Depois do "não é não" de Luís Montenegro após as eleições legislativas de 2024, agora é André Ventura quem afirma ao líder do PSD que "nunca é nunca". Na entrevista à RTP, o líder do Chega considerou que o atual Executivo teria sido "muito diferente" se os social-democratas tivessem aceitado governar em maioria de direita, ao lado do terceiro partido mais votado.
Mas nem tal coligação hipotética não teria feito qualquer diferença na hora de derrubar o atual executivo. "É insustentável um primeiro-ministro estar sob este nível de suspeita e querer ser candidato", afirmou Ventura sobre o caso que envolve o chefe de Governo.
Lembrando também as suspeitas que recaem sobre Miguel Albuquerque, líder do PSD Madeira,
André Ventura considera que Luís Montenegro "tem suspeitas graves no exercício das suas funções" e que há uma falta "gritante" de explicações que "o impedem eticamente" de voltar a ser primeiro-ministro.
Veja ou reveja aqui a entrevista completa.
Para que o Chega considere um apoio ao PSD, o partido terá de "fazer a sua própria limpeza interna", mas com Luís Montenegro a resposta é perentória: "Nunca é nunca".
"Com suspeitos de corrupção não faremos acordos", apontou, recordando de novo o caso da Madeira, que vai a eleições já no próximo domingo.
Questionado sobre o posicionamento do Chega com um eventual regresso de Pedro Passos Coelho à liderança dos sociais-democratas, André Ventura não responde diretamente, mas assume que tem "cada vez menos fé e esperança que o PSD alguma vez mude alguma coisa em relação ao que tem de mudar".
"Este governo não era de direita, era um produto da continuação do Governo socialista", atirou o líder do Chega para responder a quem critica a "aliança" à esquerda" para derrubar o Governo.
Acusou o executivo de Luís Montenegro de ter falhado várias promessas de campanha e considerou que "a maior traição é de um Governo a governar mal”, considerou.
André Ventura assumiu ainda sem rodeios que votou "muitas vezes ao lado do PS" ao longo do último ano apenas com o intuito a cumprir com a sua "palavra", dando o exemplo da questão das portagens, em que o Chega ajudou, em maio do ano passado, a aprovar um diploma dos socialistas para a eliminação das ex-SCUTS.
Casos no Chega. "Não adivinho o que vai acontecer"
Sobre o resultado que o Chega poderá obter nestas eleições, André Ventura assumiu que terá uma derrota caso não consiga voltar a eleger 50 deputados e que, nesse caso, irá "devolver aos militantes do partido" a escolha do novo líder.
"O meu lugar está sempre à disposição", garantiu Ventura, acrescentando que o partido "não teve medo" do escrutínio apesar dos vários casos recentes.
E precisamente a respeito desses casos, o líder do Chega afirmou que "limpou o partido".
"Os líderes políticos não escolhem os casos dos seus partidos, mas reagem aos casos de forma diferente", argumentou André Ventura, quando questionado sobre uma eventual punição por parte do eleitorado.
"Se o cameramen da RTP sair daqui roubar dois carros ali fora, não é culpa sua", rematou o presidente do Chega quando confrontado com o facto de ter uma palavra a dizer sobre os nomes que são escolhidos para o partido. "André Ventura nunca se escondeu nem fugiu dos jornalistas", afirmou ainda.
Garantiu que o deputado Miguel Arruda não voltará a ser candidato pelo Chega, mas que o "presidente
da câmara de Gaia, suspeito de crimes de corrupção, mantém-se ligado ao PS" e que Miguel Albuquerque "mantém-se ligado ao PSD".
"Miguel Arruda não tinha registo criminal", sublinhou André Ventura sobre o deputado suspeito de furtar malas no aeroporto de Lisboa. "Eu atuo imediatamente, diferente dos outros", acrescentou.
PR isento do "tráfico de influências" do regime
Em pré-campanha para as legislativas, a eleição presidencial do próximo
ano foi o primeiro tema desta entrevista conduzida pelo jornalista João
Adelino Faria. Sem esclarecer se será ou não candidato a Belém, o
líder do Chega garantiu que está "completamente focado nas
legislativas", mas assegurou que o Chega "terá voz" nas eleições de
janeiro do próximo ano.
"A minha obrigação é ter maioria para governar", vincou Ventura,
considerando que o que faz sentido é apresentar-se agora como candidato a
primeiro-ministro.
Sobre um eventual apoio a Gouveia e Melo, André Ventura não descarta
qualquer hipótese, mas assumiu de novo que o Chega deverá apresentar uma
candidatura própria.
Em relação ao perfil do próximo chefe de Estado, o líder do Chega espera que o próximo presidente da República possa estar "acima do espirito das tricas e das trocas de favores" e que "não se deixe sequestrar pelo tráfico de influências do regime".
Foi uma crítica direta dirigida a Marcelo Rebelo de Sousa no dia em que a
comissão parlamentar de inquérito sobre o caso das gémeas luso-brasileiras chumbou a proposta de relatório do Chega. O documento acusava o presidente da República de "abuso de poder".
"Vimos uma troca de favores inacreditável entre PS e PSD para se protegerem uns aos outros", afirmou André Ventura sobre esta comissão, acrescentando ainda que Portugal se tornou "numa república de troca de favores".
Perante os pedidos de serenidade e elevação na campanha para as eleições legislativas, André Ventura afirmou que "não há moderação" que valha perante "um país inundado em corrupção".