Vila d`Este com mais residentes que 80 cidades portuguesas

por © 2007 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

A Urbanização de Vila d`Este, em Gaia, que acolhe mais de 17 mil pessoas em prédios degradados, tem mais residentes do que oito dezenas de cidades portuguesas.

Os seus moradores estão cansadas de esperar pelo cumprimento das muitas promessas de reabilitação já feitas.

"As pessoas estão muito desapontadas porque, apesar dos impostos que pagam, não vêm as promessas serem cumpridas", afirmou hoje António Moreira, presidente da Associação de Proprietários de Vila d`Este, em declarações à Lusa.

Na perspectiva de António Moreira, tudo se resume à "falta de vontade política do Governo e da Câmara de Gaia para resolver o problema", o que se vem traduzindo numa crescente saída de moradores para outros locais.

Em causa, segundo o presidente da associação, está o facto do governo e a autarquia ainda não terem encontrado uma solução que permita garantir o financiamento do projecto de reabilitação urbana de Vila d`Este.

A urbanização, com 109 edifícios distribuídos por 18 blocos, num total de 2.085 habitações e 76 espaços comerciais, está localizada na freguesia de Vilar de Andorinho, representando mais de metade da população total da autarquia.

Os dados estatísticos mais recentes indicam que Vila d`Este, erguida entre 1976 e 1982, tem mais residentes do que cerca de oito dezenas de cidades portuguesas, algumas das quais não chegam a ter sequer metade da população residente desta urbanização.

Para promover a reabilitação urbana e paisagística da urbanização, foi criada em Março de 2003 a associação de proprietários.

"Nós pagamos 1,5 milhões de euros por ano em impostos municipais e não vemos nenhum investimento na urbanização", frisou António Moreira, recordando os motivos que originaram a criação da associação.

A degradação dos edifícios, bem visível para quem passa na auto-estrada A1, obriga a obras de reabilitação, cujas primeiras promessas remontam a 2003, altura em que a associação de proprietários assinou um protocolo com a empresa municipal GAIAURB.

No quadro desse acordo, a associação realizou um minucioso levantamento das necessidades, num trabalho que se prolongou por 25 meses e envolveu quatro voluntários.

"O que nos competia fazer, está feito", salientou António Moreira, lamentando que o processo de reabilitação tenha sido atrasado com a transferência para a Gaia Social, empresa municipal vocacionada para a gestão do parque habitacional.

O levantamento das necessidades promovido pela associação originou um estudo que foi apresentado numa conferência internacional em Itália e publicado na revista norte-americana Housing Science.

O estudo indica que um dos maiores problemas em Vila d`Este é a infiltração de humidade, que afecta especialmente as caixilharias das janelas (42 por cento) e as paredes (28 por cento), mas também atinge os tectos (23 por cento) e o chão (7 por cento).

Nas habitações, os quartos são a divisão mais afectada pelo problema da humidade.

As fissuras são outro dos problemas registados nos prédios, atingindo especialmente as paredes (50 por cento) e os tectos (44 por cento).

Para inverter o actual quadro de degradação, o estudo defende a reabilitação de coberturas e paredes, a reconstrução de entradas e zonas de escadas, a substituição das caixilharias e a mudança das redes de água, esgotos e incêndios.

Um dos autores do estudo, Vítor Abrantes, da Faculdade de Engenharia do Porto, elaborou também o projecto de requalificação urbanística que a Câmara de Gaia pretende realizar na urbanização, num investimento que ronda 20 milhões de euros.

As obras chegaram a ser anunciadas para o início deste ano, mas a falta de entendimento entre o Governo e a câmara tem vindo a atrasar sucessivamente o processo, com o consequente agravamento da qualidade de vida dos residentes.

O projecto prevê a eliminação das anomalias detectadas nos edifícios, assim como a sua reabilitação arquitectónica e adaptação às novas exigências, incluindo ainda a eliminação de marquises, a instalação de uma rede de incêndios e a recuperação dos portões das garagens que estão degradados.

No exterior, está prevista a reformulação de arruamentos, passeios e zonas verdes, a criação de novas zonas de estacionamento, a instalação de nova iluminação pública e a substituição das redes de água, esgotos, electricidade, telefones e gás.

O sítio da Gaia Social na Internet refere que a empresa "está pronta para arrancar com o concurso público", mas o processo depende da disponibilidade de verbas do Governo.

"É uma questão do Governo nos telefonar a dizer que o dinheiro está disponível", afirmou, em meados de Março, Marco António Costa, presidente da Gaia Social e vice-presidente da Câmara de Gaia.

Aparentemente, o telefonema ainda não chegou.

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