O ciclo de debates entre candidatos a Belém resvalou ontem para a mais acesa troca de acusações e críticas da pré-campanha para as eleições de 23 de Janeiro. O mote foi o caso do BPN, utilizado como arma política por Defensor de Moura. Quando o deputado socialista o acusou de ter obtido “lucros chorudos” com acções do banco, Cavaco Silva desvalorizou “larachas” e “tretas” e disse-se alvo de uma “campanha suja”.
O debate inflamou-se quando Defensor de Moura falou de “lucros chorudos” alegadamente averbados pelo actual Presidente da República graças a títulos do banco anteriormente detido pela Sociedade Lusa de Negócios. “Houve muita tolerância e até algum benefício com negócios ilícitos ou negócios que são muito claramente estranhos para o normal da população”, atirou.
Cavaco insurgiu-se. “Eu, como Presidente da República, apenas o que fiz em relação ao BPN foi a aprovação do decreto de nacionalização, depois de o Governo e o Banco de Portugal me terem informado por escrito de que não havia alternativa à estabilização do sistema financeiro português e havia grandes prejuízos para os depositantes”, devolveu o candidato apoiado por PSD, CDS-PP e Movimento Esperança Portugal (MEP). Adiante perguntou: “Se nós nem acompanhamos a vida dos nossos filhos depois de eles saírem de casa, o que é que eu tenho a ver com a vida profissional de pessoas que estiveram no meu Governo há 25 anos e que agora conduzem a sua vida?”.
“Larachas” e “tretas”
Depois de sublinhar que foi em 1999 que decidiu, em conjunto com a mulher, aplicar parte das poupanças no banco então liderado por Oliveira e Costa - antigo secretário de Estado dos Assuntos Fiscais no Governo de Cavaco Silva -, o candidato à reeleição insistiu na denúncia de “campanhas sujas”: “O que eu quero dizer é que essas campanhas desonestas e sujas não pegam comigo. Até nós estamos a perder dinheiro no conjunto das aplicações que fizemos”.
Mas Defensor de Moura não desarmou. No decurso do debate, acusaria o adversário de ter favorecido “uma autarquia do PSD” nas cerimónias do Dia de Portugal em 2009, de ter dado mostras de deslealdade para com os antigos líderes sociais-democratas Fernando Nogueira e Pedro Santana Lopes. Garantiu, também, ter sido alvo de pressões, quando esteve à frente da autarquia de Viana do Castelo, para contratar a fadista Kátia Guerreiro e montar “uma tenda que custou 165 mil euros”. E foi mais longe, ao apontar falta de cultura a Cavaco Silva e até mesmo o desperdício de “milhões e milhões de contos” de fundos de Bruxelas.
Na resposta, Cavaco socorreu-se de elogios que ouviu de Jacques Delors, “um socialista respeitado, não é como alguns daqui”. A dada altura comentou: “É preciso nascerem duas vezes para ser mais honestos do que eu”.
“Não se é candidato a Presidente da República só porque vem à cabeça, porque se quer, porque se diz umas larachas, umas tretas, umas palavras aqui ou acolá. É preciso ter conhecimentos e é preciso ter experiência”, acentuou Cavaco Silva. Ao que Defensor de Moura retorquiu: “Chamar larachas e chamar tretas a demonstrações claras de falta de isenção, de favorecimento de amigos e correligionários, de pactuar com negócios ilícitos que estão nos tribunais”.
“A verdade, a verdade”
No rescaldo do frente-a-frente, a tensão estava ainda longe de se dissipar. Se Cavaco Silva insistia em palavras como “seriedade” e “rigor”, Defensor de Moura continuava a insurgir-se contra o que dissera ser a “falta de isenção” do adversário.
O deputado socialista sintetizaria o debate como uma “oportunidade de confrontar o candidato Cavaco Silva com o que foi o seu exercício presidencial” e “exemplos importantes do que é a estrutura de uma pessoa que não é isenta, que não é leal”.
“Os portugueses não se deixam enganar, sabem onde está a verdade e onde está a mentira. Há uma coisa que resistiu durante todo o meu tempo de político, foi a minha honestidade”, alegou Cavaco. “Nunca Ninguém conseguiu encontrar nada, nada. É um valor que vem das minhas raízes, vem dos pais, é a honestidade, a verdade, o rigor, não é mentir aos portugueses. A verdade, a verdade”, acrescentou.
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