Aliança Democrática. PSD, CDS e PPM assinam acordo de formalização da coligação
O presidente do PSD, Luís Montenegro, o líder do CDS-PP, Nuno Melo, e o líder do PPM, Gonçalo da Câmara Pereira, celebraram este domingo a assinatura do acordo da Aliança Democrática que decorreu na Alfândega do Porto, no Porto, numa sala completamente lotada. Nas respetivas intervenções, os três líderes partidários traçaram comparações com o passado da coligação agora reeditada e apelaram ao voto, apresentando-se como a alternativa após oito anos de governação do PS.
“Nem sempre em casa, os portugueses conseguem perceber o alcance das manifestações de apoio que nós temos recebido em todos os cantos do país”, disse o líder do PSD, referindo-se ao programa “Sentir Portugal”.
Dirigindo-se a “todos os portugueses”, Montenegro quis “dizer alto” que “este ato de constituição da Aliança Democrática” visa “dar esperança e confiança” a Portugal.
Este é um projeto político “de esperança e de confiança”, acrescentou o social-democrata. “Esperança num país mais próspero e confiança numa sociedade mais justa”.
“O projeto político da Aliança Democrática não se alimenta nem pela ameaça nem pela hostilidade”, continuou. “Este movimento político não se define pela negativa. Ao contrário do Partido Socialista, nós não somos um movimento político ressabiado”.
Ainda a descrever o movimento político, Montenegro sublinhou que este “é feito a favor das pessoas, não é contra ninguém”.
E citando Sá Carneiro: “O projeto da Aliança Democrática não é um projeto para escolher um partido, é um projeto para escolher um Governo”.
“Nesta década de 20 do século XXI, nós estamos num impasse. Nós estamos em tempos de estagnação. E estamos em tempo de ressaca de todas as experiências socialistas”, apontou o líder do PSD, acusando a governação do PS, nos últimos oito anos, de terem resultado “num falhanço glamoroso dos objetivos” a que se propôs.
Diante deste impasse, argumentou então, “impõe-se mesmo criarmos uma nova esperança, um novo projeto de confiança”, “carregado de alma e motivação”.
É com o “sentido de unidade, de agregação”, sublinhou ainda Montenegro, que a Aliança Democrática vai “governar Portugal a partir de março”.
Já em tom critico, Montenegro acusou os socialistas de, no Congresso do PS este fim de semana, não terem “convidado o SNS”.
“O Partido Socialista esvaziou e desorganizou quase tudo no Serviço Nacional de Saúde”, apontou ainda. “Quem não conseguiu governar o Serviço Nacional de Saúde em oito anos, que moral tem, que capacidade tem (…) para dizer agora que vai fazer tudo aquilo que não foi capaz de fazer quando teve todos os instrumentos na mão para o executar”.
“Àqueles que acreditaram no PS há dois anos, quero dizer que este projeto da AD é também para vós, para os que se desiludiram. Que bela oportunidade deram ao PS e que o PS desperdiçou completamente”, considerou.
O presidente do PSD defendeu que o Governo liderado por António Costa “não acabou por causa do presidente da República ou qualquer outra instituição”.
“Faltou competência ao Governo, a todos os membros que por lá passaram, faltou capacidade de transformação e vontade política, porque instrumentos para mudar ninguém teve como agora”, considerou.
Na intervenção em representação do CDS-PP, o eurodeputado Nuno Melo começou por esclarecer que os atuais protagonistas da AD não se procuram comparar aos fundadores daquela aliança, nos anos 70.
Garantiu, no entanto, levar a mesma determinação para as eleições legislativas de 10 de março, até porque, considerou, “poucas vezes como agora tivemos tantos pilares fundamentais do regime democrático controlados e colonizados por todos os tipos de socialismo em Portugal”.
Num discurso de pouco mais de 20 minutos, apresentou o escrutínio próximo como um “referendo” dos portugueses aos oito anos de governação de António Costa.
Para Nuno Melo, as eleições “vão ser a primeira oportunidade de os portugueses responderem (…) se aceitam ou não o estado a que Portugal chegou”. Lembrou as polémicas e as substituições de governantes, mas assinalou também os problemas na saúde e que “quase metade da população portuguesa” vive “no limiar da pobreza”.
Acusou o Governo socialista de viver “totalmente viciado no esforço e no sacrifício dos outros”, numa crítica à carga fiscal sobre o trabalho e as empresas.
“Nunca se pagou tanto de impostos em Portugal como agora”, afirmou Nuno Melo. O centrista lembrou ainda a questão da habitação, antigo pelouro de Pedro Nuno Santos.
“Se fosse socialista não falava de habitação pelo menos durante 20 anos”, ironizou, considerando que o antigo ministro com a pasta da Habitação, hoje secretário-geral do PS, é “o rosto personificado do desastre em que tudo acabou”.
E lembrou também o caso TAP, afirmando que o SIS se transformou “numa espécie de polícia do governo que vai a casa dos portugueses resgatar computadores”, em referência ao episódio de abril de 2023 no Ministério das Infraestruturas. Acusou diretamente Pedro Nuno Santos de decidir “indemnizações de meio milhão de euros por SMS”, numa referência concreta ao caso Alexandra Reis.
