Valorização da carreira e salários. Médicos cumprem dois dias de greve

por Carlos Santos Neves - RTP
A paralisação quer “responder à falta de compromisso, por parte do Ministério da Saúde, em negociar as grelhas salariais e na falta de medidas para salvar o SNS” Pedro A. Pina - RTP

Começa esta quarta-feira uma greve de dois dias convocada pela Federação Nacional dos Médicos, a primeira ação de protesto pós-pandemia. A paralisação visa reivindicar a valorização da carreira e das tabelas salariais. Para o início da tarde está prevista uma manifestação junto ao Ministério da Saúde, em Lisboa.

“A Federação Nacional dos Médicos, infelizmente, foi empurrada para tomar esta medida, uma medida drástica porque, de facto, não temos tido qualquer tipo de resposta por parte do Ministério da Saúde”, afirmou ao início da manhã, em declarações à RTP, a presidente da Comissão Executiva da FNAM, Joana Bordalo e Sá.

“É necessário que as nossas grelhas salariais sejam revistas, é necessário que tenhamos condições dignas de trabalho, porque o que nós estamos a assistir todos os dias é a saída de médicos do Serviço Nacional de Saúde. Todos os dias saem colegas. Todos, todos os dias”, enfatizou a dirigente sindical.

“É por isso que os serviços encerram. É por isso que é preciso reorganizar urgências, porque não há médicos suficientes para as assegurar. É por isso que temos ainda um milhão e meio de cidadãos em Portugal que não têm médico de família”, enumerou.A greve que se prolonga até quinta-feira não conta com o Sindicato Independente dos Médicos, para o qual não se justifica avançar com uma paralisação durante as negociações com o Ministério da Saúde. Ao abrigo do protocolo entre as partes, as negociações devem perdurar até junho, embora os sindicatos reclamem a implementação de medidas urgentes.

Questionada sobre a forma como a greve pode afetar os serviços, Joana Bordalo e Sá admitiu que “certamente haverá perturbação e transtorno, em termos das consultas, cirurgias”.

Pedimos desculpa aos nossos utentes. Com certeza que vão perceber, que vão estar solidários connosco, uma vez que isto é uma luta que também é para eles, para que haja médicos no Serviço Nacional de Saúde, porque o que é grave é não haver Serviço Nacional de Saúde”, rematou.
Sónia Lobo Silva - RTP

Fixar e captar mais médicos para o Serviço Nacional de Saúde é o objetivo último enunciado pelas organizações sindicais. A Federação Nacional dos Médicos, em particular, exige a renegociação da carreira médica e da grelha salarial, com um horário de base de 35 horas, além da dedicação exclusiva opcional e majorada e a classificação do internato como primeiro grau da carreira.

A FNAM quer ainda uma revisão das normas de organização do trabalho médico, a reposição dos 25 dias úteis de férias anuais e de cinco dias suplementares – fora da época alta – e a diminuição do tempo normal de trabalho nas urgências de 18 para 12 horas.

O ministro da Saúde admitiu no mês passado preocupação face à greve dos médicos. Ainda assim, Manuel Pizarro prometeu prosseguir as negociações “tranquilamente” e em “boa-fé” com os sindicatos.
“Retrocesso absoluto”
No final da última reunião com a tutela, na passada quinta-feira, a presidente da Comissão Executiva da FNAM dava conta de “pequeninos avanços” no que toca às normas particulares de organização e disciplina do trabalho médico.

“Não se falou de todo de grelhas salariais que é o tema mais importante neste momento em cima da mesa para conseguimos prevenir a saída de médicos do Serviço Nacional de Saúde”
, vincava ainda a médica oncologista Joana Bordalo e Sá.

“O pior de tudo”, contrapunha a dirigente sindical, então ouvida pela agência Lusa, foi a tutela ter repetido uma proposta já apresentada em novembro e que Manuel Pizarro teria retirado: “Essa proposta volta a aparecer com uma redação de possível perda de direitos, ou seja, deixa em aberto que os médicos de família podem deixar de ter limite para o número de utentes ou ter um limite diferente ou maior do que o que é agora, que é imenso”.

A proposta abre caminho a que um médico deixe de fazer urgências aos 60 anos de idade, “em vez de ser aos 55”, ou deixe de fazer trabalho noturno “aos 55 anos”, para lá do atual limite de 50. O que constitui, na perspetiva da organização sindical, “um retrocesso absoluto, inaceitável e inadmissível”.

c/ Lusa

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