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BE critica "silêncio do Governo" perante "ingerência dos EUA" nas universidades

por João Vasco - Antena 1

Foto: Pedro A. Pina - RTP

A coordenadora do BE criticou esta segunda-feira o silêncio do Governo sobre o questionário dos EUA a universidades portuguesas, desafiando-o a tomar uma posição e a chamar o embaixador norte-americano para transmitir que Portugal “não aceita ingerências”.

“Não houve, até agora, uma tomada de posição por parte do Governo português, do Estado português, relativamente a esta ingerência (...). O embaixador dos EUA deveria ser chamado pelo Governo para lhe ser transmitida a posição oficial do Governo português de que Portugal é uma república soberana que não aceita ingerências na sua política científica ou em qualquer área soberana e da nossa governação”, afirmou Mariana Mortágua.

A líder do Bloco de Esquerda falava aos jornalistas após uma reunião com o diretor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), Hermenegildo Fernandes, de Lisboa na sequência do questionário enviado a várias universidades portuguesas pelo Governo norte-americano com perguntas sobre “ideologia de género”, ligações a organizações terroristas ou “agendas climáticas”.

Mariana Mortágua afirmou que o Estados Unidos acham que “têm o direito, como se estivessem a tratar das suas colónias, de decidir o que é que as universidades portuguesas podem ou não podem investigar”, ressalvando que nem o Estado português o faz, uma vez que o ensino superior em Portugal tem “autonomia relativamente às suas escolhas académicas”.

A bloquista elogiou ainda a resposta dos reitores das universidades portuguesas, classificando como “exemplar” a rejeição de “ingerências na autonomia científica e académica”, mas acrescentou que é o Estado português “quem tem o dever de proteger a autonomia das universidades em Portugal”.

Mortágua disse que o diretor da FLUL transmitiu-lhe que não teve qualquer “comunicação direta com o Governo” e não teve da parte do executivo “qualquer contacto na sequência deste inquérito” enviado pela embaixada norte-americana.

A líder do BE abordou ainda nesta reunião as condições dos investigadores portugueses nos Estados Unidos, referindo que “estão a ser alvo de perseguição” e a ser “ameaçados com a retirada dos seus ‘visas’ (vistos) e perseguidos politicamente pelas suas visões políticas”.

“Foi-nos confirmado esta enorme incerteza e desconforto que existe dentro das Universidades norte-americanas pela política de censura de Donald Trump face à Academia, proibindo, por exemplo, ou querendo impedir investigação em alterações climáticas”, disse.

Para a bloquistas, “este é o momento para Portugal investir tudo o que pedir na investigação” e “abrir vagas, financiar os centros de investigação, melhorar carreiras, aumentar salários e criar carreiras de investigadores”, porque o país se “pode destacar, pode mostrar que não desiste de uma universidade com liberdade”.

No final da reunião, o diretor da FLUL disse estar alinhado com as preocupações dos bloquistas sobre a “ingerência na política científica”, e esclareceu que não houve ainda nenhuma nova informação relativamente aos financiamentos norte-americanos, assegurando que “parecem estar como antes”.

Mariana Mortágua, questionada sobre as notícias que dão conta de que o Governo deu indicação aos hospitais para acelerar aumentos a médicos e farmacêuticos, afirmou que o “mais importante é pagar às pessoas que trabalham nos hospitais” e que isso não definirá resultados eleitorais, mas sublinhou que o Governo devia parar “dirigir a ação do Estado para as eleições” e preocupar-se com questões como a “ingerência de um Estado estrangeiro sobre a política científica”.

c/ Lusa
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