O serviço Via Verde AVC não é utilizado nem por metade dos doentes com acidente vascular cerebral - a principal causa de morte em Portugal.
De acordo com o INEM (Instituto Nacional de Emergência Médica), no ano passado mais de 3.100 casos foram encaminhados através deste sistema de apoio.
Elsa Azevedo, neurologista e vice-presidente da Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral, entende que os números agora revelados deviam ser bem mais altos.
E esta quinta-feira assinala-se precisamente o Dia Nacional do Doente com AVC, sendo que menos de metade dos doentes portugueses que entram nas unidades de AVC são admitidos através do sistema Via Verde. Isto leva a concluir que não ligaram o 112 e que os doentes deslocaram-se ao hospital por meios próprios.
No entanto, Elsa Azevedo lembra que há justificações para essa realidade e
sublinha que nem todas as zonas do país estão servidas pelo sistema de Via Verde AVC.
Mais de uma morte por hora em 2013
Sabe-se que, de acordo com o último relatório da Direção-Geral da Saúde,
quase 12 mil pessoas morreram, em 2015, por doenças cerebrovasculares em Portugal, sendo 1.773 mortes por AVC hemorrágico e 6.099 por AVC isquémico.
São dados preocupantes mas que, ainda assim, representam uma diminuição de 1.269 mortes comparativamente a 2012, ano em que a mortalidade total por doenças cerebrovasculares se cifrou em 13.020 casos.
Em 2013 morreram 12.273 pessoas com AVC - mais de uma por hora -, quase o dobro daquelas que sucumbiram a enfartes.
O dobro das mortes de Espanha
Um dos indicadores comparativos mostra a realidade portuguesa no que respeita ao acidente vascular cerebral (AVC).
Um relatório de 2015 mostra que Portugal tem o dobro da mortalidade de Espanha, registando 88,1 óbitos por cada 100 mil habitantes, contra 44,9 no país vizinho.
No que respeita às doenças cardiovasculares, Portugal situa-se entre os países que têm a maior taxa de mortalidade - 7.º lugar entre 34 - e é também um dos que mais progrediram nas últimas duas décadas no área do AVC: de 1990 a 2013, a taxa caiu 73 por cento, passando de 330 óbitos por cem mil habitantes para os tais 88,1 óbitos.
Os dados constam do relatório Health at a Glance, divulgado no final do ano passado e encomendado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE).
Rapidez, a palavra-chave
Os técnicos não se cansam de alertar para a importância de se reconhecer os primeiros sintomas e que se ligue de imediato o 112, já que as primeiras horas de um AVC (acidente vascular cerebral) são decisivas para a sobrevivência e para o tratamento. A hipertensão, o tabagismo, o sedentarismo e a obesidade e motivos genéticos são alguns dos principais fatores de risco.
Nesse cenário, o Instituto Nacional de Emergência Médica aconselha as pessoas a ligarem o número perante os sinais e os sintomas de AVC, como falta de força num braço, boca ao lado ou dificuldade em falar.
E vão também nesse sentido os conselhos de Elsa Azevedo, vice-presidente da Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral.
Ainda segundo o mesmo relatório da OCDE - Health at a Glance - o número de doentes e o atraso na resposta no hospital explicam a taxa alta de AVC em Portugal, embora a mesma tenha diminuído 73 por cento em 23 anos.
Uma vez mais, a rapidez é decisiva na comparação entre Portugal e Espanha. Para além de outros fatores, o relatório destaca algumas diferenças culturais e no tratamento da doença, onde a organização dos cuidados é mais avançada em Espanha, o que leva alguns especialistas a afirmar: "são mais rápidos do que nós".