em Loures, João Ferreira, o candidato comunista às presidenciais de janeiro, apontou dez falhas ao Presidente da República. Na opinião do candidato, Marcelo Rebelo de Sousa não cumpriu os valores que a Constituição lhe confere e "tomou sempre partido dos interesses financeiros".

João Ferreira centrou o seu discurso deste sábado no “mal” de Marcelo Rebelo de Sousa durante os últimos cinco anos, sem nunca mencionar o seu nome.

Há "valores de Abril" na Constituição que o atual Presidente da República ignorou, defendeu o eurodeputado comunista
, e teve "uma ação que contribuiu, direta ou indiretamente, para degradar as condições de vida dos trabalhadores”.

Na opinião de João Ferreira, esta foi a primeira falha de Marcelo, seguindo-se o que fez para "conter e nunca para promover a evolução dos salários, num país em que muitos empobrecem a trabalhar", para "pôr em causa o Serviço Nacional de Saúde (SNS), caucionando o desvio de recursos públicos para alimentar o negócio da doença".

O Presidente da República falhou ainda, aponta o candidato, ao tomar partido pelos “interesses dos grupos económicos e financeiros”, ao lembrar-se apenas do “interior abandonado depois da catástrofe” dos incêndios e ao não valorizar “a Cultura e quem nela trabalha”.

Em suma, Marcelo Rebelo de Sousa, “num momento crítico”, ajudou a “fragilizar direitos, liberdades e garantias, intrínsecos ao regime democrático, algo que a emergência sanitária não justifica”.

Ao invés, lembrou João Ferreira, um Presidente da República deve “mobilizar o povo português” na defesa da “valorização do trabalho e dos portugueses”, no reforço dos serviços público e do SNS ou ainda no “aprofundamento da democracia e no fortalecimento das suas raízes na sociedade portuguesa”.

Estes são valores inscritos "nas páginas na Constituição" e não podem ser "letra morta como alguns querem", disse o candidato apoiado pelo PCP.
Ataques à direita
Durante o seu discurso, João Ferreira fez ainda um ataque aos partidos de direita, com uma referência implícita à extrema-direita e ao Chega, que não nomeou.

"Os problemas estruturais que Portugal arrasta não serão resolvidos com a política de direita que os criou, nem obviamente com as variantes demagógicas, populistas e assumidamente antidemocráticas dessa política
”, disse o comunista. Pelo contrário, os problemas “resolvem-se com a ação determinada” do povo, acrescentou.

“Um povo que aclamou o Mestre de Avis, resgatou do domínio espanhol a independência nacional, derrubou uma monarquia decrépita e instaurou a República, combateu o fascismo e forjou esse tempo luminoso de Abril, saberá encontrar e percorrer os caminhos do desenvolvimento e do progresso, que concretizem as suas mais fundas aspirações”, afirmou João Ferreira.

Aplaudido de pé no início e no final, João Ferreira disse ser necessário "abrir um horizonte de esperança na vida deste país" nestas eleições.

"Seja pelo conteúdo concreto dos poderes do Presidente da República, seja pela dinâmica que estas eleições comportam e induzem, elas não deixarão de influenciar significativamente, para o bem ou para o mal, o curso da vida nacional", alertou o candidato presidencial do PCP.
Foco nas autárquicas
Neste segundo dia do XXI Congresso do PCP, o dirigente comunista Armindo Miranda interveio para definir as linhas de trabalho prioritárias para as eleições autárquicas marcadas para outubro de 2021, apontando janeiro do próximo ano como a data de início desse trabalho.

De forma a “proporcionar a um número mais alargado de portugueses os benefícios da gestão distintiva da CDU” [coligação PCP/PEV], as linhas de trabalho do partido, segundo o dirigente, terão que passar, “no imediato”, pela “ação autárquica marcada pela proximidade”, reforçando e criando comissões de concelhia e de freguesia, “responsabilizando camaradas e amigos com tarefas concretas”.

Sem estabelecer objetivos eleitorais concretos, o PCP pretende “consolidar e reforçar a sua força com mais votos e mais mandatos”, concorrendo a todos os órgãos municipais e ao “maior numero de freguesias possível”, afirmando esperar "um grande resultado".

Além da eleição do novo comité central, o órgão máximo entre congressos vai nomear este sábado o secretário-geral do partido. Apesar de não existir ainda uma decisão, tudo aponta para a continuação de Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP desde 2004.

c/Lusa
PUB