Uma economia baseada em baixos salários é o que Belmiro de Azevedo prescreve para Portugal, considerando que uma tal política pode constituir uma “vantagem comparativa” do país face a “potências que têm muito maior produtividade”. Chamado a intervir, ontem à noite, na sessão do sétimo aniversário do Clube dos Pensadores, em Gaia, o empresário de 75 anos sustentou mesmo que, “se não for a mão-de-obra barata, não há emprego para ninguém”.
Belmiro de Azevedo esteve há uma semana ao lado do filho e CEO da Sonae, Paulo Azevedo, na apresentação de resultados do grupo, que viu o seu lucro cair 69 por cento no ano passado.
O conglomerado empresarial atribuiu os números à quebra do consumo privado em Portugal e Espanha e à desvalorização dos centros comerciais da Sonae Sierra.
“Diz-se que não se deve ter economias baseadas em mão-de-obra barata. Eu não sei porque não. Porque se não for a mão-de-obra barata não há emprego para ninguém. Portanto, de facto é uma vantagem comparativa. Caso contrário, se a gente quer concorrer com potências que têm muito maior produtividade, é impossível pagar os salários de alta produtividade a trabalhadores com baixa produtividade”, argumentou Belmiro de Azevedo.
“Não há milagres”, rematou o empresário nortenho.
Na leitura de Belmiro, “há muitas atividades, nomeadamente no sector primário, em que a mão-de-obra, que Portugal tem muita e em excesso, é indispensável para que possam continuar”. Uma vantagem para o sector primário, apontou o empresário, é o clima do país, que “é de borla”.
Durante a sessão do Clube dos Pensadores, Belmiro de Azevedo pôs de parte qualquer apetência por funções governativas. Para assinalar que “uma empresa, quando erra, não tem a capacidade de tributar um cliente” e sugerir, adiante, que “não há poder no dinheiro”. Sem querer visar o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, de quem disse ser “companheiro de squash”, a figura tutelar da Sonae estimou que “o problema de as previsões errarem é que é impossível não errarem”: “A nossa estatística não funciona, é atrasada”.
“Não se governa na rua”
Belmiro de Azevedo falou também das manifestações de contestação ao Governo de Passos Coelho, descrevendo-as como “um Carnaval mais ou menos permanente”, mas ainda assim preferíveis ao silêncio.
“Enquanto o povo se manifesta a gente pode dormir mais descansado. O pior é quando não se manifesta. Eu gostava que os nossos governantes, neste momento, não jogassem o jogo dos protestantes (sic). E quanto mais o Governo aparecer mais o espetáculo continua”, disse o empresário, para quem “a época de hoje está muito longe de ser uma época de grande desastre do ponto de vista de vivência”.
“Não se governa na rua”, vincou.
O presidente do conselho de administração da Sonae comentou ainda o resgate financeiro de Chipre e o imposto a aplicar a depositantes daquele país, afirmando que, “numa sociedade democrática, o Estado não devia ter o direito de confiscar”.
“O Estado podia era criar outro tipo de situações e não deixar que nenhum banco ultrapassasse a sua capacidade de garantir os repagamentos”, sugeriu o empresário, depois de reconhecer não estar por dentro da questão cipriota.
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