Centeno passa receita de Lisboa a Madrid "diga Bruxelas o que disser"

por Carlos Santos Neves - RTP
“As reformas precisam de tempo, ainda que essa não seja a receita de Bruxelas”, advoga o ministro português das Finanças em entrevista ao jornal <i>El País</i> Pedro Nunes - Reuters

O ministro das Finanças capitalizou uma entrevista ao jornal espanhol El País, agora publicada, para advogar que as reformas estruturais “precisam de tempo”, embora “essa não seja a receita” dos diretórios europeus. Mantendo a porta entreaberta à hipótese de vir a substituir Jeroen Dijsselbloem à frente do Eurogrupo, Mário Centeno deixa em Espanha uma mensagem: o país vizinho “não precisa de outra reforma laboral, diga Bruxelas o que disser”.

“Ao princípio as coisas foram difíceis” no embate com a Comissão Europeia, confessa Centeno na entrevista à publicação espanhola. Os diretórios de Bruxelas, lembra o ministro das Finanças, não aceitavam que se pudesse conjugar orçamentos restritivos com políticas de estímulo, nomeadamente alívios fiscais ou aumentos salariais.

“Estavam errados: cumprimos as metas orçamentais e saímos do Procedimento por Défices Excessivos”, afirma o governante, para quem a economia portuguesa está nesta altura a beneficiar de ações destinadas a “sanear o sistema financeiro”, da “estabilização da banca” e da “mudança política”.“Não vou dizer que não se há uma possibilidade”, disse o ministro das Finanças quando questionado, uma vez mais, sobre a possibilidade de vir a presidir ao Eurogrupo.


“O trabalho não está terminado”, tempera o ministro. Para então sustentar que “as reformas precisam de tempo, ainda que essa não seja a receita de Bruxelas”. Impõe-se insistir nesta via junto do Eurogrupo, propugna Mário Centeno.

“Aprovámos orçamentos com restrições mas não estigmatizámos as políticas de procura. Seria preferível que fossem políticas de estímulo a nível europeu, porque os limites de países como Portugal são evidentes. Mas conseguimos estimular a procura e reduzir a carga fiscal”, enumera.

Quanto à situação de Espanha, onde foram levadas a cabo três reformas do mercado laboral em meia década, com uma quebra do desemprego proporcional à ascensão da precariedade, Centeno pronuncia-se no mesmo sentido.

“Não creio que a Comissão acerte nessas exigências. É quase o contrário do que Espanha precisa: tem que haver reformas, mas insisto que é preciso dar tempo para que funcionem e têm de ser tomadas políticas do lado da procura para ativar a economia. As reformas devem ser aprovadas para crescer - não para diminuir - a porção do bolo a repartir, diga o que disser Bruxelas”, insiste.
“Não se pode lutar contra o mercado”

Questionado por El País sobre a reestruturação da dívida reclamada por Bloco de Esquerda e PCP, o ministro das Finanças admite tratar-se de um “debate que é interessante, ainda que só o seja no plano intelectual”.

“Não sou partidário de uma reestruturação. Nem a tínhamos nos nossos planos na campanha eleitoral nem a contemplamos agora: não se pode lutar contra o mercado. Há que domá-lo, não lutar contra ele”, sustenta.
“Não vou dizer que não”

Na entrevista ao diário espanhol, concedida em Santander, onde esteve numa conferência da Universidade Internacional Menéndez Pelayo, Mário Centeno voltou a ser questionado sobre a possibilidade de render Jeroen Dijsselbloem na presidência do bloco de ministros das Finanças da Zona Euro.

“Não vou dizer que não se há uma possibilidade”, redarguiu o ministro, reavivando o cenário colocado a partir de abril, quando o semanário Expresso noticiou que Mário Centeno foi um dos nomes sondados para a liderança do Eurogrupo.

Recorde-se que já no final de maio, numa entrevista ao canal norte-americano CNBC, Centeno admitira chegar à presidência do bloco ministerial, mesmo depois de o Executivo socialista ter dado sinais de que tal não deveria acontecer.

“Sim, os assuntos em Portugal são para ficar em boas mãos, não necessariamente nas minhas”, aventava então o ministro das Finanças.

c / Lusa
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