"Compreendo muito bem as razões". Medina lamenta passo atrás de Sérgio Figueiredo

por RTP
“Lamento pois não poder contar com o valioso contributo de Sérgio Figueiredo ao serviço do interesse público”, reagiu Fernando Medina Lusa

O ministro das Finanças reagiu esta quarta-feira à renúncia de Sérgio Figueiredo ao cargo de consultor no seu gabinete, lamentando “profundamente a decisão”. Em nota enviada às redações, Fernando Medina afirma também compreender “muito bem as razões que a motivaram”.

“Considero que a melhoria da qualidade da decisão através do contacto regular e informado com os principais agentes económicos e sociais do país é uma necessidade específica do Ministério das Finanças, que acrescenta às avaliações já desenvolvidas por outros organismos públicos”, escreve o gabinete de Medina.

“Sérgio Figueiredo reúne excelentes condições para desempenhar tais funções. A sua formação em Economia; a experiência de quase três décadas como jornalista e diretor de diversos órgãos de comunicação social, incluindo dois jornais económicos – tendo-se afirmado nessa qualidade como um dos mais destacados analistas nacionais de política económica; e a liderança de cerca de sete anos e meio de uma fundação nacional conferem-lhe experiência e qualificações que o distinguem”, prossegue.

“Lamento pois não poder contar com o valioso contributo de Sérgio Figueiredo ao serviço do interesse público”, remata a nota.O jornal Público noticiara, a 9 de agosto, que o Ministério das Finanças tinha contratado o antigo diretor de informação da TVI e ex-administrador da Fundação EDP como consultor estratégico para fazer a avaliação e monitorização do impacto das políticas públicas, escolha que motivou críticas de partidos e comentadores.

Sérgio Figueiredo justifica a sua decisão em artigo de opinião publicado esta quarta-feira no Jornal de Negócios. O antigo diretor de informação da TVI escreve que “ficou insuportável tanta agressividade e tamanha afronta, tantos insultos e insinuações”.

Figueiredo tinha aceitado o convite do ministro das Finanças para desempenhar funções de implementação e acompanhamento de políticas públicas - a contratação gerou uma série de críticas por parte dos partidos políticos, com o PSD a falar mesmo em troca de favores.
"Desfecho inevitável"

Já esta manhã, na rede social Twitter, o líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares, escreveu que este foi o "desfecho inevitável": "Mostra como é possível travar os caprichos da maioria absoluta com a mobilização da opinião pública. Mas não absolve Medina de um processo reprovável, nem A. Costa de uma desresponsabilização inaceitável".

Por sua vez, o PCP considerou que a renúncia foi o "desfecho natural" para uma decisão da tutela baseada em "critérios discutíveis".

"Ele lá saberá", reagiu o membro da Comissão Política do Comité Central do PCP João Dias Coelho, após ser questionado pelos jornalistas sobre a renúncia de Sérgio Figueiredo, durante uma conferência de imprensa na sede do partido, em Lisboa.

a Iniciativa Liberal considera que "a desistência de Sérgio Figueiredo não apaga a tentativa e desejo de Fernando Medina em devolver a contratação passada".

"Não apaga a forma despudurada como o PS usa e abusa o dinheiro dos contribuintes. Não apaga a forma como o PS recorre aos ajustes directos para contornar o escrutínio. Não apaga a forma como o PS desconsidera os serviços da administração pública. Não apaga que o primeiro-ministro tenha afirmado que o assunto estava morto e enterrado. E não apaga mais um episódio demonstrativo em como o PS se confunde com o Estado, achando que o Estado é um meio para os seus fins de poder absoluto", reagiu o partido.
"Para mim chega!"
"Para mim chega! Sou a partir deste momento o ex-futuro consultor do ministro das Finanças. Sossego as almas mais sobressaltadas de que não cheguei a receber um cêntimo, sequer formalizei o contrato que desde a semana passada esperava pela minha assinatura", pode ler-se no texto de Sérgio Figueiredo.

No artigo agora publicado, Sérgio Figueiredo elenca as “quatro mentiras por detrás de uma desistência”, referindo que foi atacado por “não ter competências para as funções, o valor do salário, não ter exclusividade e a troca de favores entre o contratado e o contratante”.

Sobre os alegados “favores”, salienta que é um dos argumentos mais “repetidos” e “dos mais ofensivos”, defendendo que “não se provam de forma alguma, não se baseiam em factualidades, trata-se apenas e só de processos de intenções e julgamentos de caráter”.

“Basicamente, o raciocínio é tão primário como insultuoso: Fernando Medina quando precisava de exposição, Sérgio Figueiredo deu-lhe palco na TVI; Sérgio Figueiredo quando precisava de emprego, Fernando Medina contratou-o como consultor”, escreve, explicando que conheceu atual ministro das Finanças através do canal de televisão.

E lembrou que Medina também teve espaços de opinião no Correio da Manhã e na Rádio Renascença. "Que favores deverá Medina a Octávio Ribeiro e a Graça Franco que, tal como eu, deixaram, entretanto, de liderar aqueles projetos de informação?”, questiona ainda, considerando “espantoso que, pela mais elementar regra de coerência, aquele jornal e aquela rádio repliquem e ampliem a suspeição”, quando “fizeram a opção editorial idêntica”.

Quanto ao salário, Sérgio Figueiredo salienta que esta questão teve “grande relevância nacional” pelos “cerca de 70 mil euros anuais, o que corresponde ao valor de 5.800 euros brutos por mês” que iria auferir e não é “mais do que ganha o próprio ministro”.

c/ Lusa
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