André Ventura diz "nunca é nunca" a Montenegro e assume "cada vez menos esperança" no PSD

por Andreia Martins - RTP
Foto: João Marques - RTP

O presidente do Chega foi o entrevistado da noite de terça-feira no Telejornal - a segunda de uma série de entrevistas da RTP aos líderes dos partidos com assento parlamentar a dois meses das eleições legislativas antecipadas de 18 de maio.

Depois do "não é não" de Luís Montenegro após as eleições legislativas de 2024, agora é André Ventura quem afirma ao líder do PSD que "nunca é nunca". Na entrevista à RTP, o líder do Chega considerou que o atual Executivo teria sido "muito diferente" se os social-democratas tivessem aceitado governar em maioria de direita, ao lado do terceiro partido mais votado.

Mas nem tal coligação hipotética não teria feito qualquer diferença na hora de derrubar o atual executivo. "É insustentável um primeiro-ministro estar sob este nível de suspeita e querer ser candidato", afirmou Ventura sobre o caso que envolve o chefe de Governo.

Lembrando também as suspeitas que recaem sobre Miguel Albuquerque, líder do PSD Madeira, André Ventura considera que Luís Montenegro "tem suspeitas graves no exercício das suas funções" e que há uma falta "gritante" de explicações que "o impedem eticamente" de voltar a ser primeiro-ministro. Veja ou reveja aqui a entrevista completa.

Para que o Chega considere um apoio ao PSD, o partido terá de "fazer a sua própria limpeza interna", mas com Luís Montenegro a resposta é perentória: "Nunca é nunca".

"Com suspeitos de corrupção não faremos acordos", apontou, recordando de novo o caso da Madeira, que vai a eleições já no próximo domingo. 

Questionado sobre o posicionamento do Chega com um eventual regresso de Pedro Passos Coelho à liderança dos sociais-democratas, André Ventura não responde diretamente, mas assume que tem "cada vez menos fé e esperança que o PSD alguma vez mude alguma coisa em relação ao que tem de mudar".

"Este governo não era de direita, era um produto da continuação do Governo socialista", atirou o líder do Chega para responder a quem critica a "aliança" à esquerda" para derrubar o Governo.

Acusou o executivo de Luís Montenegro de ter falhado várias promessas de campanha e considerou que "a maior traição é de um Governo a governar mal”, considerou.

André Ventura assumiu ainda sem rodeios que votou "muitas vezes ao lado do PS" ao longo do último ano apenas com o intuito a cumprir com a sua "palavra", dando o exemplo da questão das portagens, em que o Chega ajudou, em maio do ano passado, a aprovar um diploma dos socialistas para a eliminação das ex-SCUTS.
Casos no Chega. "Não adivinho o que vai acontecer"
Sobre o resultado que o Chega poderá obter nestas eleições, André Ventura assumiu que terá uma derrota caso não consiga voltar a eleger 50 deputados e que, nesse caso, irá "devolver aos militantes do partido" a escolha do novo líder.

"O meu lugar está sempre à disposição", garantiu Ventura, acrescentando que o partido "não teve medo" do escrutínio apesar dos vários casos recentes.

E precisamente a respeito desses casos, o líder do Chega afirmou que "limpou o partido".

"Os líderes políticos não escolhem os casos dos seus partidos, mas reagem aos casos de forma diferente", argumentou André Ventura, quando questionado sobre uma eventual punição por parte do eleitorado.

"Se o cameramen da RTP sair daqui roubar dois carros ali fora, não é culpa sua", rematou o presidente do Chega quando confrontado com o facto de ter uma palavra a dizer sobre os nomes que são escolhidos para o partido. "André Ventura nunca se escondeu nem fugiu dos jornalistas", afirmou ainda.

Garantiu que o deputado Miguel Arruda não voltará a ser candidato pelo Chega, mas que o "presidente  da câmara de Gaia, suspeito de crimes de corrupção, mantém-se ligado ao PS" e que Miguel Albuquerque "mantém-se ligado ao PSD". 

"Miguel Arruda não tinha registo criminal", sublinhou André Ventura sobre o deputado suspeito de furtar malas no aeroporto de Lisboa. "Eu atuo imediatamente, diferente dos outros", acrescentou.
PR isento do "tráfico de influências" do regime

Em pré-campanha para as legislativas, a eleição presidencial do próximo ano foi o primeiro tema desta entrevista conduzida pelo jornalista João Adelino Faria. Sem esclarecer se será ou não candidato a Belém, o líder do Chega garantiu que está "completamente focado nas legislativas", mas assegurou que o Chega "terá voz" nas eleições de janeiro do próximo ano.

"A minha obrigação é ter maioria para governar", vincou Ventura, considerando que o que faz sentido é apresentar-se agora como candidato a primeiro-ministro.

Sobre um eventual apoio a Gouveia e Melo, André Ventura não descarta qualquer hipótese, mas assumiu de novo que o Chega deverá apresentar uma candidatura própria.

Em relação ao perfil do próximo chefe de Estado, o líder do Chega espera que o próximo presidente da República possa estar "acima do espirito das tricas e das trocas de favores" e que "não se deixe sequestrar pelo tráfico de influências do regime". 

Foi uma crítica direta dirigida a Marcelo Rebelo de Sousa no dia em que a comissão parlamentar de inquérito sobre o caso das gémeas luso-brasileiras chumbou a proposta de relatório do Chega. O documento acusava o presidente da República de "abuso de poder".

"Vimos uma troca de favores inacreditável entre PS e PSD para se protegerem uns aos outros", afirmou André Ventura sobre esta comissão, acrescentando ainda que Portugal se tornou "numa república de troca de favores".

Perante os pedidos de serenidade e elevação na campanha para as eleições legislativas, André Ventura afirmou que "não há moderação" que valha perante "um país inundado em corrupção".
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