O antigo dirigente socialista Francisco Assis manifestou hoje a esperança de que PS e PSD recuperem a capacidade de diálogo e até de compromissos, salientando que "ninguém está condenado a governar ou a ser oposição".
Numa `aula` da Universidade de Verão do PSD, que decorre em Castelo de Vide (Portalegre), o atual presidente do Conselho Económico e Social (CES) deixou uma palavra de ânimo aos jovens sociais-democratas que compunham a maioria da plateia.
"Um grande partido pode estar circunstancialmente enfraquecido, não é por isso que deixa de ser um grande partido", afirmou, lembrando os dez anos em que o PS esteve na oposição durante os Governos de Cavaco Silva.
O antigo líder parlamentar apontou a ausência de eleições nos próximos dois anos como uma oportunidade para se restabelecerem pontes perdidas entre PS e PSD.
"Temos de recuperar essa capacidade de falar uns com os outros, houve um tempo em que se estabeleceu uma cisão absurda entre os dois maiores partidos (...) Não é normal é que os dois partidos não sejam capazes de dialogar permanentemente e até, nalguns momentos, de se entenderem mesmo", defendeu, apontando áreas como as da produtividade e saúde como passíveis de compromissos.
Assis, que foi um dos principais opositores dentro do PS à solução governativa da `geringonça` construída em 2015 com PCP e BE, assegurou que, se voltasse atrás, manteria essa discordância, apesar de reconhecer mérito a António Costa por o seu partido não se ter afastado da opção europeia.
"Nós em Portugal não precisamos de nenhum frentismo nem de esquerda nem de direita (...) A lógica do frentismo só favorece partidos políticos extremistas e condiciona a autonomia de decisão dos grandes partidos", defendeu.
Francisco Assis, que compareceu pela primeira vez nesta iniciativa do PSD apesar de já ter sido por várias vezes convidado, justificou as anteriores recusas por estar então "numa situação de rutura com a direção do PS" e poder, por isso, ser mal interpretado.
No entanto, salientou ter "uma grande admiração" pela iniciativa de formação política do PSD de jovens quadros, que se realiza desde 2003.
"Julgo que os partidos políticos deixaram de apostar fortemente na produção de pensamento político (...) Os partidos foram reduzidos a comités de apoio a candidaturas", lamentou.
Num tom bem-humorado, o antigo líder parlamentar do PS admitiu que era difícil suceder como orador nos jantares-conferência da Universidade de Verão a Luís Marques Mendes, que foi o convidado na quarta-feira e fez um exercício de antecipação do próximo ciclo eleitoral e das medidas de apoios sociais que o Governo irá anunciar na próxima semana.
"Não tenho o mesmo grau de intimidade com o Governo", ironizou.
Ao longo de hora e meia, Francisco Assis deixou ainda uma nota de preocupação para o que considera ser a falta de condições fornecidas pelo parlamento português aos seus deputados, mas elogiou em geral o equilíbrio do sistema político português, a começar pelo papel atribuído ao chefe do Estado.
"O Presidente da República pode e deve exercer a função de moderação e, em certas circunstâncias, de mobilização do país, e julgo que não há nenhuma possibilidade de o país eleger alguém dos extremos para esse cargo", considerou.
Em resposta a perguntas dos alunos, que aplaudiram o socialista e pé no final da sua intervenção, Assis deixou uma palavra para a ministra da Saúde demissionária, Marta Temido, elogiando a forma "como se entregou ao combate da pandemia" e considerando que "ninguém tem uma varinha mágica" para os problemas do setor.
A 18.ª edição da Universidade de Verão do PSD, iniciativa de formação política de jovens que se realiza desde 2003 (com dois anos de paragem em 2020 e 2021 devido à pandemia de covid-19), decorre em Castelo de Vide (Portalegre) desde segunda-feira e até domingo, com o encerramento a cargo do presidente do partido, Luís Montenegro.