
Um novo tratamento cirúrgico para reduzir os efeitos da apneia do sono e do ressonar foi hoje estreado no hospital de S.João, Porto, e poderá estar disponível noutros serviços de saúde nas próximas semanas, anunciou o médico responsável.
Em declarações à Lusa, o médico Pais Clemente, responsável pela introdução em Portugal e na Europa deste tratamento, afirmou que existem condições para que os serviços públicos e privados de saúde disponibilizem este tratamento num prazo de duas a três semanas.
"Basta que o requisitem", frisou Pais Clemente, que falava no final de cirurgias realizadas aos dois primeiros doentes portugueses a beneficiar do novo tratamento.
Segundo explicou à Lusa, o tratamento consiste numa pequena cirurgia, que demora cerca de "cinco minutos", para colocação de três implantes que impedem que o músculo responsável pelo ressonar se relaxe em demasia.
"Trata-se de um material bio-compatível que oferece maior sustentabilidade, diminuindo a vibração", explicou, acrescentando que, ao fim de oito a 12 semanas, é criada "uma área de fibrose à volta do implante" que origina "uma maior rigidez do sistema, levando a que o véu do paladar não vibre".
"É uma cirurgia de execução rápida, tecnicamente muito simples e com um pós-operatório excelente", frisou o médico, realçando o facto dos doentes poderem ter alta no mesmo dia e ter uma vida normal no dia seguinte.
Segundo Pais Clemente, "o ressonar é provocado pela vibração do véu do paladar, que com o tempo vai ficando flácido".
"O relaxamento é cada vez maior, o que origina o colapso das vias respiratórias superiores, com obstrução, obrigando o doente a um esforço suplementar para retomar a respiração normal", acrescentou.
Justifica-se, assim, a sensação de cansaço, sonolência e consequente diminuição da rentabilidade e da capacidade de trabalho de que os doentes padecem.
Pais Clemente alertou ainda para a possibilidade de, perante o excesso de cansaço, ocorrerem acidentes de viação, como aconteceu com um dos doentes, hoje operado, que adormeceu ao volante.
Aconselha, por isso, os condutores que sofrem de apneia do sono a fazer viagens curtas e a descansar periodicamente durante as mesmas.
Com o tratamento hoje inaugurado no Porto, a qualidade de vida destes doentes melhora significativamente, acrescentou Pais Clemente.
O tratamento foi pela primeira vez colocado em prática nos EUA, em 2004.
Aprovada pela FDA - Food and Drug Administration norte- americana - e pela União Europeia, a técnica de palatofaringoplastia (PPP na sigla em inglês) conseguiu resultados similares às técnicas cirúrgicas mais invasivas, com menor risco de complicações.
Baseado num estudo clínico, o Hospital de S. João afirma que "o tratamento levou a uma diminuição de 88 por cento nos casos de apneia do sono".
Acrescenta que cerca de 30 por cento dos adultos ressonam e, apesar de na maior parte dos casos isto não significar um problema sério, estima-se que em cinco por cento dos indivíduos o ressonar esteja associado a uma doença, denominada apneia do sono.