A assessora da Casa Civil da Presidência da República Maria João Ruela disse hoje que o caso das gémeas tratadas com o medicamento Zolgensma em 2020 foi "tratado de forma idêntica" a outros.
A consultora para os Assuntos Sociais, Sociedade e Comunidades da Casa Civil do Presidente da República explicou que no dia 21 de outubro de 2019 recebeu um `mail` do chefe da Casa Civil, reencaminhado também para Marcelo Rebelo de Sousa, a perguntar se Maria João Ruela podia "perceber o que se passa".
"Abaixo nesse `mail`, estava a comunicação de Nuno Rebelo de Sousa", indicou a antiga jornalista na comissão de inquérito ao caso das gémeas tratadas com o medicamento Zolgensma em 2020.Maria João Ruela afirmou que o que lhe foi pedido foi para "promover esforços para tentar enquadrar a situação", considerando ser "um procedimento habitual para o acompanhamento de correspondência dirigida e enviada ao Presidente da República", na área dos Assuntos Sociais e Comunidades Portuguesas.
Afirmou ainda que cessou a troca de correspondência com Nuno Rebelo de Sousa em 23 de outubro de 2019.
"Todo o processo foi por mim tratado de forma idêntica a todos os outros que tenho acompanhado ao longo dos últimos oito anos na Presidência da República", sublinhou.
A assessora do Presidente da República explicou que teve acesso a um texto, elaborado por familiares das crianças, no qual era referido que "já teria sido enviada documentação" - histórico, diagnóstico, exames e relatórios - para o médico José Pedro Vieira, a pedido de Teresa Moreno.
Segundo Maria João Ruela, tinha sido recebida a sugestão para contactar o Conselho de Administração do Centro Hospitalar de Lisboa Central, do qual faz parte o Hospital Dona Estefânia.
"Com base nestas informações, tomei duas iniciativas, creio que em 21 de outubro de 2029. A primeira contactar Nuno Rebelo de Sousa para perceber onde se encontravam as crianças, se em Portugal ou no Brasil, e "uma segunda iniciativa visou obter informação genérica sobre o encaminhamento que estava ou poderia ser dado a casos semelhantes", esclareceu, assinalando que nunca teve o contacto telefónico do filho do Presidente da República.
A assessora de Marcelo Rebelo de Sousa lembrou o caso da bebé Matilde que "tinha ocorrido nesse mesmo ano" e que havia "relato de situações com outros bebés".
"Dessa iniciativa não guardo qualquer registo, apenas a informação então apurada e relatada ao chefe da Casa Civil, que a incluiu num `mail` enviado ao Presidente da República a 22 de outubro", precisou.
Recordando que não voltou a falar do caso, até novembro do ano passado, quando surgem as primeiras notícias da TVI/CNN, Maria João Ruela disse que em 23 de outubro de 2029 recebeu um `mail` de Nuno Rebelo de Sousa, "insistindo na obtenção de uma resposta".
"Perante esse contacto, pedi orientações ao chefe da Casa Civil sobre que resposta lhe poderia dar", referiu, observando que a partir desse momento cessou as comunicações com Nuno Rebelo de Sousa.
"A partir desse momento acompanhei a troca de correspondência, entre o chefe da Casa Civil e Nuno Rebelo de Sousa até a mesma cessar a 31 de outubro de 2019", acrescentou.
Maria João Ruela disse ainda que, além da comissão parlamentar de inquérito, nunca foi "ouvida nem demandada para esclarecimentos por qualquer outra entidade".
A ex-jornalista lembrou que, desde 2016 até ao final do ano passado, "chegaram à assessoria dos assuntos sociais e comunidades portuguesas 32.864 mensagens, entre cartas e `mails`".
"No ano a que reportam os factos, 2019, foram recebidas na assessoria dos Assuntos Sociais e Comunidades um total de 4.947 cartas ou `mails` de cidadãos, e destes 434 foram enviados ao gabinete do primeiro-ministro", incluindo 64 mensagens de apelo para a bebé Matilde, disse, avançando que "nos primeiros seis meses deste ano, das 1.377 cartas recebidas", 272 foram enviadas para o gabinete do primeiro-ministro.
A audição de Maria João Ruela foi interrompida durante cerca de 5 minutos por barulho relacionado com obras, que decorrem na Assembleia da República.