Tradição em Viseu, com Dança dos Cus, caretos e bairros rivais

por Agência LUSA

Tradições como a "Dança dos Cus", os caretos de amieiro e a rivalidade entre bairros tornam únicos alguns festejos carnavalescos do distrito de Viseu, que as organizações teimam em não deixar "abrasileirar".

Apesar de não terem reis nem rainhas "importados" do Brasil ou das telenovelas, os Carnavais de Cabanas de Viriato (Carregal do Sal), Lazarim (Lamego) e Canas de Senhorim (Nelas) atraem todos os anos milhares de pessoas, mais apegadas às tradições do que aos ritmos do samba.

Em Cabanas de Viriato a música é outra, a valsa, ao som da qual, alinhados em duas filas, os foliões percorrem as ruas da vila, batendo com os traseiros nos dos vizinhos quando o ritmo acelera.

Apropriadamente, a peculiar e centenária tradição, que remonta a 1865, ficou conhecida como "Dança dos Cus".

"Aqui somos todos atracção, somos todos reis e rainhas", frisou à agência Lusa Fernando Campos, da Associação do Carnaval de Cabanas de Viriato.

Na sua opinião, é o facto de este ser um Carnaval espontâneo, onde "as surpresas acontecem sem serem organizadas", que leva muitos forasteiros a Cabanas de Viriato.

"Nós só temos de promover o Carnaval e divulgá-lo. Gastamos bem menos (entre 25 a 30 mil euros) do que organizações de outros pontos do país e também cá temos milhares de pessoas", acrescentou.

No domingo, são os mais pequenos que protagonizam a dança e, na segunda e terça-feira são os adultos, que percorrem no primeiro dia a zona Norte da vila e no segundo a zona Sul, num total de cerca de cinco quilómetros.

Na pequena aldeia de Lazarim, no concelho de Lamego, saem nesta quadra à rua os caretos, máscaras tradicionais esculpidas pelas mãos de artesãos locais em madeira de amieiro.

"No domingo já se podem ver alguns caretos, mas na terça-feira aparecem às dezenas", contou à Lusa Hélder Ferreira, da PROGESTRUR - Associação para a Promoção, Gestão e Desenvolvimento do Turismo Cultural Português.

Segundo Hélder Ferreira, por ano são esculpidas "até 20 máscaras novas pelos artesãos locais, que se juntam às dos anos anteriores".

Em anos anteriores, no domingo de Carnaval realizava-se um desfile com carros alegóricos e Zés Pereiras, mas este ano esta tradição será substituída por um desfile etnográfico, deixando à solta pelas ruas de Lazarim meliantes, bárbaros e outros figurantes.

"O desfile começava a ficar um pouco abrasileirado e quisemos acabar com isso", justificou.

O fim-de-semana será também rico em gastronomia, realizando-se no sábado uma patuscada de porco aberta a todos os visitantes.

No domingo - acrescentou - "mantém-se toda a animação e, além do desfile etnográfico, haverá a brincadeira do chocalho: de cada vez que se fizer ouvir, haverá cerveja de graça para todos".

Na Terça-feira Gorda haverá a provocação entre comadres e compadres, com um desafio verbal entre rapazes e raparigas, reunindo- se o povo para a leitura pública dos testamentos.

à leitura do testamento segue-se a queima da comadre e do compadre, dois bonecos que estoiram com o fogo, numa festa que pretende expulsar os maus pensamentos e purificar as mentes.

No fim, há caldo de farinha e feijoada (dois pratos típicos da região) grátis para todos, oferecidos pela população, que se divide pelo bairro da Vila e do Padrão, rivalizando para ver quem tem melhor comida.

Também em Canas de Senhorim é a rivalidade entre bairros - o do Paço e o do Rossio - que apimenta os festejos carnavalescos, que contam já com mais de 400 anos.

Centenas de figurantes participam nos dois corsos que desfilam pelas ruas da zona antiga da vila, no domingo e na terça-feira.

Outro dos momentos altos é a "Segunda-feira das Velhas", com o encontro no cruzamento denominado "quatro esquinas" de pessoas dos dois bairros rivais que, vestidas a rigor, trocam provocações escritas em tecido e papel e balões de água com farinha à mistura.

Já a quarta-feira de Cinzas é tempo de confraternização, numa "batatada" (batatas com bacalhau e couves) organizada pelas associações.

PUB