Vale dos Judeus. Quem falhou na fuga de prisioneiros foi "quem os guarda", diz ex-diretor dos Serviços Prisionais

por Joana Raposo Santos - RTP
Questionado sobre quem falhou para que os criminosos conseguissem fugir, respondeu que foi "quem os guarda". RTP

O ex-diretor-geral dos Serviços Prisionais, demitido na sequência da fuga de cinco prisioneiros da cadeia de Vale dos Judeus, acredita que quem falhou nesse episódio foi "quem os guarda", tendo existido falhas de segurança que foram exploradas pelos reclusos. Em entrevista à RTP, Rui Abrunhosa Gonçalves esclareceu ainda que apresentou a demissão depois de a ministra da Justiça ter manifestado que já não tinha confiança em si e considerou que, nestes casos, "quase sempre têm de rolar cabeças".

No Jornal da Tarde, o ex-diretor explicou que a fuga dos cinco homens foi baseada na “teoria das atividades rotineiras”, circunstância em que os criminosos avaliam as rotinas das vítimas e atacam em função disso.

Estas pessoas avaliaram muito bem as rotinas do funcionamento da prisão – não é à toa que escolheram o sábado, porque o sábado tem um conjunto de rotinas que não são iguais às do resto da semana”.

Questionado sobre quem falhou para que os criminosos conseguissem fugir, respondeu que foi “quem os guarda”.

“Na prisão nós temos estas duas grandes populações: os reclusos e os guardas. Os guardas estão lá sobretudo para exercer segurança e, portanto, é óbvio que houve aqui falhas na segurança que foram exploradas por estes reclusos”, explicou Rui Gonçalves.

O antigo diretor dos Serviços Prisionais esclareceu ainda que o facto de haver 200 câmaras de vigilância não significa que o guarda que as controla tenha de estar a olhar para a totalidade das mesmas.

“Há um videowall que está mais perto do guarda onde estão as câmaras que nesse dia, nesse momento e a essa hora são importantes”, afirmou.

Sobre uma eventual colaboração interna que tenha dado origem à fuga, o ex-responsável pelas prisões disse que “tudo é admissível” e que é necessário aguardar pelos resultados da investigação.

Rui Abrunhosa Gonçalves deu o exemplo de casos em que telemóveis ou drogas entraram nas prisões com o apoio de funcionários, mas vincou que não faz “nenhum tipo de julgamento apressado” sobre o que terá acontecido no episódio da recente fuga.
"Quase sempre têm de rolar cabeças"

Abrunhosa Gonçalves deu ainda detalhes acerca da sua demissão. “Não sou de atirar a toalha ao chão e, enquanto as pessoas tiverem confiança em mim e no meu trabalho, iria continuar. Se isso não acontecesse, naturalmente não fazia sentido continuar. E foi isso que aconteceu”, declarou.

“A senhora ministra manifestou que não tinha doravante confiança em mim e no meu trabalho, e foi nessa sequência que eu apresentei a demissão”.

Questionado sobre se pensa ter sido o bode expiatório da fuga, respondeu que “nestas circunstâncias quase sempre têm de rolar cabeças”.

“Não sou novo nisto e percebi que desde o primeiro momento em que ninguém diz nada, ninguém se chega à frente para fazer algum tipo de declaração em defesa dos dirigentes, que provavelmente o meu futuro estava anunciado”, frisou.

Quanto ao tema da falta de guardas nas cadeias, Rui Gonçalves afirmou que desde a anterior tutela foram pedidos novos concursos, mas que “as coisas encalham sempre no Ministério das Finanças”.
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