A tripulação de um barco de pesca de Peniche, retida em Portimão desde terça-feira, recusa-se a descarregar as cerca de três toneladas de espadarte que tem a bordo, por recear que a venda reverta a favor do Estado.
A embarcação "Virgem das Graças" foi interceptada por uma lancha da Marinha Portuguesa terça-feira ao final da manhã, quando navegava ao largo de Sagres, e está desde então retida no porto de Portimão, devido a problemas legais.
A bordo, a tripulação - constituída por oito elementos -, tem cerca de três toneladas de espadarte, pescado ao longo dos últimos dois meses a sudoeste das Ilhas Canárias, a 1.300 milhas (cerca de 2.300 quilómetros) da costa portuguesa.
A apreensão, ordenada pela Direcção Geral das Pescas, deveu-se ao facto de a embarcação ter pescado no Oceano Atlântico, zona para a qual não tinha licença, disse à Agência Lusa o presidente da Associação dos Armadores da Pesca Local, Costeira e Largo da Zona Oeste.
De acordo com Jerónimo Rato, durante oito meses do ano as embarcações estão autorizadas a pescar espadarte no Atlântico, estando os restantes quatro meses reservados para a pesca daquela espécie no Mar Mediterrâneo, período que está agora a decorrer.
Segundo o mestre da embarcação, António Luís, a "Virgem das Graças" deslocou-se a Portugal para que ele frequentasse o curso de mestre costeiro - que iria iniciar- se na próxima terça-feira - já que não havia ninguém para o substituir no comando do barco.
A apreensão está a revoltar o mestre da embarcação que, embora reconheça a ilegalidade, afirma que as autoridades que regulam o sector "sabem perfeitamente que só se pode trabalhar no Oceano com este tipo de artes de pesca".
Segundo António Luís, é "quase impossível" pescar espadarte no Mediterrâneo, quer devido às fortes correntes marítimas, que dificultam a actividade, quer devido ao tipo de artes utilizadas por aquela embarcação de grande porte.
"O Governo anda a brincar connosco", acusa o mestre da "Virgem das Graças", acrescentando que cerca de metade dos barcos a pescar com aquelas artes se vêem obrigados a pescar no Atlântico.
"Além da pescaria ter sido fraca, ainda estamos sujeitos a ir para casa de mãos vazias pois se descarregarmos o peixe, o dinheiro da venda vai para o Estado", lamenta.
"É uma vergonha que as autoridades estejam a agir desta forma, ainda mais quando estão a par de toda a problemática que envolve a pesca do espadarte", corrobora Jerónimo Rato.
A agência Lusa tentou obter um comentário do Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, que tutela a Direcção Geral das Pescas, mas tal não foi possível em tempo útil.