Tráfico humano. Mário Costa demite-se do cargo de presidente da Mesa da Assembleia Geral da Liga

por RTP

Na sequência da investigação da RTP que deu conta de dezenas de menores estrangeiros alegadamente retidos na academia de futebol Bsports, em Riba D'Ave, concelho de Famalicão, o secretário de Estado do Desporto defendera o afastamento de Mário Costa do cargo de presidente da Mesa da Assembleia Geral da Liga. Em comunicado enviado às redações, na quarta-feira, a Liga confirmou o pedido de demissão apresentado pelo dirigente desportivo.

"No decurso da reunião de urgência convocada pelo Presidente da Liga Portugal, Pedro Proença, com os presidentes dos três Órgãos Sociais da instituição – Mesa da Assembleia Geral, Conselho Jurisdicional e Conselho Fiscal -, o Dr. Mário Costa informou da decisão de renunciar ao cargo de Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Liga Portugal", lê-se na nota de imprensa também disponível no site da Liga.
Após a demissão "serão, agora, desencadeados os procedimentos estatutariamente previstos para garantir a normal gestão e a estabilidade do funcionamento da Instituição".

A investigação da RTP deu conta de cerca de uma centena de estrangeiros alegadamente retidos numa Academia de Futebol em Riba D'Ave.

Os jovens viviam num regime de internato depois de chegar a Portugal atraídos por contratos de formação e com promessas de serem colocados em clubes das Ligas Nacionais. Os pais pagavam entre 600 a 1.300 euros por mês.

A academia em causa retinha os passaportes e só podiam sair das instalações com autorização superior.

O presidente da Assembleia Geral da Liga de Clubes, Mário Costa, também presidente da Bsports Portugal, é suspeito de tráfico de menores, tendo sido constituído arguido. Já esta quarta-feira, foi pedida a sua demissão pelo secretário de Estado do Desporto.

Na segunda-feira, após buscas realizadas à residência do dirigente desportivo e na academia de futebol pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, Mário Costa enviou uma nota às redações a afirmar que aguardava “serenamente o desenrolar das investigações certo e confiante de que se apurará a verdade dos factos que revelará que nenhum ilícito criminal foi praticado”. 
"Denúncias caluniosas"

O advogado de Mário Costa, Raul Soares da Veiga, esclarece que a decisão de renunciar ao cargo de presidente da mesa da Assembleia Geral tem como propósito "resguardar a Liga Portugal e os Clubes de qualquer eventual prejuízo de imagem".

No comunicado a que a RTP teve acesso, o advogado considera que o processo tem sido "amplamente noticiado" e deriva de "deturpações e denúncias caluniosas". A decisão, que "já tinha tomado", foi comunicada na reunião com o presidente da Liga, com o presidente do Conselho Fiscal e com o presidente do Conselho Jurisdicional.

"Um qualquer dano de imagem seria o contrário do que o Dr. Mário Costa tem defendido e por que vem lutando há sete anos", refere.

O representante de Mário Costa refere ainda que o cliente "voltará a colaborar com a Liga com o mesmo entusiasmo de sempre" quando "tudo estiver esclarecido e o processo for arquivado".
Operação "El Dourado"

Em comunicado, o SEF anunciou esta quarta-feira que foram constituídos arguidos dois cidadãos portugueses e cinco sociedades. A operação "El Dourado" realizou-se a 12 de junho, tendo sido sinalizadas "47 vítimas de tráfico de pessoas", das quais 36 menores e nove adultos.

O SEF acrescenta que foram colocados sob proteção do Estado português. Os menores foram acolhidos em instituições da Segurança Social, por indicação da CPCJ e do Tribunal de Família e Menores de Vila Nova de Famalicão.

No total, foram identificados 85 estrangeiros, entre adultos e menores. Nestas buscas"foram apreendidos documentos, nomeadamente passaportes e cartões de residência que não estavam na posse dos seus titulares".

Ainda de acordo com o SEF, estiveram envolvidos nesta operação 52 elementos do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, acompanhados de uma magistrada do Ministério Público, que coordenou a operação.
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