Cavaco Silva indigitou esta terça-feira António Costa como primeiro-ministro do XXI Governo Constitucional. Rapidamente, o líder socialista apresentou a sua proposta de governo, que fica agora pendente da luz verde de Belém. As propostas de Costa vão ao encontro do que tem sido noticado. Sem surpresas, Centeno assume a pasta das Finanças e Caldeira Cabral a Economia.
A proposta que Costa levou a Belém inclui 17 ministros, dos quais quatro são mulheres. Concretiza-se a atribuição da pasta das Finanças a Mário Centeno e da Economia a Caldeira Cabral. Também sem surpresas, Maria Manuel Marques Leitão prepara-se para ser ministra da Presidência e da Modernização Administrativa.
Aparecem também algumas figuras novas: Francisca Van Dunem, que se prepara para ser a nova ministra da Justiça. O investigador Tiago Brandão Rodrigues assume o cargo de ministro da Educação, depois de ter sido o cabeça de lista do PS em Viana do Castelo.
Há também o regresso de antigos governantes socialistas, quer da era Sócrates, quer da era Guterres. Vieira da Silva será novamente o ministro do Trabalho e da Segurança Social. Augusto Santos Silva será agora ministro dos Negócios Estrangeiros. Capoulas Santos volta a ser ministro da Agricultura. Ana Paula Vitorino, ex-secretária de Estado dos Transportes, passa a ministra do Mar.
Costa: o primeiro-ministro
Depois de semanas de dúvidas, o secretário-geral do PS foi formalmente indicado como primeiro-ministro. No currículo de Costa consta a presença no governo de António Guterres como ministro da Justiça.
Entre 2005 e 2007, foi ministro de Estado e da Administração Interna no governo de José Sócrates. Em 2007, deixou o lugar para candidatar-se à Presidência da Câmara de Lisboa. Foi presidente da autarquia até 2015, quando cedeu o lugar a Fernando Medina.
Em 2014, Costa desafiou a liderança socialista de António José Seguro, que derrotou em eleições primárias abertas a simpatizantes. Assume agora o cargo de primeiro-ministro do XXI Governo Constitucional. Um executivo socialista, apoiado pelas bancadas do PCP, BE e PEV.
Mariana Vieira da Silva, filha do agora ministro José António Vieira da Silva, será secretária de Estado Adjunta do primeiro-ministro.
Mário Centeno: Finanças
Sem surpresas, Mário Centeno será o sucessor de Maria Luís Albuquerque no Terreiro do Paço.
O economista, doutorado por Harvard, coordenou o cenário macroeconómico do Partido Socialista e marcou presença nas negociações entre socialistas, bloquistas, comunistas e ecologistas.
Em entrevista à RTP, Centeno tinha deixado claro que estava disponível para ser o ministro das Finanças de Costa. O economista quer que Portugal vire a página da austeridade e apresenta a criação de emprego e o combate à precaridade como grandes prioridades.
Centeno aponta que as privatizações, como regras são para reverter, mas apenas nos casos em que a decisão não prejudique o Estado.
Eduardo Cabrita: ministro-adjunto
Eduardo Cabrita está habituado às lides políticas. O socialista foi eleito deputado em 2002 e desde então tem-se mantido pelos corredores da política, ora como deputado, ora como governante.
Foi Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Justiça no XIV Governo, liderado por António Guterres.
No primeiro governo de José Sócrates foi secretário de Estado-Adjunto e da Administração Local. Durante o governo de Passos, Cabrita protagonizou um dos momentos caricatos da legislatura: a célebre luta pelo microfone que manteve com Paulo Núncio, secretário de Estado dos Assuntos Fiscais.
Santos Silva: Negócios Estrangeiros
Educação, Cultura, Assuntos Parlamentares, Defesa Nacional. Agora, Negócios Estrangeiros. Augusto Ernesto Santos Silva volta a marcar presença num executivo socialista.
O professor universitário será ministro dos Negócios Estrangeiros, sucedendo a Paulo Portas (2011 – 2013) e Rui Machete (2013 – 2015) no Palácio das Necessidades.
Antes, Santos Silva foi secretário de Estado da Administração Educativa (1999-2000) e ministro da Educação (2000-2001) durante o executivo de António Guterres.
Ainda com Guterres na chefia do Governo, Santos Silva ocupou o cargo de ministro da Cultura entre 2001 e 2002. O sociólogo viria a ganhar maior notabilidade durante os executivos de José Sócrates. A partir de 2005, foi ministro dos Assuntos Parlamentares. No segundo governo de Sócrates, Santos Silva assumiu a pasta da Defesa Nacional (2009 – 2011).
Maria Leitão Marques: Presidência
Maria Manuel Leitão Marques volta em 2015 a assumir funções governativas, desta vez como ministra da Presidência e da Modernização Admnistrativa.
