BPN incendiou debate entre Cavaco e Defensor de Moura

por RTP
"Terão que nascer duas vezes para ser mais sérios do que eu", disse Cavaco em reacção às acusações de Defensor de Moura Manuel de Almeida, Lusa

O ciclo de debates entre candidatos a Belém resvalou ontem para a mais acesa troca de acusações e críticas da pré-campanha para as eleições de 23 de Janeiro. O mote foi o caso do BPN, utilizado como arma política por Defensor de Moura. Quando o deputado socialista o acusou de ter obtido “lucros chorudos” com acções do banco, Cavaco Silva desvalorizou “larachas” e “tretas” e disse-se alvo de uma “campanha suja”.

Tenso. É este o adjectivo que melhor descreve o frente-a-frente que a SIC transmitiu na noite de quinta-feira. O socialista Defensor de Moura foi buscar munições à história recente do Banco Português de Negócios (BPN). Cavaco Silva ripostou com um vocabulário que lhe é pouco ou nada conhecido no espaço público, acusando o adversário de pretender “ser portador” de “uma campanha suja e desonesta”.

O debate inflamou-se quando Defensor de Moura falou de “lucros chorudos” alegadamente averbados pelo actual Presidente da República graças a títulos do banco anteriormente detido pela Sociedade Lusa de Negócios. “Houve muita tolerância e até algum benefício com negócios ilícitos ou negócios que são muito claramente estranhos para o normal da população”, atirou.

Cavaco insurgiu-se. “Eu, como Presidente da República, apenas o que fiz em relação ao BPN foi a aprovação do decreto de nacionalização, depois de o Governo e o Banco de Portugal me terem informado por escrito de que não havia alternativa à estabilização do sistema financeiro português e havia grandes prejuízos para os depositantes”, devolveu o candidato apoiado por PSD, CDS-PP e Movimento Esperança Portugal (MEP). Adiante perguntou: “Se nós nem acompanhamos a vida dos nossos filhos depois de eles saírem de casa, o que é que eu tenho a ver com a vida profissional de pessoas que estiveram no meu Governo há 25 anos e que agora conduzem a sua vida?”.

“Larachas” e “tretas”
Depois de sublinhar que foi em 1999 que decidiu, em conjunto com a mulher, aplicar parte das poupanças no banco então liderado por Oliveira e Costa - antigo secretário de Estado dos Assuntos Fiscais no Governo de Cavaco Silva -, o candidato à reeleição insistiu na denúncia de “campanhas sujas”: “O que eu quero dizer é que essas campanhas desonestas e sujas não pegam comigo. Até nós estamos a perder dinheiro no conjunto das aplicações que fizemos”.

Mas Defensor de Moura não desarmou. No decurso do debate, acusaria o adversário de ter favorecido “uma autarquia do PSD” nas cerimónias do Dia de Portugal em 2009, de ter dado mostras de deslealdade para com os antigos líderes sociais-democratas Fernando Nogueira e Pedro Santana Lopes. Garantiu, também, ter sido alvo de pressões, quando esteve à frente da autarquia de Viana do Castelo, para contratar a fadista Kátia Guerreiro e montar “uma tenda que custou 165 mil euros”. E foi mais longe, ao apontar falta de cultura a Cavaco Silva e até mesmo o desperdício de “milhões e milhões de contos” de fundos de Bruxelas.

Na resposta, Cavaco socorreu-se de elogios que ouviu de Jacques Delors, “um socialista respeitado, não é como alguns daqui”. A dada altura comentou: “É preciso nascerem duas vezes para ser mais honestos do que eu”.

“Não se é candidato a Presidente da República só porque vem à cabeça, porque se quer, porque se diz umas larachas, umas tretas, umas palavras aqui ou acolá. É preciso ter conhecimentos e é preciso ter experiência”, acentuou Cavaco Silva. Ao que Defensor de Moura retorquiu: “Chamar larachas e chamar tretas a demonstrações claras de falta de isenção, de favorecimento de amigos e correligionários, de pactuar com negócios ilícitos que estão nos tribunais”.

“A verdade, a verdade”
No rescaldo do frente-a-frente, a tensão estava ainda longe de se dissipar. Se Cavaco Silva insistia em palavras como “seriedade” e “rigor”, Defensor de Moura continuava a insurgir-se contra o que dissera ser a “falta de isenção” do adversário.

O deputado socialista sintetizaria o debate como uma “oportunidade de confrontar o candidato Cavaco Silva com o que foi o seu exercício presidencial” e “exemplos importantes do que é a estrutura de uma pessoa que não é isenta, que não é leal”.

“Os portugueses não se deixam enganar, sabem onde está a verdade e onde está a mentira. Há uma coisa que resistiu durante todo o meu tempo de político, foi a minha honestidade”, alegou Cavaco. “Nunca Ninguém conseguiu encontrar nada, nada. É um valor que vem das minhas raízes, vem dos pais, é a honestidade, a verdade, o rigor, não é mentir aos portugueses. A verdade, a verdade”, acrescentou.
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