Candidatura de Maria de Belém à Presidência desafina vozes do PS
António Costa esforça-se por catapultar as presidenciais para o pós-legislativas. Mas o tema criou raízes. Depois de Maria de Belém ter confirmado que estará na corrida à Presidência, o Diário de Notícias publica esta terça-feira um texto apologético de Manuel Alegre. Já Vítor Ramalho, na trincheira de Sampaio da Nóvoa, não hesita em ver na pré-candidatura da ex-presidente do PS o propósito de “perturbar” o ato eleitoral de 4 de outubro.
No mesmo texto, Belém enfatiza que “a prioridade para o Partido Socialista, neste momento, são as eleições legislativas”. Ao mesmo tempo, propõe-se “evitar especulações”. Confrontado com este anúncio oficioso de um anúncio oficial, António Costa tenta segurar as peças da armadura socialista.
“Será discutido no momento próprio. Cada coisa tem o seu momento próprio. Nem sabemos sequer o universo total de pessoas que se vão candidatar”, insistia na segunda-feira o secretário-geral do PS, chamado à SIC Notícias para responder a questões de telespectadores.
“Se tivéssemos tomado essa decisão há dois meses atrás, não poderíamos contar com Maria de Belém, que, pelos visto, anunciou agora”, acrescentou.
Nas páginas da edição de segunda-feira do jornal i, antes mesmo da declaração escrita de Maria de Belém, ecoara já uma voz socialista, a de Henrique Neto, contrária à investida da antecessora de Carlos César na presidência do PS.
“Não fez nada na vida” ou “entrou calada e saiu silenciosa em toda a sua carreira política” foram amostras do ataque cerrado que o primeiro nome a assomar à linha de partida das presidenciais reservou a Maria de Belém.
Na outra margem do caudal socialista está Manuel Alegre.
“Merece respeito”
É num artigo de opinião publicado pelo Diário de Notícias que o poeta se perfila ao lado de Belém.
“Apoiarei Maria de Belém”, proclama logo no título Manuel Alegre, para quem o direito da ex-presidente do partido a avançar para as presidenciais “merece respeito e não pode ser posto em causa por considerações táticas, interpretações sectárias e inaceitáveis ataques de caráter”.
António Nabo, Rui Rodrigues, Osvaldo Costa Simões - RTP
“Ninguém tem o exclusivo da cidadania. Ser membro de um partido não constitui uma menoridade cívica, como ser independente não confere a ninguém um estatuto de superioridade sobre quem assume a sua filiação partidária”, escreve o histórico do PS.
Para sustentar que Maria de Belém, “ao contrário do que alguns disseram, não divide, não fratura nem é redutora”. É “uma falsa frágil”, avalia.
“Perturbar”
Opinião distante é manifestada por Vítor Ramalho, figura próxima de Mário Soares e apoiante declarado da candidatura de Sampaio da Nóvoa.
Vítor Ramalho diz que candidatura de Maria de Belém foi anunciada para perturbar legislativas http://t.co/b6N4iy8eom
— antena1politica (@antena1politica) August 18, 2015
“Para quem dizia que ia apresentar a candidatura depois das legislativas e ao fazê-lo hoje, dia 17, em que os candidatos do PS pelo círculo de Lisboa foram a tribunal apresentar a lista para as legislativas, está tudo dito, ou seja, a candidatura de Maria de Belém Roseira foi apresentada ao país hoje para perturbar as próprias legislativas”, reagiu o antigo deputado.Natural do Porto, Maria de Belém Roseira é jurista.
Presidiu ao PS de 2011 a 2014. Esteve nos governos de António Guterres
como ministra da Saúde e para a Igualdade.E Sampaio da Nóvoa? Questionado sobre a pré-candidatura de Maria de Belém, o antigo reitor da Universidade de Lisboa foi ao dicionário da diplomacia.
“Acabei de saber agora, estou a ser surpreendido pela notícia, mas a ser surpreendido com muito agrado”, começou por redarguir o candidato, ao chegar a Vila Real de Santo António, no Algarve, onde tem pedalado uma bicicleta numa ação de contacto com eleitores.
Passou, depois, ao ataque: “Posso garantir que vou ganhar, que esta candidatura tem uma dinâmica de vitória muito forte, tem uma dinâmica de vitória que sinto nas pessoas, no que me têm dito e na maneira como têm estado com esta candidatura, e eu estou absolutamente convicto de que os portugueses querem a partir de 2016 um Presidente de um tipo novo e estou convencido de que essa decisão vai recair na escolha da minha candidatura e da minha pessoa como Presidente da República”.
Voltou ao registo diplomático quando questionado sobre o peso de um eventual apoio do Rato. A candidatura, argumentou, “vai querer o apoio de toda a gente, nos mais diversos sectores, mas não está dependente do apoio de ninguém”.
c/ Lusa
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