Nuno Melo continuou ao ataque com o novo secretário-geral do PS como alvo, alertando para um Partido Socialista “ainda mais radicalizado à esquerda”, em que o “artífice da geringonça” segue “de mão dada” com o Bloco de Esquerda e o PCP.
Criticou, nesse âmbito, a promessa de veto de um eventual Governo da Aliança Democrática por parte dos partidos de esquerda, vincando que a aliança deve vencer as eleições “por muito” para que o país “não fique entregue à irresponsabilidade dos temerários que, não tendo ideias, não conseguem outra coisa que não seja manipular as emoções”.
Regressando à crítica de Pedro Nuno Santos, considerou que a forma como o novo líder do PS se apresenta roça o “surrealismo”, sendo “alguém que tem colado o governo anterior na testa, mas se apresenta ao povo e ao país como sendo uma coisa nova”.
Ao contrário do que se foi ouvindo entre vários históricos militantes socialistas ao longo do fim de semana de congresso, Nuno Melo considerou, na sessão de assinatura do acordo pré-eleitoral, que a crise atual “não nasceu em Belém, nasceu em São Bento”.
Nuno Melo assinalou que a AD traz “uma lufada de ar fresco” para Portugal e que “não se conseguem melhores resultados apostando nos mesmos”. Defendeu que a aliança que integra é “a única alternativa credível, experimentada, previsível, confiável” e que “não há nenhuma outra alternativa a este Partido Socialista”.
Lembrando a experiência como eurodeputado e assinalando a presença do colega social-democrata Paulo Rangel na sessão de assinatura do acordo, confessou: “Não gostamos nada de ver as instituições democráticas na lama por esses jornais fora no mundo inteiro por causa do que aconteceu durante dois anos em Portugal, particularmente nos últimos dois anos”.
Em referência a problemas concretos do país, disse que é preciso “devolver eficácia e humanismo ao SNS”. Acusou o PS de “atirar ideologia” para a resolução de problemas graves e acusou o Governo de alcançar piores resultados com mais gastos e mais profissionais de saúde à disposição.
Argumentou ainda que o fim das parcerias público-privadas significou que hospitais premiados passassem a ser “hospitais cheios de problema”.
E ainda a educação, nomeadamente os resultados PISA recentemente divulgados. Nuno Melo prometeu “devolver rigor à educação” e combater as “consequências do facilitismo que o socialismo vende”.
Por fim, prometeu reduzir a taxa de IRC e ainda devolver rendimentos às famílias e empresas e pensar nos salários de todos, não apenas em quem aufere o salário mínimo. “Portugal é feito de todos”, vincou.
Nuno Melo concluiu a intervenção com a defesa da AD como “projeto transformador da vida das pessoas, como aconteceu no final dos anos 70 e início dos anos 80”.
“Sempre que nos juntamos em eleições legislativas nunca perdemos”, concluiu.
“Para o meu partido, o qual eu ajudei a fundar e milito desde 1974, é uma honra estar aqui neste momento tão importante e simbólico para o nosso país”, começou por intervir Gonçalo da Câmara Pereira, dirigindo-se aos dirigentes e militantes dos partidos da coligação.
Recordando que passaram mais de quatro décadas desde que Francisco Sá Carneiro convidou o PPM a integrar a Aliança Democrática, Câmara Pereira lembra como o “partido era ridicularizado como o partido dos militantes ecologistas”.
“Antes da AD e dos seus triunfos, os governos da Iniciativa Presidencial sucediam-se uns seguidos dos outros”, continuou. “O país parecia ingovernável”.
Ainda num contexto histórico, o líder do PPM afirmou que “o poder político estava hegemonizado pela esquerda e pela extrema-esquerda”.
“O perigo da eternização da esquerda no Poder foi um risco e um problema na década de 70. Continua a ser um risco e um problema dos nossos dias”.
Um risco, acrescentou Câmara Pereira, “agravado porque agora já não existe qualquer pudor por parte do Partido Socialista em aliar-se com a extrema-esquerda para lograr perpetuar-se no Poder”.
Nas palavras do líder do PPM, o projeto do Partido Socialista está “a adiar” o futuro do país e as “cosméticas contas certas do PS resultam apenas do sucessivo adiamento dos investimentos cruciais para o país, da imposição de uma carga fiscal brutal que impede o nosso crescimento económico, e do abandono das funções do Estado no sistema educativo, no Sistema Nacional de Saúde, na Justiça e na prática na totalidade da Administração Pública”.
A Aliança Democrática “representa hoje a única esperança de derrotar o PS e os seus aliados da Geringonça, que agora exigem integrar um hipotético governo da esquerda liderado por Pedro Nuno Santos”. E o PPM, alegou ainda o líder partidário, sabe “bem o que significa derrotar hegemonias da esquerda no nosso país”.
“O PPM está na Aliança Democrática para ajudar a criar uma convergência de forças políticas e sociais necessária para garantir a alternância política do nosso país”, sublinhou, advertindo que “se assim não for, o PS instalar-se-á no Poder durante décadas”.
Gonçalo da Câmara Pereira assumiu ainda que o PPM integra esta coligação “para defender os seus velhos ideais ecológicos no âmbito da governação do país”.
Em tom de conclusão, garantiu que “melhores dias ainda estão para vir”.