Depois de ter sido secretária de Estado da Modernização Administrativa nos governos de José Sócrates, entre 2005 e 2011, onde coordenou o programa Simplex e deu a cara pelo Cartão de Cidadão, Leitão Marques tem agora direito ao cargo de ministra.
Nas últimas legislativas, Leitão Marques foi cabeça-de-lista do PS pelo distrito de Viseu. É professora catedrática na Universidade de Coimbra e investigadora do Centro de Estudos Sociais. Leitão Marques nasceu em 1952 em Moçambique, é licenciada em Direito e doutora em Economia.
Francisca Van Dunem: Justiça
É uma das caras novas do executivo de António Costa.
Francisca Van Dunnen nasceu em 1955 em Angola e é procuradora-geral adjunta, sendo apresentada como um nome de topo da magistratura portuguesa.
Van Dunnen assumia até agora a chefia da Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa. Apresenta-se como a sucessora de Paula Teixeira da Cruz e Fernando Negrão no ministério da Justiça.
Urbano de Sousa: Administração Interna
Constança Urbano de Sousa sucede a Calvão da Silva na Administração Interna. Esta investigadora apresenta-se como especialista em segurança e justiça da União Europeia.
É professora universitária, não tendo conseguido a eleição para deputada nas últimas legislativas. Urbano de Sousa era candidata pelo círculo do Porto.
O seu currículo está recheado de contributos em matéria de justiça, asilo e União Europeia. Foi Conselheira da Representação Permanente de Portugal junto da União Europeia e chefiou a delegação portuguesa ao Comité Estratégico, Imigração, Fronteiras e Asilo.
Volta agora a ser chamada por António Costa, depois de já ter trabalhado com o secretário-geral socialista entre 2005 e 2006. Na altura, foi assessora do então ministro da Administração Interna em questões de imigração e asilo.
Azeredo Lopes: Defesa
Licenciado em Direito, a vida tornou-o um especialista em comunicação. Agora, assume a pasta da Defesa no executivo de António Costa. José Alberto de Azeredo Lopes é professor na Faculdade de Direito da Universidade do Porto, onde é especialista em Direito Internacional.
Fez parte do grupo de trabalho sobre o Serviço Público de Televisão em 2002, tendo negociado, em representação do executivo de Durão Barroso, o protocolo RTP-SIC-TVI assinado em 2003. Seguiu-se a presidência da Entidade Reguladora para a Comunicação Social entre 2006 e 2011.
Azeredo Lopes foi também relator em várias missões e grupos de trabalho internacionais, nomeadamente em Timor-Leste. Foi porta-voz da candidatura de Rui Moreira à autarquia do Porto. Será agora o sucessor de Aguiar-Branco na Defesa.
Pedro Marques: Infraestruturas
Aos 39 anos, Pedro Manuel Dias de Jesus Marques assume o cargo de ministro do Planeamento e Infraestruturas.
Um rebatizado ministério das Obras Públicas que será chefiado por este economista, que foi secretário de Estado da Segurança Social entre 2005 e 2011.
Pedro Marques foi um dos responsáveis pela reforma da Segurança Social de 2007, quando o ministério era liderado por Vieira da Silva.
Caldeira Cabral: Economia
Caldeira Cabral é uma das não surpresas deste executivo. O professor universitário será o novo ministro da Economia, cargo para o qual ele já tinha publicamente mostrado disponibilidade.
O economista fez já parte do grupo que construiu o cenário macroeconómico socialista, e foi eleito deputado nas listas do PS, onde concorria pelo círculo de Braga. Professor da Universidade do Minho, Caldeira Cabral já é próximo do PS há largos anos e até era apontado como eventual ministro de um executivo liderado por António José Seguro, governo esse que nunca chegou a nascer.
Caldeira Cabral foi assessor de Teixeira dos Santos e Manuel Pinho durante os governos de José Sócrates. É doutorado em economia por Nothingham e mestre pela Universidade Nova de Lisboa, apontado como especialista em Economia Europeia e Internacional. Ocupará o posto ocupado por Álvaro Santos Pereira, Pires de Lima e Morais Leitão nos últimos anos.
Vieira da Silva:
Trabalho e Segurança Social
Habituado às lides governativas, Vieira da Silva regressa em 2015 a um gabinete que conhece bem.
Será ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, acrescentando a pasta da solidariedade ao cargo que ocupou no primeiro executivo de José Sócrates (2005 – 2009): ministro do Trabalho e da Segurança Social.
No segundo executivo de Sócrates, Vieira da Silva passou a ministro da Economia, Inovação e Desenvolvimento. Na sua longa passagem pela política, chegou também a ser secretário de Estado das Obras Públicas e da Segurança Social. É-lhe agora atribuído o lugar ocupado por Pedro Mota Soares nos últimos anos.
