Em Portugal, perto de 100 mil pessoas têm problemas de dependência em relação às raspadinhas. Trinta mil desenvolveram mesmo uma perturbação de jogo patológico, segundo um estudo do Conselho Económico e Social conhecido esta terça-feira.
O estudo Quem Paga a Raspadinha, apresentado esta terça-feira, apela a maior regulamentação, a começar pela criação um cartão de jogador que permita identificar padrões de uso de jogo que possam ser patológicos.
Só este ano, os apostadores já gastaram 1,4 mil milhões de euros em raspadinhas, o que equivale a quatro milhões por dia.
"As pessoas que jogam mais frequentemente raspadinhas são pessoas com baixa instrução, com rendimentos mais baixos, nomeadamente entre os 400 e 650 euros mensais, e também pessoas que têm outros problemas de saúde como o consumo excessivo de bebidas alcoólicas", explicou à RTP Pedro Morgado, coordenador do estudo. "São pessoas que são maioritariamente operários, comparativamente com os trabalhadores dos serviços que têm um padrão de jogo muito menos frequente", acrescentou.
Os mais idosos têm mais probabilidade de se transformarem em jogadores dependentes que os jovens. "É um vício que afeta os mais velhos, os mais pobres, os menos instruídos e os mais vulneráveis da sociedade".
Segundo Pedro Morgado, o estudo conclui ainda que "existem piores indicadores de saúde mental, nomeadamente sintomas de ansiedade, depressivos e de stress, nas pessoas que têm estes problemas com o uso de raspadinhas".
O estudo não encontrou diferenças "entre os homens e as mulheres, o que também é significativo".
"Em todas as outras modalidades de jogo, os homens tendem a gastar mais e a ter mais problemas de jogo patológico. Portanto, essa ausência de diferenças, é um sinal de que, neste jogo em particular, as mulheres são mais afetadas do que noutros tipos de jogo".
O autor do estudo defende que uma das formas de combater o vício é, primeiramente, "aumentar o debate público acerca da regulamentação deste tipo de jogo".
"Uma vez que é um jogo interpretado, pela maioria das pessoas como não tendo consequências potencialmente negativas. Necessitamos de aumentar a literacia e criar medidas que ajudem os que não conseguem controlar a perturbação, a limitar o acesso ao jogo", acrescentou.
Pedro Morgado defende a criação de "um cartão de jogador" e frisa que "não está em causa, de maneira nenhuma, proibir este tipo de jogo. Porque a proibição traz outros problemas, nomeadamente o jogo ilegal".
"É também importante dizer que este é um problema significativo em Portugal, tendo em conta a popularidade das raspadinhas, mas há outras modalidades que também estão a crescer e também nos preocupam, como o jogo online. É preciso uma política que olhe, de forma integrada, para todos estes problemas que têm consequências muito nefastas para a nossa sociedade".