O presidente do Chega, André Ventura, defendeu hoje que é preciso "tolerância zero" com quem causa distúrbios e pediu ao Governo uma "condenação inequívoca" dos desacatos nas últimas noites na Grande Lisboa.
"Ou nós damos um sinal político, a esta hora, de que estas pessoas terão margem zero e tolerância zero, ou nós arriscamos outra noite de conflitos, outra noite de turbulência e outra noite de desacatos. Não pode haver tolerância", defendeu, antes de uma visita ao Quake - Museu do Terramoto de Lisboa (cujo propósito não referiu nas declarações aos jornalistas).
André Ventura considerou que a ministra da Administração Interna - que falou em distúrbios inadmissíveis - teve "meias palavras" e devia ter feito "uma condenação inequívoca destes atos".
"Eu penso que o país todo esperava esta manhã uma condenação muito firme do Governo em relação àquilo que aconteceu na noite de ontem", afirmou, indicando querer ouvir por parte do executivo que está "incondicionalmente ao lado das forças de autoridade" e do agente que baleou mortalmente um homem na Cova da Moura, na segunda-feira, que "devia ser louvado, não devia ser perseguido".
O líder do Chega classificou os autores dos desacatos que aconteceram após esta morte como "rascaria" e "bandidagem pura", e disse que é necessário que a polícia "não tenha receio de repor a ordem" e tenha os meios necessários para o fazer.
"Mas para isso é preciso que politicamente seja dito à polícia que pode fazer o que deve fazer, que é conter os danos, os planos e as ações em curso, mesmo que isso implique força", notou, antecipando novas situações se tal não acontecer.
André Ventura considerou que "nada indica" que a polícia tenha agido "de forma desproporcional, de forma inadequada, ou fora do contexto normal de uma atividade policial", rejeitando que tenha havido um uso excessivo de força.
O líder do Chega consuderou que há polícias que têm "medo de atuar, precisamente com medo de processos disciplinares, com medo que depois venham dizer que não fizeram bem, com medo que tenham agido desproporcionalmente".
"Eu acho que se nós entramos na lógica de vamos aproveitar este caso para refletir sobre o que a polícia tem que fazer, nós estamos já a dizer o contrário, estamos a dizer que em vez de refletir como é que contemos esta bandidagem, estamos a refletir como é que a polícia deve fazer o seu trabalho", afirmou.
O presidente do Chega recusou que seja necessária a intervenção do Exército para parar os distúrbios que se têm registado nas últimas noites.
Odair Moniz, de 43 anos e morador no Bairro do Zambujal, na Amadora, foi baleado por um agente da PSP na madrugada de segunda-feira, no Bairro da Cova da Moura, no mesmo concelho, e morreu pouco depois, no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa.
Segundo a PSP, o homem pôs-se "em fuga" de carro depois de ver uma viatura policial e "entrou em despiste" na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, "terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca".
A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa contestaram a versão policial e exigiram uma investigação "séria a isenta" para apurar "todas as responsabilidades", considerando que está em causa "uma cultura de impunidade" nas polícias.
A Inspeção-Geral da Administração Interna abriu um inquérito urgente e também a PSP anunciou um inquérito interno, enquanto o agente que baleou o homem foi constituído arguido.
Desde a noite de segunda-feira foram registados desacatos no Zambujal e, já na terça-feira, noutros bairros da Área Metropolitana de Lisboa, onde foram queimados dois autocarros, automóveis e caixotes do lixo, e detidas três pessoas. Dois polícias receberam tratamento hospitalar devido ao arremesso de pedras e dois passageiros dos autocarros incendiados sofreram esfaqueamentos sem gravidade.