Anulados mais de 80% dos votos do círculo da Europa. PS e PSD empatam na emigração

por RTP
José Sena Goulão - Lusa

Foram apurados, na última madrugada, os resultados das eleições legislativas nos círculos da emigração. Mais de 80 por cento dos votos do círculo eleitoral da Europa e dois por cento do círculo fora da Europa foram anulados, na sequência de um protesto do PSD sobre a ausência de documentos de identificação.

Em causa está o facto de terem sido contados votos sem fotocópia de um documento de identificação. Os social-democratas apresentaram um protesto que foi aceite na mesa de apuramento geral da Europa.

Antena 1

Assim, foram anulados 157.205 votos, a quase totalidade de todos os sufrágios registados dentro e fora da Europa nas últimas eleições legislativas.O PS lamenta a anulação dos votos de muitos emigrantes e sobretudo a postura dos social-democratas. O PSD explica que apresentou uma queixa à Comissão Nacional de Eleições - para que os votos sem cartão do cidadão não fossem contabilizados - apenas para cumprir a lei.

No caso da mesa de apuramento geral no círculo de fora da Europa, o entendimento foi outro: a percentagem de votos anulados ficou nos 2,9 por cento. O que representa a anulação de 1907 votos, do total de mais de 64.500 votantes.

O PS venceu na Europa e o PSD foi o mais votado fora da Europa. Cada um dos partidos elege dois deputados, um por cada círculo.

Com a maioria absoluta socialista, este resultado poderia apenas mudar a posição da terceira força política. Todavia, o Chega obteve mais votos do que a Iniciativa Liberal nos dois círculos da emigração e mantém-se como terceira força partidária mais votada.Mistura de votos válidos com inválidos
Em causa esteve a mistura de votos válidos com votos inválidos que “contaminou” todos. “Houve mesas em que todos os votos foram considerados como nulos. Porque era impossível, face ao comportamento das mesas, identificar quais os votos que estavam sob protesto”, explicou porta-voz do Comissão Nacional de Eleições, João Tiago Machado, à Antena 1.
Segundo os dados da Secretaria Geral do Ministério da Administração Interna, o PS teve 37,72 por cento e o PSD 28,40 por cento dos votos, ao passo que o Chega alcançou 9,86 por cento. Protesto do PSD
O PSD protestou junto da Comissão Nacional de Eleições contra a forma como as legislativas de 30 de janeiro decorreram na diáspora, com comunidades que não receberam boletins e outras de onde não chegaram votos, disse o deputado social-democrata António Maló de Abreu.
"A lei obriga. É expressa que não podem contar os votos que não são acompanhados de um cartão de identificação”, afirmou à RTP na quarta-feira António Maló de Abreu.

Os socialistas já fizeram saber que pretendem recorrer junto do Tribunal Constitucional da decisão da mesa da assembleia de apuramento geral.
Desfecho inaceitável
O socialista Paulo Pisco, deputado que conseguiu a eleição no círculo da Europa, aponta o dedo ao PSD pelo desfecho que considera inaceitável.

“Este deveria ser um dia em que estaríamos a festejar a maior participação eleitoral de sempre das nossas comunidades. E, no entanto, aquilo que está a acontecer é que tivemos uma anulação de votos sem precedentes. O que constitui uma profunda falta de respeito para com as nossas comunidades”, afirmou Paulo Pisco à Antena 1.
Para o deputado socialista eleito pelo círculo da Europa, “tivemos sempre uma postura de querer validar os votos dos portugueses residentes no estrangeiro. Infelizmente o PSD, a única preocupação que tinha era de facto de anular os votos. O que levou à apresentação de protestos, que, infelizmente foram aceites pela mesa de apuramento geral”.
"É perder o respeito"
Para o presidente do Grupo de Reflexão e Intervenção da Diáspora Portuguesa na Alemanha, Manuel Campos, é uma falta de respeito a anulação de tantos votos no círculo eleitoral da Europa.

Depois de tanto trabalho que nós fizemos para motivar as pessoas. Isto é perder a cara. É perder o respeito”, desabafou Manuel Campos à Antena 1.
“Eu não sei se o Cartão do Cidadão é obrigatório por lei de o apresentar. Eu recebo uma recomendação da Comissão Nacional de Eleições. Mas, seja como for, se eu recebo um boletim de voto oficial na minha residência, que corresponde ao meu Cartão de Cidadão. Porque se não, não o receberia, não percebo porque é que estão a exigir novamente a apresentação”, questionou.

O presidente do Grupo de Reflexão e Intervenção da Diáspora Portuguesa na Alemanha tem esperança que “o Tribunal Constitucional resolva essa questão o mais rápido possível”.
Dia triste
Para o presidente do Conselho Regional das Comunidades Portuguesas na Europa, é um dia triste. Pedro Rupio defende uma reflexão.

Estamos num dia triste. Porque podíamos estar a festejar um aumento significativo do número de votantes na emigração. No entanto, com esta situação da anulação de tantos votos no círculo da Europa. Estamos face a uma situação inédita e bastante triste”, afirmou Pedro Rupio à Antena 1.
O presidente do Conselho Regional das Comunidades Portuguesas na Europa defende uma “reflexão, porque em termos processuais é óbvio que há situações que devem ser corrigidas”.

“Para não estarmos a viver esse tipo de situações no futuro. Espero que haja uma reflexão geral de todos. Nomeadamente de todos os partidos políticos. Que também têm responsabilidades nesse tipo de situações. Estas coisas não podem voltar a acontecer”, rematou.
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