Vieira da Silva nasceu em 1953 na Marinha Grande, sendo licenciado em Economia pelo Instituto Superior de Economia e Gestão.
Campos Fernandes: Saúde
Adalberto Campos Fernandes, ex-administrador do Hospital de Santa Maria, confirmou à agência Lusa que ia ser o sucessor de Leal da Costa na Saúde.
Campos Fernandes é médico de formação e era já há muito apontado como possível escolha de António Costa.
O próximo ministro da Saúde nasceu em 1958 e é licenciado em Medicina pela Faculdade de Medicina de Lisboa. É especialista e mestre em serviço público. Em funções profissionais, Campos Fernandes passou também pela gestão do Hospital de Cascais, instituição em regime de Parceria Público Privada.
Brandão Rodrigues: Educação
Construiu uma carreira prestigiada ao serviço da investigação do cancro e entra agora na política. Tiago Brandão Rodrigues respondeu positivamente à chamada de António Costa e foi cabeça de lista do PS no círculo de Viana do Castelo.
Assume agora a pasta da educação no executivo socialista. Brandão Rodrigues tem 38 anos foi notícia em 2013 por ter apresentado uma técnica mais eficaz de detetar o cancro. O investigador acumula já uma longa carreira ao serviço da ciência. Já viveu em Madrid, nos Estados Unidos e em Inglaterra.
Regressou a Portugal e ocupará agora a cadeira por onde passou Nuno Crato na 5 de outubro. Ao contrário do que aconteceu na última legislatura, Brandão Rodrigues acumula as pastas da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Estas são entregues a Manuel Heitor.
Manuel Heitor: Ensino Superior
Manuel Heitor assume aos 57 anos o cargo de ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
O lugar é novo para Heitor mas o tema não.
Afinal, Manuel Heitor foi secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior durante os dois governos de José Sócrates. Na altura, o ministério era liderado por Mariano Gago, que faleceu em 2015.
Manuel Heitor é licenciado em Engenharia Mecânica pelo Instituto Superior Técnico, onde é atualmente professor catedrático.
Matos Fernandes: Ambiente
António Costa escolheu um dos principais opositores à reforma do setor da água para liderar o Ambiente: José Pedro Matos Fernandes, até agora presidente das Águas do Porto, ocupará o lugar de Moreira da Silva.
Matos Fernandes tem criticado as reformas da água e dos resíduos seguidas pelo executivo de Passos Coelho, que deverá tentar reverter durante a sua passagem pela pasta do Ambiente. É engenheiro civil de formação, tendo passado pelo Ministério do Ambiente durante o primeiro executivo de António Guterres, onde foi chefe de gabinete do secretário de Estado.
Foi também presidente da Administração dos Portos do Douro e Leixões (2008-2012).
Capoulas Santos: Agricultura
Costa escolheu aquele que era o candidato natural para a pasta da Agricultura. Capoulas Santos foi secretário de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Rural entre 1995 e 1998.
Subiu a ministro da Agricultura com António Guterres, de 1998 a 2002. Regressa agora, já com Costa na chefia do executivo.
Durante a última década foi deputado no Parlamento Europeu, onde acompanhou os dossiers da agricultura e mar. Entre as distinções recebidas, conta-se a Comenda da Ordem do Mérito Agrícola da República Francesa.
Natural de Montemor-o-Novo, é licenciado em Sociologia. Tem 64 anos e foi eleito deputado pelo círculo de Évora.
Ana Paula Vitorino: Mar
A senhora dos transportes passa a governar sobre os mares.
Ana Paula Vitorino é a escolha de António Costa para uma das pastas até agora geridas por Assunção Cristas: o mar.
Ana Paula Vitorino é licenciada em Engenharia Civil pelo Instituto Superior Técnico, sendo ainda mestre em Transportes.
Foi precisamente nesta área que se notabilizou, como secretária de Estado durante o primeiro governo de José Sócrates. Foi uma das vozes da oposição mais ouvidas quando os transportes estavam em cima da mesa.
João Soares: Cultura
Militante socialista de longa data, João Soares chega agora ao Governo. O filho do antigo Presidente foi já deputado em várias legislaturas desde 1987.
Foi ainda eurodeputado entre 1994 e 1995, membro do Conselho de Estado, vereador e presidente da Câmara Municipal de Lisboa, onde sucedeu a Jorge Sampaio.
Filho de Maria Barroso e de Mário Soares, é militante socialista desde a fundação. Chegou a concorrer à liderança do Partido Socialista contra José Sócrates e Manuel Alegre no Congresso de 2004. Apoiante de Seguro nas primárias, será agora ministro da Cultura de Costa.
No currículo conta com várias obras publicadas, nomeadamente "Virar de Página", "Septembre a Lisbonne" e "Notas Convenientes e Inconvenientes".