Aníbal Cavaco Silva quebrou o silêncio para repudiar os projetos de legalização da eutanásia a debater na próxima semana no Parlamento, a par dos partidos que apoiem aquela via. Em declarações à Rádio Renascença, o ex-Presidente exorta “cada português” a “pensar bem o que significa uma pessoa, um médico, ser autorizado por lei da Assembleia da República a matar outra pessoa”.
Cavaco não hesita em considerar a legalização da morte medicamente assistida como “a decisão mais grave” para a sociedade que a Assembleia da República pode vir a adotar.
São quatro os projetos de lei para a despenalização e regulação da eutanásia que na próxima terça-feira vão ser debatidos e submetidos a votação, na generalidade. O primeiro diploma partiu do partido Pessoas-Animais-Natureza, no ano passado. Seguiram-se o BE, o PS e o PEV.
Os projetos estabelecem que só maiores de 18 anos, sem problemas ou doenças mentais, em situação de sofrimento e com doença incurável podem pedir a morte medicamente assistida, o que implicará confirmar por três vezes tal intenção.
“O primado da vida humana”
Cavaco Silva considera que está em causa “uma votação com tais consequências para a sociedade portuguesa” que nenhum cidadão pode “esquecer o que os deputados fizerem agora”. E sustenta que os partidos representados no Parlamento não foram mandatados para decidir sobre a eutanásia nas últimas eleições legislativas.
“O que está em causa é a vida humana, o bem mais precioso de cada indíviduo”, aponta o ex-Chefe de Estado.
“Como podem os deputados ignorar o parecer dos profissionais de saúde, os enfermeiros e os médicos que lidam com a vida e com a morte? Como podem ignorar o parecer do conselho nacional de ética para as ciências da vida? Como podem os deputados ignorar a posição das várias religiões em que os portugueses se reveem e que se juntaram para condenar a legalização da eutanásia?”, pergunta.
“São questões que os deputados não podem deixar de colocar à sua consciência”, insiste Cavaco.
“Cada português deve pensar bem o que significa uma pessoa, um médico, ser autorizado por lei da Assembleia da República a matar outra pessoa. Se tal acontecer, a nossa sociedade rompe uma barreira e dá um salto no desconhecido muitíssimo perigoso”, adverte.
Para concluir que, “estando em causa a defesa do primado da vida humana”, decidiu “fazer uso das duas armas” que lhe “restam como cidadão”.
“A minha voz, não ficando calado, e o meu direito de voto na escolha dos deputados nas próximas eleições legislativas”, enumera o ex-Presidente da República.
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