Victoria, o maior nenúfar do mundo, deslumbra na Amazónia e em Coimbra

por Agência LUSA

Victoria, o maior nenúfar do mundo, tem o seu habitat natural no rio Amazonas, mas esta planta aquática, com flores tão belas como efémeras, pode ser também apreciada, durante o Verão, no Jardim Botânico de Coimbra.

As flores de grande porte, exuberantes e perfumadas, do nenúfar Victoria - assim baptizado em honra da rainha inglesa - duram apenas dois dias, com a singularidade de escolherem o anoitecer para desabrochar.

Cultivada há mais de meio século com êxito no Jardim Botânico da Universidade de Coimbra - o único da Península Ibérica com esta planta da Amazónia - a "rainha dos nenúfares" mostra, durante os meses de Julho e Agosto, neste espaço, "o espectáculo inesquecível de um dos prodígios da Natureza".

As flores abrem com luz pouco intensa, ao crespúsculo, e, no primeiro dia, são brancas, exalando, ao desabrocharem, um perfume intenso, semelhante ao do ananás amadurecido, para atrair os insectos polinizadores.

Na segunda noite, voltam a abrir com enormes pétalas, desta vez entre o roxo e o rosa-escuro, mergulhando na água após a polinização e encerrando este ciclo efémero de apenas 48 horas, explicou à agência Lusa Ana Cristina Tavares, bióloga do Departamento de Botânica da Universidade de Coimbra.

Além da vida transitória das suas flores gigantes, a planta constitui um "admirável exemplo natural de `obra de engenharia`": as folhas deste nenúfar chegam a atingir dois metros de diâmetro, sendo usadas como berços pelas índias da tribo Yagua para nelas deitarem os seus bebés.

Apelando, num primeiro contacto, sobretudo à visão e ao olfacto, devido ao seu grande porte e à beleza e odor forte das flores, Victoria esconde ainda outros segredos, que suscitam o envolvimento de vários sentidos.

Como explica Ana Cristina Tavares, as folhas enormes, de "crescimento rápido e intenso", apresentam espinhos na página inferior (a que se encontra em contacto com a água) para protecção contra os predadores.

Por seu turno, na superfície, as folhas têm "abundantes e imperceptíveis perfurações, que podem servir para escoar a água que possa acumular-se durante as chuvas, tão abundantes e frequentes nas regiões tropicais", cumprindo a mesma função os dois sulcos existentes nos seus rebordos.

Na estufa do Jardim Botânico de Coimbra são recriadas, a partir de Março, as condições de temperatura e de humidade necessárias para a espécie Victoria cruziana Orb. se desenvolver, num ritual que é cumprido desde 1936, quando Luís Carrisso ocupava a direcção do organismo.

Sendo um nenúfar de habitat tropical exige "condições de cultura muito especiais", que são simuladas num lago da estufa do Jardim Botânico - onde coexiste com uma espécie da perfumada flor de lótus - para recriar o habitat natural da Amazónia.

"Tem sido todos os anos um sucesso, é difícil mas domina-se a técnica", adiantou a bióloga à Lusa.

Depois de fertilizada, a flor fecha e mergulha na água, encerrando assim o seu ciclo de vida de apenas dois dias.

No final do Verão, as folhas do nenúfar vão envelhecendo, restando no lago as suas sementes que, no ano seguinte, darão origem a novos nenúfares.

Num texto sobre esta planta aquática, publicado num boletim da Associação Portuguesa de Professores de Biologia e Geologia, Ana Cristina Tavares escreve que, no seu habitat natural, o nenúfar Victoria "prefere os pequenos lagos" e os "estreitos canais de água" de ligação ao Rio Amazonas.

De acordo com a bióloga, uma única planta "pode produzir 40-50 folhas numa só época de crescimento e monopolizar a superfície da água de uma forma tão eficaz que poucas são as plantas de outros tipos capazes de crescer ao lado ou por baixo destes nenúfares".

Em estufa são plantas anuais mas, na Natureza, "a produção de novas folhas e flores persiste por muito tempo, dado que as condições ambientais, de calor e humidade elevados, estão presentes durante todo o ano".

Na América do Sul, as sementes do nenúfar Victoria são usadas na alimentação e, torradas, delas se extrai farinha.

Conhecidos pelos indígenas como "bandejas-de-água, marum ou irupé, que significa milho-da-água", os sugestivos nenúfares gigantes alimentam também a mitologia e o imaginário locais.

"Os índios Tupi acreditam que as flores da Victoria são a alma de Naiá, filha de um chefe-índio que se afogou para pôr termo à sua paixão pelo Deus da Lua.Para recompensar o sacrifício da jovem, a Lua transformou-a em estrela das águas, na forma de flor perfumada", refere a bióloga no mesmo trabalho.

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