O presidente do Conselho de Administração da TAP foi a quinta personalidade a ser ouvida pela comissão parlamentar de inquérito, na terça-feira. Durante as mais de seis horas de audição, Manuel Beja criticou o "excesso de controlo" do Governo e a "falta de bom censo" da CEO da TAP. O chairman da TAP condenou ainda a "inação" da tutela e defendeu que a saída de Alexandra Reis da empresa "poderia e deveria ter sido evitada".
Durante a longa audição, que se prolongou por mais de seis horas, Manuel Beja não poupou nas críticas ao Governo e à CEO da TAP, Christine Oumières-Widener.
Logo na sua declaração inicial, o chairman da TAP começou por elogiar o papel da tutela durante os tempos difíceis vividos durante a pandemia da covid-19. Mas foram poucos os elogios dirigidos ao Governo, que acusou de “perder o norte”.
“Este exercício da tutela política começou muito bem, mas perdeu o norte ao longo do caminho”, afirmou, acusando o Executivo de se ter intrometido cada vez mais na vida da companhia aérea.
"O princípio da não interferência foi sendo progressivamente substituído pela prática do controlo", afirmou Manuel Beja. O presidente não executivo acusou o Governo de exercer "excesso de controlo" na gestão da TAP, ao mesmo tempo que a sua "inação" inviabilizava uma gestão saudável. O presidente do Conselho de Administração disse ainda que a vontade do Ministério das Infraestruturas foi muitas vezes "desacelerada" pelo "imobilismo" do Ministério das Finanças, o que pôs em causa a agilidade da TAP.
O chairman da TAP diz ter alertado várias vezes os seis membros do governo das duas tutelas com quem trabalhou “para a necessidade de introduzir melhorias na liderança da TAP”. “Fi-lo propondo a adoção das medidas que me pareciam adequadas e necessários. Sem resultados”, declarou.
Manuel Beja disse mesmo que tentou contactar Pedro Nuno Santos - na altura ministro das Infraestruturas - por seis vezes, “mas sem sucesso”.
“Saída de Alexandra Reis podia e devia ter sido evitada”
Um dos motivos que levou Manuel Beja a tentar contactar Pedro Nuno Santos foi, precisamente, o processo de saída de Alexandra Reis.
Manuel Beja diz ter assistido a uma “tensão crescente e divergências” entre Christine Oumières-Widener e a ex-administradora da TAP e que tentou informar o Governo, mas sem sucesso.
Depois das tentativas falhadas de entrar em contacto com Pedro Nuno Santos, Manuel Beja solicitou uma reunião com o ministro das Finanças para abordar os problemas na gestão da TAP. A reunião só aconteceu a 10 de janeiro, oito meses depois do pedido inicial.
“Acreditei na altura – e continuo a acreditar – que a saída poderia e deveria ter sido evitada”, concluiu.
“Não estava consciente de qualquer ilegalidade”
O chairman da transportadora aérea diz que a saída da ex-administradora resultou de uma iniciativa da CEO e que procurou “estabelecer pontos de entendimento entre as duas”.
Manuel Beja diz que sempre discordou da rescisão de Alexandra Reis e que procurou evitar a sua saída da empresa.
O chairman da TAP garante que não participou nas negociações para a saída de Alexandra Reis e que apenas teve conhecimento do texto do acordo de saída de Alexandra Reis da empresa a 4 de janeiro. Mesmo sendo contra, Manuel Beja assinou o acordo.
“Não cumprir uma instrução do acionista num tema que é da exclusiva competência deste, seria passível de ser considerada uma quebra do meu dever de lealdade, e a minha recusa em assinar o acordo não pararia a implementação do acordo de saída”, justificou.
Questionado sobre o valor da indemnização atribuída a Alexandra Reis, Manuel Beja explicou que na altura assumiu, “por boa-fé”, que os pareceres jurídicos que recebera eram os corretos.
O presidente do Conselho da Administração da TAP diz ter recebido a notícia do seu despedimento através de um telefonema do ministro João Galamba na manhã do dia do anúncio público, mas sem qualquer referência à justa causa.
O responsável da companhia aérea garantiu estar seguro quanto ao papel que desempenhou e que está determinado em defender a sua honra, acreditando que o "despedimento injustificado" dos dois presidentes da TAP se deveram a "questões de conveniência política".
“Falta de bom senso e razoabilidade"
O presidente do Conselho de Administração também não poupou nas críticas a Christine Ourmières-Widener, que acusou de ter uma liderança "pouco servidora" e com "falta de bom senso e razoabilidade".
Durante a audição, Manuel Beja recordou o episódio em que descobriu que a frota da empresa era utilizada por pessoas de fora da TAP. O presidente do Conselho de Administração da TAP diz ter confrontado Christine Ourmières-Widener sobre o uso de um motorista da companhia aérea pelo marido da CEO e revelou não ter gostado das justificações.
“Perdi a paciência”, disse Manuel Beja, acrescentando que os argumentos utilizados por Christine Ourmières-Widener na altura “revelavam uma liderança pouco servidora e uma falta de preocupação com o bom senso e a razoabilidade”.
O presidente do Conselho de Administração foi a quinta personalidade a ser ouvida pela comissão parlamentar de inquérito, constituída por iniciativa do Bloco de Esquerda, depois da IGF, do administrador financeiro, Gonçalo Pires, da presidente executiva e da ex-administradora Alexandra Reis.