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Carlos Moedas sobre futuro comissário europeu: pasta da Energia seria importantíssima para Portugal

por Inês Ameixa

Fotos de Inês Ameixa

Carlos Moedas escuda-se na pele de atual presidente da Câmara Municipal de Lisboa, mas sobretudo na de ex-comissário europeu em Bruxelas, para não comentar os nomes que têm corrido como hipóteses para aquele que será o futuro português a integrar a Comissão Europeia – entre eles, Maria Luís Albuquerque ou Miguel Poiares Maduro. "Fazer um comentário, fosse para um lado, fosse para outro, poderia prejudicar essas pessoas", afirma em entrevista à Antena 1, ressalvando que "todos os nomes falados na área do PSD são nomes muito fortes".

A decisão de indicar à presidente da Comissão Europeia o nome do homem ou mulher que vai integrar o executivo comunitário cabe ao primeiro-ministro, Luís Montenegro, mas continua em segredo. Sabe-se para já, contudo, que a escolha deverá ser divulgada até ao final desta semana, uma vez que o "convidado surpresa" previsto no jantar-conferência da Universidade de Verão do PSD, este sábado, em Castelo de Vide, Portalegre, será precisamente o futuro comissário português em Bruxelas.

Em entrevista à Antena 1, Carlos Moedas, que foi comissário europeu em representação de Portugal entre 2014 e 2019, na comissão de Jean-Claude Juncker, enumera algumas das características que considera essenciais para assumir a função. "É muito difícil estar nos corredores da Comissão Europeia sem falar fluentemente pelo menos duas línguas", assume. "Depois, é uma função muito executiva, tem de ser alguém com um perfil de executor. Mais até do que um perfil totalmente político, tem de ser um político fazedor, alguém que gosta realmente de chegar aos resultados e que saiba gerir equipas".

"Um comissário, seja de que portfólio for, tem de ter uma opinião, tem de saber do que está a falar e ter uma posição. E essa posição é um equilíbrio muito, muito difícil, entre o que é que nós, comissários, devemos defender (que é o interesse de toda a Europa), mas ter em mente também o interesse da nossa nação. Mas ele não pode ser muito claro! Aliás, nas reuniões [da Comissão], é proibido dizer 'o meu país', temos de dizer 'o país que nós conhecemos melhor', em inglês, 'the country I know best'", revela Carlos Moedas.

Pasta da Energia "seria importantíssima para Portugal"

O presidente da Câmara de Lisboa, durante cinco anos comissário europeu com a pasta da Ciência e Inovação, não acredita que o facto de Portugal ter conseguido um português (António Costa) na presidência do Conselho Europeu tenha efeitos negativos no dossiê que será atribuído ao futuro comissário luso. "Eu não diria que isso seja uma realidade. Não penso que a presidente Ursula von der Leyen tenha esse pensamento de 'ah, se Portugal já tem o presidente do Conselho, então vou dar uma pasta mais fraca", considera. "Eu não penso que isso faça parte do raciocínio, aliás, eu, no lugar dela, teria até alguma tendência de, para ter uma ligação ao presidente do Conselho que fosse português, ter um comissário português [com uma boa pasta] que me fizesse essa ligação."

Quanto à pasta propriamente dita, o social-democrata aponta à Energia. "É hoje uma pasta com um poderio enorme, para Portugal seria importantíssimo", até porque "continuamos sem interconexões entre França, Espanha e Portugal, portanto há aí uma parte que é de uma importância colossal para o nosso país". Mas também as pastas nas áreas financeiras ou da ciência e inovação são outros exemplos apontados.

Os conselhos de quem já ocupou a cadeira portuguesa na Comissão

Para Carlos Moedas, estudar muito é o principal conselho que pode ser dado à personalidade portuguesa que seguirá para Bruxelas. "Estudar muito os dossiês como se estivéssemos num exame da faculdade". Todos os 27 escolhidos como membros do colégio vão ter de enfrentar uma audição no Parlamento Europeu, perante os eurodeputados, e o autarca de Lisboa não tem dúvidas: "O meu conselho é... quando souber que será comissário europeu, meta-se em casa a estudar com ajuda e com pessoas que sabem" (risos).

"Eu lembro-me não só do antigo comissário António Vitorino, como da antiga comissária irlandesa, que era a comissária da Ciência antes de mim, que me deixou uma carta que dizia: o dia mais importante, mais difícil dos cinco anos, é realmente passar com distinção essa audição no Parlamento", revela Carlos Moedas. "Ela é importantíssima porque é a nossa credibilidade, é aquele momento que ficará para o resto dos cinco anos... se aquele comissário é bom ou não é bom. Se nos vão respeitar ou não vão respeitar. E esse respeito começa naquele dia 1".
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