Belmiro de Azevedo defende que só há emprego com "mão-de-obra barata"

por RTP
Belmiro de Azevedo e o filho, Paulo Azevedo, fotografados na passada quarta-feira, pouco antes da apresentação de resultados de 2012 do grupo Sonae Estela Silva, Lusa

Uma economia baseada em baixos salários é o que Belmiro de Azevedo prescreve para Portugal, considerando que uma tal política pode constituir uma “vantagem comparativa” do país face a “potências que têm muito maior produtividade”. Chamado a intervir, ontem à noite, na sessão do sétimo aniversário do Clube dos Pensadores, em Gaia, o empresário de 75 anos sustentou mesmo que, “se não for a mão-de-obra barata, não há emprego para ninguém”.

Para o presidente do conselho de administração da Sonae, uma política de vencimentos reduzidos constituiria uma “vantagem comparativa” do país, numa perspetiva de concorrência com economias de “muito maior produtividade”.

Belmiro de Azevedo esteve há uma semana ao lado do filho e CEO da Sonae, Paulo Azevedo, na apresentação de resultados do grupo, que viu o seu lucro cair 69 por cento no ano passado.

O conglomerado empresarial atribuiu os números à quebra do consumo privado em Portugal e Espanha e à desvalorização dos centros comerciais da Sonae Sierra.

“Diz-se que não se deve ter economias baseadas em mão-de-obra barata. Eu não sei porque não. Porque se não for a mão-de-obra barata não há emprego para ninguém. Portanto, de facto é uma vantagem comparativa. Caso contrário, se a gente quer concorrer com potências que têm muito maior produtividade, é impossível pagar os salários de alta produtividade a trabalhadores com baixa produtividade”, argumentou Belmiro de Azevedo.

“Não há milagres”, rematou o empresário nortenho.

Na leitura de Belmiro, “há muitas atividades, nomeadamente no sector primário, em que a mão-de-obra, que Portugal tem muita e em excesso, é indispensável para que possam continuar”. Uma vantagem para o sector primário, apontou o empresário, é o clima do país, que “é de borla”.

Durante a sessão do Clube dos Pensadores, Belmiro de Azevedo pôs de parte qualquer apetência por funções governativas. Para assinalar que “uma empresa, quando erra, não tem a capacidade de tributar um cliente” e sugerir, adiante, que “não há poder no dinheiro”. Sem querer visar o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, de quem disse ser “companheiro de squash”, a figura tutelar da Sonae estimou que “o problema de as previsões errarem é que é impossível não errarem”: “A nossa estatística não funciona, é atrasada”.
“Não se governa na rua”

Belmiro de Azevedo falou também das manifestações de contestação ao Governo de Passos Coelho, descrevendo-as como “um Carnaval mais ou menos permanente”, mas ainda assim preferíveis ao silêncio.

“Enquanto o povo se manifesta a gente pode dormir mais descansado. O pior é quando não se manifesta. Eu gostava que os nossos governantes, neste momento, não jogassem o jogo dos protestantes (sic). E quanto mais o Governo aparecer mais o espetáculo continua”, disse o empresário, para quem “a época de hoje está muito longe de ser uma época de grande desastre do ponto de vista de vivência”.

“Não se governa na rua”, vincou.

O presidente do conselho de administração da Sonae comentou ainda o resgate financeiro de Chipre e o imposto a aplicar a depositantes daquele país, afirmando que, “numa sociedade democrática, o Estado não devia ter o direito de confiscar”.

“O Estado podia era criar outro tipo de situações e não deixar que nenhum banco ultrapassasse a sua capacidade de garantir os repagamentos”, sugeriu o empresário, depois de reconhecer não estar por dentro da questão cipriota.
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