O CDS-PP anunciou esta terça-feira que vai seguir "um caminho próprio" em Loures. Os democratas-cristãos rasgam assim a coligação com o PSD e que era liderada por André Ventura. A decisão surge depois dos comentários tecidos pelo candidato em relação às comunidades de etnia cigana.
"No seguimento das recentes declarações do candidato à Câmara Municipal de Loures, dr. André Ventura, e depois de o CDS ter manifestado no seio da coligação o seu profundo incómodo com as referidas afirmações, decidiu o CDS seguir um caminho próprio no concelho de Loures nestas eleições autárquicas de 2017", anunciou o líder da distrital de Lisboa do partido, João Gonçalves Pereira.
Apesar da saída do CDS-PP, o PSD vai manter o apoio ao candidato à Câmara Municipal de Loures, disse à Lusa fonte da direção.
"O PSD mantém o apoio ao candidato do partido à Câmara Municipal de Loures. Lamentamos que o CDS não mantenha esse apoio, mas respeitamos a posição agora assumida pelo CDS", refere fonte da direção do PSD, numa posição enviada à Lusa.
Acham que "estão acima das regras"
Entre outras referências, André Ventura afirmou numa entrevista publicada na segunda-feira pelo jornal i que há pessoas que "vivem quase exclusivamente de subsídios do Estado" e que acham "que estão acima das regras do Estado de direito", considerando que tal acontece particularmente com a comunidade cigana.
Na quinta-feira, o candidato já tinha falado sobre uma alegada "excessiva tolerância com alguns grupos e minorias étnicas", numa entrevista ao portal Notícias ao Minuto.
A esta polémica, André Ventura, advogado e professor universitário, reagiu ainda na segunda-feira, em comunicado, rejeitando ter tido qualquer intenção xenófoba ao falar publicamente da comunidade cigana, sublinhando que apenas criticou situações de incumprimento da lei.
"O que preocupa a candidatura são questões de segurança e cumprimento da lei, na defesa do património público e das pessoas de bem, independentemente da raça ou etnia", defendeu.
"Boa parte das pessoas que fica muito incomodada quando são denunciadas estas situações nunca se deslocou a algumas dessas zonas e não tem ideia do barril de pólvora que lá se vive diariamente", referiu ainda o candidato.
Na mesma nota, o candidato defendeu que o poder autárquico e o Estado não se podem conformar com situações de desordem pública em que as autoridades não conseguem repor a ordem, referindo-se a "zonas mais problemáticas" do concelho de Loures em que "frequentemente a polícia é recebida com atos de violência".
No seu entender, é preciso denunciar estas situações e apostar em políticas de integração.
BE avança com queixa-crime
A candidatura do Bloco de Esquerda à Câmara Municipal de Loures apresentou uma queixa-crime ao Ministério Público e à Ordem dos Advogados contra André Ventura. Ao final da tarde de segunda-feira, a secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Martins, instou o líder do PSD a retirar a confiança política a André Ventura.
Ainda na segunda-feira, o CDS-PP pediu que André Ventura esclarecesse as suas declarações. Antes, o dirigente do CDS-PP Francisco Mendes da Silva tinha já defendido a retirada do apoio ao candidato.
“Se perder, tudo bem: que nem mais um dia o meu partido fique associado a tão lamentável personagem”, escreveu no Facebook. Esta terça-feira, em comunicado, o presidente da distrital de Lisboa do CDS anunciou que o partido ia “seguir um caminho próprio no concelho de Loures”.
A Câmara Municipal de Loures é presidida desde 2013 pelo comunista Bernardino Soares, que se recandidata ao cargo, encabeçando uma lista da CDU. O atual executivo é ainda composto por quatro vereadores da CDU, por quatro do PS e por dois da Coligação Loures Sabe Mudar (PSD, MPT e PPM).
Além de Bernardino Soares e André Ventura, Fabian Figueiredo (BE) e Sónia Paixão (PS) também são candidatos à liderança da autarquia. As eleições realizam-se a 1 de outubro.
c/ Lusa